domingo, 29 de dezembro de 2013

Promessa para 2014

Estive aqui pensando... sempre tive paixão por essa ilustração de Carter Goodrich, feita a lápis de cor. Inclusive foi ela que usei de base para todos os exercícios realizados na aula "Técnicas de Ilustração", ministrada por Amador Perez na PUC, que cursei há não muito tempo como ouvinte, ao lado dos alunos do curso de Design.



Minha promessa para 2014 é tentar trabalha-la para obter um novo pano de fundo para o blog. Afinal, o desenho tem tudo a ver com o que falamos aqui, não?, ameaças ocultas às crianças.

Os problemas das chupetas






Meu post de final de ano divide com os leitores do blog um artigo sobre os impactos negativos das chupetas.

Durante a pesquisa sobre as mamadeiras, deparei com o fato de que as chupetas provocavam estragos muito semelhantes, mas as exigências acadêmicas me conduziram a focar em apenas um produto.

Neste artigo, "O que toda mãe (e pai) deveria saber antes de oferecer uma chupeta para seu bebê", escrito por Andreia Stankiewicz, odontologista, encontramos argumentos consistentes que devem ser conhecidos antes de uma decisão cultural (automática, acrítica) de oferecer uma chupeta (pacifier, em inglês) a um bebê. Ele está no blog de Ligia Moreiras Sena, "Cientista que virou mãe".

 
Como colaboração, trago informações sobre a chupeta Pacidol, descoberta por minha filha em uma viagem à França. O produto consegue piorar ainda mais a situação, por oferecer água açucarada (a ser sugada por intermédio da chupeta). Ela me trouxe de "presente" uma caixa, para a minha coleção de "Baby killers": http://www.eurekasante.fr/parapharmacie/vidal/produits-id12749-PACIDOL.html

Durma-se com um barulho desses e uma excelente entrada em 2014!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Valeu Papa Francisco!

Chego em casa e sou informada de que Papa Francisco defendeu que as mães amamentem em p´´ublico :o)

Valiosas palavras que hão de repercutir mundialmente, independente de crenças. ´´E disso que precisamos, de vozes que repercutem, dizendo coisas importantes :o)

Veja:
http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2013/12/19/em-entrevista-papa-francisco-defende-o-aleitamento-materno-em-publico.htm

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Resenha de "Amamentação e o desdesign da mamadeira" em revista online de Design

É com muita satisfação que compartilho aqui o link do segundo release publicado sobre o meu livro.

Desta vez, a jornalista especializada em design Ethel León é a autora.

Agradeço por sua análise e acredito que ela colabore, em muito, para referendar o assunto junto às escolas e profissionais do Design.

http://www.agitprop.com.br/?pag=leitura_det&id=183&titulo=leitura

A Revista Agitprop é uma publicação de referência para a área e recomendo também que seja feita a leitura da matéria sobre a proibição dos andadores infantis, neste mesmo número.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Um, do, lá, si ... já!

Não sei porque, mas era assim que a gente contava, com os olhos bem apertados e tapados pelo braço, quando brincávamos de pique-esconde. E essa foi a lembrança que me veio hoje cedo, quando pensava na maneira que poderia encaminhar esse post.

Pique-esconde é uma brincadeira. É fácil e divertido sair procurando aqueles que se esconderam. E cada encontro, cada descoberta de esconderijo, desata a alegria nas crianças.

Mas não é difícil também a gente se propor a entender outros esconderijos... O que proponho aqui e agora, nós poderíamos nomear de uma grave "brincadeira corporativa".

Primeiro assista a esse vídeo de uma cientista russa, contando sobre o quão preocupante é o fato de as mulheres não amamentarem em seu país, e o quanto a mamadeira AVENT, da Phillips, tem ajudado as mães a amamentarem seus bebês. Mas guarde esta última frase, tá?:
http://bit.ly/baby-russia

Agora observe esta imagem, o lançamento da máquina NESPRESSO de preparação de mamadeiras (!), lançada acho que em 2011. Note que as mamadeiras são da marca AVENT também.



Pra quem não sabe ainda, informo que a NESpresso é da NEStlé (!). E convido a revermos aqui o anúncio em que George Cloney, ator muito conhecido por sua capacidade profissional, beleza e por seu engajamento político e social, é o protagonista:

http://www.youtube.com/watch?v=CIbwrwWDXfc

Daí vem a pergunta: será que ele sabe com quem está lidando? A lógica nos faz esperar que uma figura pública há de estar de acordo com os princípios da empresa para a qual faz publicidade.... É mesmo difícil pra gente entender a conformação dos conglomerados corporativos. Só que as pessoas envolvidas com a produção/comércio/venda desses produtos não poderiam estar alheias a ela. Este quadro não é atualizado, mas a NESPRESSO está lá e não me surpreenderia se descobrisse íntima ligação entre a Nestlé e a Phillips (AVENT):


Daí, pra colocar ao lado do primeiro anúncio que vimos aqui (mamadeira AVENT), eu chamo uma publicidade não muito antiga da Nestlé (2008). Composta por comercial para TV e anúncios impressos em revistas de grande circulação, a empresa se dizia a favor do aleitamento materno. Mas vejamos como (!):


 
A pergunta que fica é:
É possível se proclamar a favor da amamentação fazendo justo o contrário?, ou seja, incentivando o consumo de leites artificiais e mamadeiras?
É!
E é essa "brincadeira corporativa" que nos convocam a jogar...
 
Só pra ficar bem claro que, por milhares de motivos, a mamadeira é um produto nocivo, recoloco aqui as imagens que ilustram um de seus impactos, o fisiológico: para se alimentar por mamadeira, o bebê precisa anular tudo o que a natureza lhe deu de domínio da sucção (projeção da língua para fora, de maneira a estimular a saída de leite do seio) para elevar a língua até o céu da boca, acionando o bico da mamadeira.
 
 
 Pique-esconde é pra crianças, pra gente. Não pra manipular e zombar da vida das pessoas em prol de interesses comerciais. A única coisa que pode nos proteger é a informação. Portanto, nada de fechar os olhos pra contar, porque com isso não se brinca. 

domingo, 15 de dezembro de 2013

Desobediência civil


Compartilho este texto que recebi hoje de uma amiga mexicana, Ana Charfén.

Ele é bastante expressivo da situação em que se encontram hoje as mulheres que amamentam: um misto de enfrentamento e resistência ativa.

Não gosto da arma que aparece no cartaz. Acho que um escudo ou algo assim seria mais adequado...


http://humanamenteincorrecta.blogspot.com.es/2012/10/amamantar-un-acto-de-desobediencia-civil.html?m=1

E vejam que bom esse vídeo mexicano!
https://www.facebook.com/photo.php?v=623607737702908&set=vb.470382373025446&type=2&theater

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Quanta coisa....


