domingo, 29 de abril de 2018

E segue a indústria a nos cercar de novidades



Não param de surgir novos modelos de mamadeira. E eu não paro de me perguntar como é possível profissionais (dentre eles meus "colegas" designers) seguirem ignorando solenemente a imensa quantidade de informações disponíveis, de fontes hiper confiáveis, sobre os males que esse produto provoca, para prosseguirem sendo guiados pelos atrativos do sucesso mercadológico.

O lançamento da vez é a Collapse and go, cujo conceito se pauta na praticidade, facilidade de armazenamento e portabilidade. É que ela é um fole que encolhe, colapsa e pronto! Eles dizem: por que prosseguir com modelos tradicionais, se essa é tão inovadora a ponto de você poder carregá-la no bolso? Mas para que uma pessoa há de carregar no bolso uma mamadeira vazia?



No texto promocional, argumentam que "a forma é uma reminiscência do seio de uma mãe, tornando mais confortável para o seu bebê usar! Além disso, possui um design anti-cólico." O que é um design anti-cólico? Quais hão de ser os atributos de um design anti-cólico? E ... reminiscência do seio da mãe? Ou simulacro de desentupidor de pia?


Listagem de suas qualidades: cresce junto com a criança (!), BPA Free, Organic "Like Mom" Shape (!) ....




O fato é que essa flexibilidade do corpo, proporcionada pelo fole, agrava as dificuldades de higienização. Multiplicam-se, em cada dobra, os cantinhos para que as bactérias se escondam e se multipliquem, ainda mais com a natureza do silicone, que por menos que percebamos, tem poros e tendência a ficar "colante" com o tempo.

O problema é que as pessoas confiam na indústria. E que para a indústria trabalham pessoas que não pesquisam (ou que simplesmente dão de ombros para os graves alertas das agências internacionais de saúde).

 

domingo, 22 de abril de 2018

É super importante, Super Interessante



O artigo Leite materno: a bebida mais valiosa do mundo, publicado na revista Super Interessante, de Amarílis Lage, edição de abril, é excelente.

Completo, com depoimentos do premiado epidemiologista Cesar Victora e do pediatra Roberto Issler, dentre outros, nos traz um alento ao ver o tema tratado com o cuidado que ele merece.

Mas a imagem que ilustra a matéria decepciona ... por quê a mamadeira ao invés de uma mãe amamentando? A mamadeira e muitos símbolos de riqueza, como o diamante, as barras de ouro, o saco de moedas e o porquinho estão ali para ilustrar o grande valor do leite materno ...



É preciso apontar o quanto é equivocada essa imagem, o quanto ela contribui para prosseguir valorizando a cultura da fórmula artificial e da mamadeira.

É preciso atenção com as imagens.

Imagino que a intenção de todos (ilustrador, redatora, editores) tenha sido a melhor possível, dada a qualidade da matéria. Mas a presença da mamadeira contradiz a mensagem, demonstrando o quanto esse produto tem lugar cativo em nossas mentes para a representação da alimentação de bebês. E o efeito de sua presença é a perpetuação (subliminar) de seu lugar na cultura.

O emoji que abre esse post é um exemplo do quanto imagens de amamentação, ao serem disponibilizadas, têm sido acolhidas com alegria pelas pessoas.

Dou a maior força pra que fiquemos todos atentos com as representações. Elas são importantíssimas.