Muitas coisas têm acontecido nos últimos dias:

- Uma matéria na Pais & Filhos acabou sendo retirada da revista online, provocou a retratação dos editores após firme manifestação de pessoas ligadas à defesa da amamentação, seguida de cartas da SBP e da Unicef em repúdio ao incentivo do texto ao consumo de fórmulas infantis por mamadeira, na "voz" de um personagem bebê;

- Manifestações também contra a naturalidade com que a ideia de dar mamadeiras aos filhos foi abordada em uma publicidade dos Supermercados Zaffari, do RS;

- O discurso altamente questionável e falacioso do Dr. José Bento, ginecologista que assessora (!) o programa Bem Estar, da TV Globo, numa série sobre as fases da gestação, em que "conselhos" absurdos foram dados, como passar limão nas mamas ou dar complemento a bebê prematuro (quando este estava bem orientado por seu pediatra a ter acesso em livre demanda à amamentação), só que de colherzinha. Eu assisti isso e, na hora, liguei pra TV Globo para fazer uma queixa. A pessoa me pediu todos os dados, me ouviu um pouco e, quando me dei conta, a ligação caiu. Caiu? É preciso ter muita atenção com discursos pretensamente pró-amamentação, pois eles podem, na verdade, dizer o contrário do que aparentam.

- a leitura que fiz de um boletim da IBFAN, de 2012: "Lucrando com o leite materno? Da ama de leite para os bancos de leite e para a distribuição pela internet", de Gillian Weaver, cujo link é http://www.ibfan.org.br/documentos/aa/doc-759.pdf. Impressionante e revoltante a capitalização da orientação da OMS, pois muita gente pelo mundo vem dando leite materno sim, só que ordenhado com bombas tira-leite (comércio) e administrado por mamadeiras (comércio). E muitas outras notícias que demonstram o quanto estamos cegados pela cultura industrial.

- Também me deparei, em conversas que tive em São Paulo, com temas como a terceirização da infância, a violência obstétrica, um mundo de complicadores que clamam pela atenção e ação de todos, a nível pessoal e coletivo.

E na noite de ontem, a entrevista do Dr. Daniel Becker ao programa Roda Viva veio dar um alento, tocando direto nos problemas e trazendo uma posição comprometida e sensata a esse momento muito louco que estamos vivendo.

http://tvcultura.cmais.com.br/rodaviva/roda-viva-discute-saude-da-crianca-e-educacao-dos-filhos-nos-dias-atuais

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

As fotos de São Paulo


Com a jornalista Ceila, Ana Basaglia (minha anfitriã) e Rosana De Divitiis, autora da apresentação do livro.


Parte da turma que compareceu. Em pé: Mário e Rosana, Ana, eu, Terezinha (Bauru), Cacá. Sentados: Flávia, seu menino e suas meninas, Fabíola Cassab e a filha de Rosana e Mário.


Caroline Dias, a minha editora (Editora Reflexão).






Na reunião da Matrice, na Casa do Brincar, com essas lindas mães e seus bebês :o)

domingo, 8 de dezembro de 2013

Para George Clooney

Escrevo este post para George Clooney na esperança de que a citação de seu nome o faça algum dia chegar à seguinte pergunta (nesse meu inglês macarrônico):

George Cloney, do you know that Nespresso is a Nestlé's company? And do you know about Nestlé?
 I think you don't know...

E assim foi :o)


Na quinta-feira, dia do lançamento do livro em São Paulo, eu até achei que fosse desmaiar no Aeroporto Santos Dumont, de tão quente que estava no Rio. No avião, veio o refresco do ar-refrigerado, mas durou pouco: São Paulo estava tão quente quanto o Rio e ... choveu, choveu muito forte. Isso fez com que muita gente não tenha conseguido comparecer à Livraria da Vila.

Uma pena, mas isso não apagou o bacana do evento. Teve gente que chegou lá antes mesmo de a chuva cair, gente que a enfrentou e aqueles que apareceram depois de a chuva dar uma trégua. O resultado foi uma noite memorável, colorida por pessoas importantíssimas pra mim, gente nova muito legal, bebês dentro e fora das barrigas de suas mães e crianças de várias idades pra alegrar a festa :o)

No dia seguinte, participei da roda de mães da Matrice, na Casa do Brincar, e à noite saí pra jantar com uma amiga até então virtual (!).

Desses encontros e das intensas e incríveis conversas que rolaram, muitas novas informações, conscientizações e reflexões surgem pra mim.

Uma delas é que quando uma mulher engravida, vem na cabeça a ideia de que ela terá que parar sua vida produtiva: mais cuidados durante a gestação que podem influenciar em seu trabalho, a licença maternidade e o tempo que a partir daí dedicará aos cuidados com o bebê, em todas as suas fases. Quando ela não é empregada em algum lugar, o terá que parar permanece, diga-se de passagem.

Eu pensei desse modo nos meus tempos de gestação. Me embaralhei toda pra enfrentar esse momento, pois me pesava de todas as formas esse parar. E no momento de ter que voltar pro trabalho, com o final da licença, todas as mães me compreenderão quando eu revelar que eu queria ficar parada pra cuidar da minha filha, céus.

Parada. O que acontece com a gente, que a gente embarca tão de cabeça nesses valores inventados pela cultura, transmitidos pela mídia e reproduzidos pela sociedade? Serão esses realmente valores? O que representa esse ficar parada? Caramba, ao termos filhos e zelarmos por eles estamos exercendo uma das coisas mais valiosas que cabe a nós fazer!

Eu amo o senso crítico. Se pudesse, eu me casaria com ele (!) Mas como é difícil a gente pensar criticamente recebendo tantas informações que nos doutrinam pro lado dos interesses daqueles que querem nos ter bem domados, obedientes às suas ordens....

E é por essas e outras que percebi a dimensão política da maternidade. E o quanto ela vem sendo exercida pelas mulheres. Porque o significado de ter um filho acorda na gente coisas que estão para muito mais além do que a força da informação que nos cerca. Eu poderia aqui citar palavras como o amor, mas recorro a outras, como a responsabilidade, o compromisso, o bom senso, a integridade, esses sim valores. E nisso incluo também, claro, os pais, homens que se transformam completamente sob a égide dos mesmos sentimentos, embora eu saiba que muitas mulheres e homens têm filhos e permanecem absortos em seus mundos anteriores, sem abrir espaço pra essa revolução.

Quem me conhece, sabe que sempre procurei uma bandeira, algo pra poder balançar, algo pelo que lutar. Mas nunca me interessei suficientemente pelo que se me apresentava, pois política, pra mim, é direito e dignidade. É inventividade também. É poder de inovar, mesmo que a inovação consista em simplesmente reconhecer que aquilo de que dispúnhamos, lá atrás, é o mais genial, o indubitavelmente melhor.

A vida é dura. E qualquer vivente sabe disso.

A felicidade até existe, mas precisamos ser muito espertos para percebê-la e valorizá-la nos momentos fugidios em que ela nos visita.

E daí já tive outra ideia e vou colocar aqui um poema que escrevi para Marise Maio. Meu livro é dedicado postumamente a ela, que morreu precocemente, não sem antes me proporcionar uma amizade intensa, interrompida, recuperada e plena de admiração. Acho que o poema fala um pouquinho da maneira com que a chegada de um filho pode nos dotar para uma revolução, do jeito que uma revolução pode e deve ser:

 
Lutar não há de ser esperar
Não há de ser armado
De ser preparado, lutar

Lutar não há de ser ataque
Nem de ser defesa
Tampouco há clareza em lutar

Não é briga de foice
Nem com flores lutar não dá
Há de ser tonteira
Dúvida, vontade
Há que ter coragem, lutar.

E é isso. Nessa viagem eu me deparei com gente ativa, que luta há muito ou pouco tempo contra o engodo das indústrias de leites artificiais e mamadeiras, contra a violência obstétrica, contra a cultura que quer nos pasteurizar, contra a terceirização da infância e a infância invizibilizada, contra as tendências comerciais, em defesa de reais valores.

Não vou citar o nome de ninguém. Só mesmo dizer: muito obrigada.
(problemas com inserção de imagens me impedem de colocar lindas fotos aqui...)

domingo, 24 de novembro de 2013

Lançamento do livro em São Paulo


Com muita alegria anuncio aqui o lançamento do livro em São Paulo, no dia 5 de dezembro.

Vai ser muito especial rever amigos, conhecer pessoas com quem so tenho contato via computador e levar adiante esse projeto de dividir meus achados de pesquisa com mais e mais gente.

Agradeço a Ana Basaglia e Fabíola Cassab por estarem agitando tudo.

Será um prazer encontrar com os leitores do blog que puderem comparecer!

Até!


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

"O desdesign da mamadeira" na Universidad Autónoma Metropolitana



Registro aqui a palestra que fiz na Universidad Autónoma Metropolitana de Cuajimalpa, na Cidade do México, no dia 6 de novembro.

Depois de desenvolver minha pesquisa de doutorado, entendi que tenho o compromisso de dividir meus achados com o maior número possível de pessoas, e tento criar e aproveitar todas as oportunidades de fazê-lo.

Conheci Brenda Garcia, designer, no MX Design Conference de 2009, quando apresentei junto a Vera Damazio um paper sobre o problema das mamadeiras, antes da defesa. A palestra de Brenda sobre design e sustentabilidade provocou nossa aproximação e desde então temos mantido contato pelo computador: pude acompanhar seu casamento, o nascimento de sua linda filhinha, comentar minha alegria com o aplicativo Aleitamento e também contribuir para um trabalho de suas alunas da UAM sobre o tema.

Como iria ao México a trabalho (atividades com colegas do design na Universidad Iberoamericana), escrevi para Brenda oferecendo uma palestra para seus alunos. Ela gostou muito da ideia e conseguimos agendar.

Foi muito especial tratar do assunto com gente tão interessada. Brenda gravou alguns trechos da conversa que rolou entre todos depois, mas aquela encrenca de incompatibilidade entre meus computadores me impede de disponibilizar tudo aqui.

Um de meus livros ficou para a biblioteca da escola e o outro nós sorteamos ao final :o)


Enfim, o trabalho é de formiga mas tá indo. Obrigada, Brenda Garcia, pela oportunidade!

domingo, 17 de novembro de 2013

Berjuan, uma inovadora fábrica de bonecas



Eu iria à Espanha em outubro, e alguns meses antes planejei visitar a fábrica do Bebé Glutón. Escrevi pra lá e comecei o contato com César Bernabeu.

Onil é uma cidade ao sul do país e planejamos colocá-la em nossa rota, pois conhecer uma fábrica de bonecas sempre foi um sonho pra mim, que dirá a fábrica da primeira boneca industrial que, ao invés de se alimentar por mamadeira, foi projetada para simular a amamentação.


Funciona assim: a menina veste uma blusinha frente-única onde, no lugar dos seios existem flores com sensores escondidos. A boneca é movida à pilha e, quando ligada, começa a chorar. No que aproximamos sua boca das florzinhas, ela começa a fazer o movimento de sucção. Uma delicadeza. Depois de colocada na posição vertical, arrota!

Na época em que eu estava escrevendo minha tese, pedi a um ex-aluno que a comprasse e minha sobrinha a trouxe pra mim. Desde então, sempre que faço palestras sobre o assunto, procuro levá-la comigo e ela provoca a maior sensação!

Na Berjuan, César nos recebeu em uma sala linda, o showroom da fábrica, lotado das coisas mais insuportavelmente :o) desejáveis em termos de boneca.


Levei meu livro de presente pra eles e ganhamos uma visita completa às instalações, percorrendo cada um dos setores pelos quais passa uma boneca para ser produzida. Essa parte não fotografamos.... o fato é que é muito emocionante compreender cada milímetro da produção de um produto desses e os olhos se preocuparam em VER.

E em cada setor, César nos apresentava alguém de sua família. Seus primos, tios e tias, irmãos, pais. É uma empresa estritamente familiar. Não avistei uma pessoa sequer que não fosse integrante da família em toda a fábrica. Em post anterior coloquei o vídeo do processo de produção da fábrica, mas o repito aqui pra facilitar:

Cabe aqui esclarecer que Onil, a cidade, era a "Cidade das bonecas". Hoje há outros produtos sendo fabricados lá, mas antes eram só bonecas. César nos contou que as mulheres, praticamente todas, trabalhavam nas fábricas (de bonecas) e tinham que se separar precocemente de seus filhos, desmamando-os antes do momento desejado. Fiquei muito impressionada com isso, com o fato de - justo numa cidade com esse histórico, ter surgido uma boneca que mama no peito! Entendo isso como uma "virada" histórica, uma demonstração do quanto pode ser produtivo reverter uma situação difícil, mudando o rumo das coisas.

Mas quem fundou a Berjuan? Mulheres? Apenas elas trabalhavam nas fábricas, afinal fábrica de bonecas é coisa de mulher... Sim, soubemos que os homens se recusaram a trabalhar nas fábricas por muitos anos. Até que o pai e o tio de César decidiram quebrar esse cânone e fundaram a Berjuan. Ber, de Bernabeu; Juan porque todos os homens da família - por tradição, têm esse nome, composto com outros.

Vimos cada membro da família Bernabeu em sua estação de trabalho, ora colocando cabelos ou olhos nas cabecinhas das bonecas, ora desenhando as roupinhas que vestirão, empacotando-as, cuidando dos contatos comerciais, absolutamente tudo.

Nos receberam com muito carinho e, ao final, foram pra porta principal posar para uma foto que, confesso, me emociona sempre rever. Porque não visitamos uma indústria, fria, tecnológica, focada na produção, mas um berço cuidadoso desses brinquedos que acompanham de pertinho a vida das crianças. Não são um produto como os outros: são presentes que nos ensinam muito sobre a vida, as relações, os valores e os afetos.


Depois da foto, fomos almoçar com nosso anfitrião, que me disse:  _ Se você gostou da fábrica, aposto que vai delirar agora!

Simplesmente ele nos levou para o Museu das Bonecas, uma instituição incrível da cidade, da qual é presidente. Salas, andares e mais andares com uma coleção de todos os tempos, produção de toda a cidade, primorosamente organizada e disposta. Fotografamos tudo, mas como prossigo com alguns problemas no carregamento de imagens, coloco aqui alguns registros de suas etapas de fabricação, técnicas utilizadas no decorrer dos tempos.




E como se nao bastasse toda a ousadia de lançar uma boneca que NAO TOMA MAMADEIRA (eles foram duramente criticados por parte da opiniao pública mundial na época do lançamento, por lançarem uma boneca que contraria a lógica já naturalizada do consumo. Só que depois também foram premiados por fazê-lo!), o museu lançou um programa em que as crianças que o visitam sao recebidas por bonecas que ganham vida, ali, na hora. Sao atrizes muito bem caracterizadas que conduzem a meninada pelas salas. E na época do Natal, a casa recebe os três Reis Magos. Existem aposentos exclusivos pra eles no museu, com camas e pijamas. Os visitantes sao incentivados pelas bonecas de verdade a levarem um de seus brinquedos para doaçao e, no dia de Natal, os Reis Magos acordam de uma noite muito bem dormida em seus aposentos, vao até a janela e distribuem aquelas doaçoes para uma "galera" de meninos e meninas que os esperam la embaixo.



Bom, não consigo colocar a foto do quarto dos Reis Magos....

Enfim, sobre Papai Noel eu não afirmo nada. Mas garanto que Onil, a Berjuan, o Museu da Boneca, Fabíola (que conceituou e desenvolveu os programas na instituição) e a família Bernabeu existem. E este é um lindo alento, prova de que inovação e tradição podem conviver muito bem a partir de atitudes corajosas e apaixonadas por aquilo que se faz.

sábado, 16 de novembro de 2013

Tanta coisa....

Muita coisa pra contar, pra comentar e mostrar desses tantos dias em que estive fora, viajando ora de férias, ora a trabalho.

Mas como prossigo com problema para postar fotos, vou aqui me concentrar em comentar os últimos fatos de que tomei conhecimento sobre esse nosso assunto: a censura à mãe que amamentava seu filho no shopping de Porto Alegre, a ridicularização à que foi exposta a brasileira campeã em doação de leite materno, o programa inglês de dar uma bolsa-incentivo (grana) às mulheres que amamentarem em público http://www.aleitamento.com/amamentacao/conteudo.asp?cod=1859.

Na verdade, devo confessar que nesses dias, à frente dos meus pensamentos, está a tragédia incomensurável das Filipinas. Tudo o que vejo, ouço, leio, usa adjetivos como "horror", pessoas a esmo perambulando entre destroços, e só consigo tentar imaginar algo perto do que esteja se passando por lá quando me lembro do filme "Ensaio sobre a cegueira", de Fernando Meirelles, sobre a obra de Saramago. Mas sei que o caso deve estar muito, muito pior.... E como toda a situação não está na nossa frente, podemos não ficar paralisados e, assim, seguir com a vida. O que não deixa de ser uma espécie de cegueira: boa pelo lado de podermos seguir; ruim pelo lado de podermos nos isentar.

Eu acho que cegueira tem tudo a ver com os tais últimos fatos que citei antes de falar das Filipinas. Só que com outro nome: falta de informação. Não saber pode ter tudo a ver com estar cego, não ver uma coisa que está lá e, sem vê-la, considerar que a verdade reside naquilo que encobre essa coisa.

As pessoas não sabem o que é o leite materno. Tenho certeza de que, se soubessem, e se soubessem paralelamente dos problemas dos leites artificiais e das mamadeiras, não censurariam uma mãe que amamenta seu filho num shopping ou em qualquer outro lugar. E não ridicularizariam uma mulher que, quase milagrosamente, tem uma produção de leite materno farta, que a capacita a doá-lo em quantidades recordes para os bancos de leite. E não precisariam receber dinheiro de programas governamentais pra dar de mamar aos seus filhos, porque estariam fazendo isso pelo bem deles e de si próprias, na frente de quem quer que fosse, e em qualquer lugar também.

A informação, eu acho, substituiria com perfeição a proibição das mamadeiras e dos leites artificiais na Venezuela (porque proibir gera mercado negro e é coerção!) e esse programa inglês.

Cegueira sim, estamos cegados pelos discursos da indústria, das empresas que conseguem nos enganar há tantos anos, dizendo que seus produtos são melhores do que as nossas capacidades mais naturais, as que nos fazem sermos humanos.

Ontem no Facebook eu vi uma conversa que discutia o fato de que as mamadeiras ficavam também perigosas porque as empregadas domésticas e babás não as lavariam com todo o esmero necessário. E na discussão, muita gente se posicionou demonstrando saber muito bem que o problema não está em quem lava e em como lava, mas sim no fato de que a mamadeira é perigosa de qualquer jeito.

Daí, o que me dá alguma esperança é constatar que cada vez mais se fala sobre esse assunto, e que reações de esclarecimento vêm ocorrendo, como os "mamaços" e como o debate.

Isso é importante, bom. Muita gente já tirou a venda da frente dos olhos e o assunto está em pauta.






sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Uma notícia

Há tempos não escrevo aqui, mas o trabalho prossegue, intenso e diversificado.

Estive viajando e, na Espanha, localizei uma mamadeira toda transadinha chamada "Liberty" (!). Fotografei mas, agora, não consegui incluir a imagem aqui. Em breve resolverei isso.

Na Espanha, também, visitei a fábrica de bonecas que conceituou e fabrica o Bebé Glutón, a primeira boneca industrial que mama no peito. Foi sensacional visitar a Berjuan, onde fomos ultra bem recebidos por César e toda a sua família. Prometo para breve um post bem legal sobre o tema, mas adianto o link para um vídeo que eles fizeram, contando o passo a passo da produção de bonecas. Achei a iniciativa incrível!
 
Amanhã  embarco para o México, a trabalho, pela PUC. E apresentarei também "O desdesign da mamadeira" em uma universidade de design, embora não seja este o principal motivo da viagem.
 
E noticio que, com a valiosa ajuda de Ana Basaglia e Fabíola , farei o lançamento do meu livro em São Paulo. Depois confirmo tudo, mas deverá ser na Livraria da Vila, na Vila Madalena, no dia 5 de dezembro.
 
Até a volta então.
 

domingo, 29 de setembro de 2013

Grande indagação, praticamente um aforismo

As mamadeiras e os leites artificiais existem porque as mães não conseguem amamentar?
Ou as mães não conseguem amamentar porque as mamadeiras e os leites artificiais existem?
Cariny Cielo


Outro dia recebi esta frase-reflexão nos comentários de um post.
Ela é muito bem formulada:
- documenta o sistema em que nos inserimos, trazendo o sentido de dependência entre os fatores de cada formulação;
- expondo o fato de que as formulações se complementam numa equação que ilustra, ao mesmo tempo, o dilema das famílias e o tamanho do gigante contra o qual a prática da amamentação se depara.

Um convite ao pensamento crítico.

Aproveito para comunicar que estão em andamento as conversações para um lançamento do livro "Amamentação e o desdesign da mamadeira" em São Paulo, no início de dezembro, e em Porto Alegre, para começo de 2014.

domingo, 15 de setembro de 2013

Amamentação e o desdesign da mamadeira - o lançamento do livro



O lançamento do livro foi uma delícia :o)

Amigos queridos, "comparsas" de projeto, família, alunos, novas pessoas também, que se interessaram pelo tema e apareceram lá.

Não quero aqui citar nomes, porque ficaria complicado (eu iria querer falar longamente de cada uma dessas pessoas e isso me tomaria o dia inteiro). Fica meu agradecimento aos que foram e aos tantos que não puderam comparecer (mas que me deram uma força enorme em todo o processo), e ainda aos que divulgaram o livro pelas redes sociais. Junto a ele, as imagens e a resenha pra lá de especial que chegou antes mesmo do dia do evento.










Uma característica quase comum a todos os mamíferos que se dedicam ao estudo da amamentação é permanecer antenado cada vez que surge um novo texto ou evento, ou fato ou comentário sobre o tema.
 “Amamentação e o desdesign da mamadeira” é um livro.
Deparei com meu exemplar durante passeio pelas centenas de stands da ultima Bienal do Livro no Rio de Janeiro.
A autora é Cristine Nogueira Nunes.
Médica?
Não.
Enfermeira?
Também não.
Fonoaudióloga?
Igualmente não.
Psicóloga, Fisioterapeuta, Doula, Terapeuta Ocupacional, Educadora Perinatal, Gestora?
Nada disso.
Cristine é Designer “formada pela ESDI/UERJ, com mestrado e doutorado em design pela PUC-Rio, onde é professora desde 1993”, conforme afirma em seu blog mamadeiranuncamais.blogspot.com.br.
Designer?
Estou ficando velho demais.
Ou pronto demais para entender Sócrates em “só sei que nada sei”.
Sempre associei à palavra designer a outra: supérfluo.
Designer, na minha ignorância estupida que insiste em me acompanhar, sempre associei com frescura, coisa sem importância, argumento da indústria pra me fazer trocar de carro ou comprar coisas de que não necessito.
E ali estava eu em plena Bienal do Livro diante de um livro de titulo provocador e significado absolutamente desconhecido meu.
Mas afinal de contas que coisa é essa? Desdesign?
Como pode um profissional que lida com o tema Aleitamento Materno ficar diante de um livro cujo significado lhe é completamente incompreensível?
Aconselho àqueles que se sentirem provocados diante dessa situação angustiante a seguirem meu conselho: comprem o livro, leiam o livro.
Cristine tem uma linguagem ao mesmo tempo grande e fácil.
Uma Designer quando é lida por médico que desconhece sua linguagem técnica é extremamente atenciosa ao procurar ser clara e amigável. E nisso a Cristine me conquistou.
Rosana De Divitiis fazendo a Apresentação do trabalho?
Nossa.
A coisa então é séria. 
E tem pedigree.
Rosana não assinaria uma apresentação que não fosse absolutamente idônea e coerente. Muito menos quando a palavra mamadeira aparece no titulo.
Agora mais que nunca é necessário desvendar esse desdesign.
Nada mais grave que se sentir analfabeto diante de um livro.
Desdesign.
Se o design da mamadeira é causador de tantos problemas tão amplamente conhecidos e discutidos por amamentólogos e simpatizantes durante tantas décadas, com que direitos e prerrogativas designers do mundo inteiro se arvoram a construir esse produto tão lesivo e, usado em larga escala e sem nenhum controle, extremamente perigoso, quase um crime?
A prática do desdesign, da forma como eu a entendi, provoca uma rediscussão do design das mamadeiras e da necessidade de “desfazer grande parte do que fora feito com a colaboração dos designers, tal a gravidade dos efeitos colaterais provocados”, conforme texto da autora no livro.
O Design da mamadeira tem servido à indústria do desmame desde o inicio, tem se associado ao grande capital multinacional das fórmulas infantis, ignorando o bebê humano que a utiliza e os males, cientificamente provocados, que causa.
O desdesign da mamadeira começa com conceitos da história da mamadeira desde os primórdios da vida, quando não passava de um chifre que era como um funil para oferecer leite àqueles bebês impossibilitados de mamar na sua mãezinha, e na história sempre haverá bebes assim, e passa pelas mais diversas abordagens clínicas, politicas, do cenário mundial, dos processos de alimentação de bebes e da produção industrial.
Uma verdadeira desconstrução do conceito “mamadeira” e proposições éticas inovadoras e assustadoramente alvissareiras.
“Desconstruir, desfazer, desmontar, desconfiar, desestabilizar, descobrir, desacolher, desafeiçoar, desafiar, desapropriar, desautorizar, descompor, desdobrar, desenvolver. Espera-se que o desdesign da mamadeira aqui empreendido tenha a força do dicionário em que se encontram essas palavras que tanto inspiram a inventividade e a responsabilidade por aquilo que se cria”, diz a autora.
Ler fatias saborosas deste livro me tornou menos analfabeto.
Desde o curso de Tecnologia em Design de Moda, da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), quando alunas desenvolveram camisolas para gestantes do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP), para facilitar o contato imediato da mãe com o bebê (
http://www.facool.com.br/noticia/view/1086), a amamentação e o design não se unem de modo tão maravilhoso e sintonizado com o que há de mais puro e recomendado pelas principais direções das ações em, prol do aleitamento em todo o mundo.
Cristine, voce me conquistou definitivamente desde seu livro.
Obrigado por facilitar conceitos tão complexos e inacessíveis a nós outros, profissionais de outras áreas.
Obrigado por unir técnica e paixão, ciência e poesia.
Volto agora à leitura de meu exemplar enquanto vou buscar desconstruir um pouco desses meus conceitos desastrados mas que com ajuda certa e palavra firme e bem fundada, tem tido a possibilidade de sobreviver sem se asfixiar na escuridão obsoleta dos próprios desastres.
Desdesign já.
Com carinho,

Luis Tavares


sábado, 31 de agosto de 2013

Nasceu!

Nasceu!
Aí está o resultado do estudo que fiz em meu doutorado, gerador do rumo profissional que assumi nos últimos anos.
Tá bonito... e era importante que fosse assim. Porque, por dentro, o assunto é muito sério e surpreendente.

O lançamento será no dia 10 de setembro, terça-feira, a partir das 18h. Lá na PUC-Rio, no Auditório do Decanato do CTC (12 andar do Prédio Cardeal Leme), um espaço amplo de onde, no terraço, temos uma linda vista da cidade e do Cristo Redentor. Quem puder ir, ficarei muito contente em encontrar, em identificar como parceiro dessa nossa convivência virtual, mas tão legal :o)

Ainda não sei como será a distribuição, mas coloco aqui os links da co-edição: http://www.editorareflexao.com.br/ e http://www.editora.vrc.puc-rio.br/

Acabo de ver que o livro está à venda pela internet em https://ssl5921.websiteseguro.com/editorareflexao1/Site.aspx/Produto/374-AMAMENTACAO-E-O-DESDESIGN-DA-MAMADEIRA?store=1
E, no momento, estou pensando no monte de gente que agiu, que me ajudou, pra que o trabalho chegasse ao público neste formato de livro.

Tenho mesmo muita sorte em poder ter contado com todos eles, com todos vocês.

domingo, 25 de agosto de 2013

Mais uma "pérola"


INTUIÇÃO.
Que "sensível".
Com uma doce imagem de um bebê mamando no seio da mãe.
Isso é VIOLAÇÃO ao Codigo Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno.

Onde? Na Itália.
Enviada pra mim por Marisa Silveira.
Origem? Pelo que pude pesquisar, francesa.

E prossegue o produto "insuspeito" a angariar consumidores, a gerar emprego e renda, doenças como a desinformação (só pra pegar leve hoje, porque é domingo).

domingo, 11 de agosto de 2013

Grande semana!

A Semana Mundial de Amamentação deste ano foi a que mais consegui curtir, desde 2008, quando me "iniciei" neste incrível campo do conhecimento que é, segundo João Aprígio, a Luta pela segurança alimentar dos nossos bebês.

1) Fui ao lançamento do livro organizado pelo Dr. Luciano B. Santiago - Manual do Aleitamento Materno;
2) lá encontrei com o querido amigo Dr. Marcus Renato e pude enfim conhecer o Dr. Luis Tavares, além de pessoas importantes na área;
3) Estive também presente ao evento da Semana organizado por Franz Novak (autor da orelha do meu livro) no Instituto Fernandes Figueira, revendo pessoas queridas e conhecendo mais craques;
4) Trabalhei uma tarde inteira no projeto do copinho, com Fernando Carvalho, meu grande parceiro;
5) Tive uma nova reunião no IFF, aprofundando e enriquecendo com nova participação esse projeto que tanto me enche os olhos e....

6) Meu livro NASCEU! Ficou pronto na quinta-feira e amanhã terei uma reunião para a produção do lançamento, que será no início de setembro e divulgarei a todos.

Foi Rosana de Divitiis, autora da apresentação do livro, que me sinalizou que ele nasceu na SMAM :o)

Tá tocando Pink Floyd lá na sala ... e eu tô feliz.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Quase inacreditável....


http://razoesparaacreditar.com/mae-traz-bebe-de-volta-a-vida-depois-2-horas-de-abracos/

Pais trazem de volta à vida um bebê recém-nascido.

Impressionante.

Tudo a ver com um post anterior aqui do blog: "Conhecendo o Método Mãe-Canguru na fonte"

Família Real e amamentação



Por intermédio do artigo “Royal baby: revolution in the nursery”, publicado no site da BBC News Magazine em 8 de junho (http://www.bbc.co.uk/news/magazine-22971177), recebemos indicações de que o bebê do Príncipe William e de Catherine –prestes a nascer no dia de hoje- muito provavelmente será amamentado, assim como o foi seu pai, pela Princesa Diana. Indicações também de que tal intenção se enquadra num modo de educação moderno, atualizado, contemporâneo.
Este fato pode até parecer insignificante diante da importância que este nascimento já assume na mídia e para a cultura. Mas, ao contrário, ele pode representar uma expressiva contribuição para a necessária mudança de mentalidade quanto à alimentação de bebês, na medida em que a adoção de tal conduta por figuras públicas no cenário mundial serve de inspiração e de modelo para as pessoas. E aqui vale invocar, sinteticamente, dois momentos históricos.
O primeiro deles se deu na Europa, onde a amamentação era considerada “indigna para uma dama”, marca de uma mentalidade que se espalhou pelas Américas com as Grandes Navegações, e que se consolidou com o surgimento das primeiras mamadeiras industriais, na Inglaterra Vitoriana (o artigo em questão relata inclusive que a Rainha Vitória teria reagido muito mal ao saber que suas filhas haviam optado por amamentar seus bebês). O fato é que as classes sociais mais abastadas tendem a servir de modelo para a população em geral, que acredita ser correto e moderno seguir a conduta assumida pelas primeiras, tradicionais formadoras de opinião.
O segundo momento, também ocorrido na Inglaterra, se deu em 2008. Devido ao cenário de disseminação indiscriminada do uso de leites artificiais e mamadeiras, um concurso de cartazes foi proposto à Universidade Britânica de Artes e Design, sob o tema Get Britain Breastfeeding. O objetivo do concurso foi o de “difundir a ideia de que a amamentação deve se tornar uma regra e não uma exceção”, conscientizando os “pais do amanhã”. Mas é importante salientar que a iniciativa se propunha a alterar um panorama dramático: no país-berço da Revolução Industrial, fora detectado que menos de 2% das mães amamentam seus filhos exclusivamente até os seis meses, apesar dos esforços das políticas de saúde governamentais e das orientações da Organização Mundial da Saúde em promover, apoiar e incentivar o aleitamento materno, através de alianças e acordos internacionais (próximos de completar o 400 aniversário!).
Decerto não poderemos contar com imagens de Catherine amamentando seu bebê, mas as notícias que puderem correr mundo sobre este assunto serão de grande valor.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Pediatria + indústria do leite em pó X amamentação



Ser “blogueira” a cada dia se revela uma experiência mais fascinante. Você passa a conhecer pessoas, em qualquer canto do mundo, com interesses semelhantes aos seus e com muito a te acrescentar acerca do tema do blog.
Posso dizer que hoje tenho profícuas amizades com pessoas que conheci aqui. E com algumas delas já marquei encontros muito prazerosos que se estendem em permanentes colaborações.
Pois Marisa Silveira, brasileira moradora de Washington, a quem conheci motivada pela sua expertise em fraldas reaproveitáveis (tema de alguns de meus posts), outro dia me apresentou de lá, dos EUA, o site de um pediatra daqui de pertinho, do Jardim Botânico – RJ. Esse o fascínio de estar em rede :o)
O Dr. Daniel Becker escreve sobre os mais diversos assuntos de interesse da pediatria (http://www.pediatriaintegral.com.br/), e muito me impressionou o texto enviado por Marisa, o segundo de uma série, que trata da relação pra lá de preocupante entre a indústria de fórmulas infantis e os pediatras.
Tratei disso em minha tese também, pois não há como ignorar que a cultura da mamadeira e dos leites artificiais está plantada em nossa sociedade com profundas e nocivas raízes.
Nossa tendência é confiar nos conselhos médicos. Porém, informação e bom senso são elementos indispensáveis para que não façamos “papel de bobo”.
Pedi licença ao Dr. Daniel, e reproduzo a seguir seu texto. Indispensável.

A Rendição dos Médicos

No final do último capítulo, contamos como as empresas fabricantes de leite em pó mudaram suas estratégias: em vez de vender fórmulas para as mães, venderiam para os pediatras. A ideia era conquistar a simpatia desses profissionais com tanta autoridade no que se refere à saúde da criança, e capazes de recomendar as suas fórmulas mesmo diante das evidências crescentes de que o leite materno era o alimento ideal para o bebê.

A Nestlé foi a mais agressiva nesta estratégia. Em nosso pais, ela conseguiu dominar inteiramente a Sociedade Brasileira de Pediatria. É uma situação muito curiosa: o discurso da sociedade é fortemente favorável ao leite materno, com recomendações de amamentação exclusiva até os 6 meses, comitês e documentos, bandeiras pró amamentação com a da licença de seis meses para as mulheres, etc. Por outro lado, quase todos os documentos, manuais, avisos de congresso, circulares, cursos de atualização, enfim, qualquer publicação da SBP tem o selo Nestlé enorme, gravado na capa. A maioria das atividades da SBP tem o patrocínio da Nestlé. Mais publicações e aulas são realizadas sobre os melhores “substitutos do leite materno”, do que as que ensinam como apoiar efetivamente uma mulher que amamenta.

A Nestlé oferece um curso anual de atualização em pediatria, em parceria com a Sociedade, que é tão ou mais popular que os principais congressos. Aqui no Pediatria Integral, fiz uma reportagem sobre a impressionante infantilização dos pediatras nesta ocasião: adultos participando de joguinhos infantis e competições de perguntas sobre os produtos Nestlé para ganhar bichinhos de pelúcia e sorvetes, consumindo biscoitos e leitinhos, e pior, comendo papinhas de bebê servidas por chefs em travessas de prata. As cenas eram patéticas - vocês podem conferir as fotos aqui no PI. A grande mãe tratando bem seus bebês, e esperando em troca uma enorme gratidão e reconhecimento.

Além da Nestlé, várias outras empresas fazem visitas constantes aos consultórios pediátricos oferecendo informações sobre seus muitos tipos de leite e suas inúmeras vantagens uns sobre os outros, todos tão “parecidos com o leite materno”. A amamentação é obviamente ignorada nessas visitas que muitas vezes terminam em farta distribuição de brindes, almoços em churrascarias e mesmo convites para visitas às sedes no exterior ou viagens a congressos.

Essa estratégia comercial segue o principio sócio-comportamental da “reciprocidade”. Quando alguém lhe oferece presentes, graças e gentilezas, você se sente em dívida com quem fez o gesto; cria-se uma simpatia difícil de resistir. Devolver as gentilezas é quase inevitável. É claro que este não é o único motivo, mas este é certamente um dos fatores que explicam tantas prescrições de leite em pó, mesmo ainda na maternidade. Uma estratégia cruel da indústria, mas extremamente e inteligente eficaz para vender os seus produtos e sabotar a amamentação. Da mesma forma que a imagem do leite em pó como sendo “mais forte” minava a confiança das mulheres em seu leite, também a prescrição apressada ou descuidada de complementos (“se você achar que tem pouco leite”, “se ela estiver com muita fome”... “uma mamadeira pra você descansar um pouco”...) é um fator claro e freqüente para que a mulher deixe de amamentar. Se em vez da mamadeira de leite artificial que mina a confiança da mulher, oferecermos informação, apoio e o carinho e técnica de profissionais especializados, o quadro certamente será outro.

Portanto vemos aqui, de saída, duas razões importantes para a dificuldade de amamentar percebida por tantas mulheres: a cultura do leite em pó, que persiste até hoje, nos fazendo duvidar da qualidade e da força do leite materno como suficiente para alimentar um bebê; e a facilidade com que alguns pediatras prescrevem o leite em pó, antes mesmo de surgir qualquer problema na mãe ou no bebê.

Há ainda um terceiro problema, ainda no terreno da medicina – ou, melhor dizendo, da má medicina. Veremos isso no próximo capítulo – em breve.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Há que soar o alarme


Eu me preocupo bastante com quem somos.
Outro dia, conversando com uma amiga mexicana sobre os protestos no Brasil, fui colocada de frente com o fato de que o estilo de vida contemporâneo pode ser incongruente com o espírito de luta por direitos civis. Ela apontava que lhe parece estar em pauta as questões macro, pelas quais se demonstra justificável indignação. Só que os mesmos que a demonstram, muitas vezes agem incoerentemente no âmbito micro, ou seja, em suas práticas diárias, fazendo coisas e consumindo coisas (seu exemplo mais eloquente) cuja produção é extremamente desrespeitosa aos valores que, de uma maneira estrutural, vêm sendo defendidos no âmbito macro.
Nossa conversa foi tão somente uma conversa, matutamos sobre isso.
Eu não sou vegetariana, embora já tenha pensado muito em ser e esbarrado em obstáculos significativos para tornar-me (hábitos alimentares da família, preguiça, adoração pelo sabor de peixes e carnes). Só que a produção desses alimentos envolve, grande parte das vezes, processos absurdos com os animais ou geram grandes enganações aos consumidores, como a notícia que tive recentemente sobre o salmão que consumimos: aquela cor é resultado de corantes e antibióticos, porque salmão da cor “salmão” só existe mesmo perto dos polos (o restante é cinza), e que aqueles que consumimos são criados em cativeiro (sem saltos para a reprodução), o que resulta em uma carne gorda demais, que nada tem a ver com as incríveis taxas de Omega 3, tão propagadas como saudáveis.
Pensei: não vou mais comer salmão!
Qual nada. Desde então não tive a capacidade de recusar esse peixe em quaisquer das vezes em que ele me foi oferecido. É como se eu pensasse: o estrago está feito, não vou deixar de comer a proteína que mais adoro.
Difícil.
Eu na verdade ajo assim com muitas coisas. Minha consciência ambiental conseguiu permitir que eu procurasse o caminho da “redução de danos” pra não ser tão bitolada quanto o estilo contemporâneo de vida me seduz a ser (eu poderia dizer que ele me obriga a ser, mas seria mentira, porque muita gente – no caso, aderiu ao vegetarianismo e nem morreu por causa disso).
A questão não é “ir pro céu”, agindo exemplarmente em tudo. Mas é possível se parar pra pensar e pra se informar. Principalmente porque nosso ritmo de vida nos afasta disso cada vez mais, do pensamento crítico. A gente tende a se deixar levar. E as empresas adoram isso.

Há alguns filmes que considero essenciais pra gente se dar conta desta questão:
- “O jardineiro fiel”, que relata a “chegada” de produtos farmacêuticos em comunidades africanas;
- “Obrigado por fumar”, reflexão sobre a cruzada contra o fumo em paralelo com o prosseguimento das indústrias do álcool e dos armamentos;
“Adeus Lenin”, uma história do avanço do capitalismo, na qual os produtos recebem grande enfoque narrativo;
e três outros documentários que estão disponíveis no Youtube:
- “The Corporation”, sobre o Lado B das empresas, não divulgado nas propagandas;
- “Comprar, tirar, comprar”, acerca da obsolescência programada, forte motor do capitalismo;
- “Fórmula Fix”, uma espécie de versão do primeiro filme aqui recomendado, que demonstra o estrago que as indústrias de fórmulas infantis fizeram e ainda fazem sobre as crianças e a sociedade como um todo.
Assistir a esses filmes, assim como a muitos outros com que o cinema tem tido a decência de nos brindar, pode ajudar bastante, pois nos tiram da inocência a que tendemos a estar condenados.
Eu não usei fraldas descartáveis em minha filha porque, na época, elas eram caríssimas. Mas lhe dei mamadeira -completa, boba e irresponsavelmente alheia aos males que tal produto provocava. Não consegui aderir aos absorventes higiênicos reutilizáveis enquanto ainda precisava deles, mesmo sabedora de todo o lixo por eles gerado. Por outro lado, há mais de cinco anos, deixei de fazer parte do que considero “a farra do Natal”, abolindo presentes e direcionando meu décimo terceiro salário para gastos necessários com a casa e com a renovação de produtos essenciais para a família. Mas tem coisas que não consigo fazer, e sigo, preocupada o bastante com quem somos.
Daí tenho notícias de festas de São João patrocinadas por empresas de bebida, aquela coisa de “Arraiá da Boa” e similares. Num dos vídeos, a cena de jovens bebendo cerveja por uma mangueira e atrações afins. Hoje em dia, parece não existir, não ser considerada por muitos, a possibilidade de festas sem patrocínio. E então essas empresas colocam ali seus “valores” corporativos, seduzindo os participantes a tomá-los para si, como valores humanos.
Adoro uma cerveja, mas minha amiga mexicana tem razão: a luz de segurança vem sendo paulatinamente apagada nos salões do nosso dia-a-dia.
Há que soar o alarme.


quarta-feira, 3 de julho de 2013

domingo, 30 de junho de 2013

"Pra ser feliz por mentira, melhor que eu chore com fé"



Está se aproximando o lançamento do meu livro "Amamentação e o desdesign da mamadeira", e venho me lembrando das coisas que me motivaram a escrevê-lo.

Uma delas foi essa música do Taiguara, que ouvi muitas vezes, de onde extraí a epígrafe do meu trabalho:

Sorriso bom, só de dentro (...)
Pra ser feliz por mentira, melhor que eu chore com fé.

Os projetos de design costumam ser bonitos, glamourosos, e um monte de adjetivos assim. Mas o desenvolvimento da minha tese não teve glamour algum, pois só me deparava com uma realidade revoltante.

Mas ok, para a publicação eu e uma equipe incrível caprichamos, e posso dizer que o produto que vai para a rua está muito lindo :o)

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Informação parece mais eficaz do que coerção - caso proibição das mamadeiras na Venezuela

Esta nova matéria, do jornal La Nación, publicada em 16 de junho (ontem), trás mais detalhes sobre o projeto que pretende incrementar a Lei de Proteção, Promoção e Apoio ao Aleitamento Materno na Venezuela.

http://www.lanacion.com.ar/1592640-venezuela-busca-prohibir-las-mamadeiras

O artigo diz que aquilo que se pretende é "obrigar as mães a amamentar bebês menores de seis meses", apontando que a coerção - com multa que vai de 654 a 50 mil dólares (imagino que se diferenciem entre famílias e indústrias que insistirem em fazer propaganda de leites artificiais e mamadeiras), não é instrumento aceitável para a mudança de cultura pretendida.

A deputada Odalis Monzón, vice-presidente da Comissão da Família, defende que o objetivo é que se faça cumprir a lei de 2007, por intermédio da proibição da "promoção e publicidade de fórmulas lácteas adaptadas para meninas e meninos, assim como de mamadeiras e chupetas e demais produtos similares, em todos os meios de comunicação e demais meios publicitários com acessibilidade em território nacional".

A Venezuela, assim como o Brasil e inúmeros outros países, é signatária do acordo internacional capitaneado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, contra as investidas da indústria de fórmulas infantis e mamadeiras, cerceando suas publicidades e propagandas estabelecendo diretrizes globais de médio e longo prazo a serem alcançadas. A IBFAN (International Babyfeeding Action Network) e a WABA (World Alliance for Breastfeeding Action) são as organizações credenciadas para monitorar o controle da comercialização desses produtos e promover ações de âmbito global, como a Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM), evento anual em todos os países que assinaram o acordo.

Daí a gente pensa: poxa, uma coisa dessa importância toda e não ficamos sabendo de nada?

Essas informações estão disponíveis, e é muito fácil chegar até elas. O problema é que a força da publicidade das indústrias as suplanta. Quem vai procurar se informar mais ou quem vai duvidar de uma empresa que se diz "autoridade máxima em nutrição", como o faz a Nestlé? A tendência é acreditar nisso e nem se preocupar em questionar o que se leu, o que se viu nos anúncios lindos que ela faz, ou ainda questionar a indústria que faz coisas tão gostosas e práticas.

Então, voltando à questão da coerção, da obrigação das mães em amamentarem seus filhos... isso não faz sentido. Isso já aconteceu inclusive no Brasil, na época da medicina higienista, quando o Estado percebeu que precisávamos zelar pela saúde das crianças brasileiras para construir uma nação. Só que não deu certo porque não se obriga uma coisa dessas. O que ocorreu é que muitas mães tinham problemas e os médicos achavam que naqueles casos o leite delas era pouco ou era fraco, inventaram um nome pra isso, hipogalactia, e as indústrias se aproveitaram impetrando seus produtos, num fenômeno que ficou conhecido como "desmame comerciogênico", apoiado pelo estado.

Eu fico aqui pensando -e minha ideia deriva do efeito que minhas palestras provocam nas assistências- que se a Venezuela (e quem dera todos os países) investisse em dar à sua população a informação sobre o problema, retirando os véus que nos cegam (denunciando mesmo as indústrias e seus estratagemas de persuasão, e porque não dizer de coerção em que se consuma seus produtos), as pessoas teriam infinitamente mais chance de mudar sua conduta o que, em somatório, resultaria na mudança de cultura tão urgente.

Porque leites artificiais e mamadeiras são produtos tão nefastos como o tabaco (e muitos outros que se eternizam incólumes), com a diferença de que quem fuma pode até ter começado a fazê-lo sob influência, mas o faz por suas próprias mãos.