sábado, 23 de abril de 2011

Modelo 10: Iiamo - Dinamarca




Iiamo [Self Heating Baby Bottle] é uma mamadeira brilhantemente concebida por Karim Rashid, a primeira mamadeira com um mecanismo de auto-aquecimento. [...] inclui um cartucho descartável de aquecimento que é capaz de aquecer o leite até 37 graus em apenas quatro minutos. Os principais ingredientes orgânicos deste cartucho são sal e água, assim você não terá que se preocupar com as questões de higiene para os seus filhos. Este gadget útil irá fornecer-lhe um acesso fácil para aquecer o leite se você está no avião, no carro, na praia, em um café ou em um parque[1].
Crítica/DesignO projeto do aclamado designer egípcio para a indústria dinamarquesa se propõe a solucionar o problema da temperatura do leite que, no entanto, já sai de casa misturado à água ou em embalagem separada, como demonstra o vídeo promocional do produto. Se o prazo de duas horas for respeitado à risca, promete funcionar, mas a proposta da mamadeira é justamente conceder aos pais o conforto da despreocupação com relação à integridade do líquido em passeios, viagens etc., o que pode proporcionar um relaxamento muito perigoso.

Em termos de aparência, pode-se dizer que o objeto é estonteante. Fechada, não se parece com uma mamadeira, e, sim, com um aparelho eletrônico ultra moderno. Tratada como “gadget útil”, apela ao consumo também por calcar o discurso promocional em designer famoso, responsável pela concepção de produtos muito desejados no mercado internacional. As cores pouco usuais constituem um diferencial eloquente, mas o fato de o cartucho de aquecimento ser “descartável” representa um ruído importante no discurso de atualidade da proposta, pois esse conceito vem sendo cada vez menos bem visto diante das preocupações com o meio ambiente.
O lançamento tão recente (2009) motivou esta pesquisadora a estabelecer contato com o designer para esclarecer os motivos que o levaram a projetar tal mamadeira, mediante a gravidade da situação mundial que envolve o produto. Por correio eletrônico, a pesquisadora ressaltou a beleza do objeto e indagou sobre o designer estar ou não a par da luta mundial pela amamentação, dos perigos da mamadeira e do fato de o líquido gerar bactérias após algum tempo de exposição à temperatura ambiente. A resposta foi enviada por Nikolaj Leonhard-Hjorth, um dos dois fundadores da Iiamo ApS. Ele agradeceu a mensagem e o interesse pelo projeto, ressalvando:
...mas pelo amor de Deus atente para o seguinte: a mamadeira Iiamo é como qualquer outra mamadeira destinada a possibilitar a administração de suplementos e fórmulas para mães que por algum motivo não podem amamentar e não deve ser interpretada como uma iniciativa contra a amamentação em geral. Além disso, o conceito de auto-aquecimento é exatamente para possibilitar o armazenamento da fórmula e facilitar a chegada à temperatura adequada para ser servida ao invés de ser transportada pré-aquecida. Finalmente, posso acrescentar que o produto é produzido sem BPA, phthalates, perfume, parabens ou outros agentes tóxicos. (Agosto de 2009)
Por certo o primeiro argumento apresentado há de ser a justificativa para todos os projetos de mamadeira selecionados. É complicado negar que o produto faz parte da vida das pessoas, de modo que a demanda de uma via alternativa para a alimentação de bebês deve ser pensada e produzida. O problema está em que, com o persistente redesenho da mamadeira, tal raciocínio materializa o paradoxo científico-industrial que coloca em campos antagônicos o conhecimento adquirido sobre a questão e a prática de mercado.
E o trabalho do designer protagoniza essa incoerência.
Vale então enumerar os seguintes pontos:
1. como já foi comentado, as informações sobre os problemas provocados pelas mamadeiras e fórmulas artificiais figuram na primeira página dos sites de pesquisa na Internet;
2. a atividade do design se define pela busca de soluções inovadoras que respeitem a diversidade de culturas, a integridade humana e do meio ambiente;
3. pesquisar é a primeira coisa que um designer faz ao receber um trabalho.
Algo está muito errado, então. Há uma espécie de acomodação em projetos de redesenho de produtos, quando as informações disponíveis demonstram a necessidade de uma mudança de postura rumo à concepção de um utensílio que se destine, sim, a colaborar com as situações em que é complicado amamentar, mas sem incorrer permanentemente nos mesmos erros.


[1] Disponível em www.tuvie.com/iiamo-self-heating-baby-bottle-by-karim-rashid/. Acesso em outubro de 2009.

Modelo 9: UMix - Estados Unidos




[A mamadeira UMix On the Go esclarece:] Apenas 2 horas após a mistura do leite em pó com a água em temperatura ambiente, as bactérias começam a multiplicar-se, e podem atingir níveis perigosos para o bebê. Uma vez preparada a mamadeira deve ser imediatamente consumida ou refrigerada. A mamadeira UMix reduz o perigo da multiplicação de bactérias por armazenar a água e o leite em pó separadamente dentro da mamadeira, eliminando as preocupações e a necessidade de refrigeração[1].
CríticaMuito interessante constatar a existência de projetos que se dedicam a encontrar saídas para as problemáticas provocadas pelas mamadeiras e leites artificiais. Sinal de que os designers responsáveis estão inteirados sobre o quanto a mamadeira é um produto controverso. Nesses casos, ao invés de o design gerar atributos promocionais, gera informação, mesmo que as soluções encontradas não resolvam os problemas.
Design – A forma alcançada aproxima o produto (do mesmo fabricante do modelo anterior) de um utensílio médico, laboratorial, atributo que (aliás) deveria estar sempre presente em mamadeiras, pois elas precisam ser entendidas como uma opção à amamentação em caso de necessidade, e não como objeto de consumo. O processo de preparo do leite é simples, mas envolve também grande número de peças. Como resultado, o leite fica em temperatura ambiente, o que não atende à recomendação de oferecê-lo à criança aquecido a 370.


[1] Disponível em www.umix.com.br. Acesso em maio de 2009.

Modelo 8: Second Nature - Estados Unidos





[A mamadeira Second Nature] tem tecnologia Flow Control, baseada em uma membrana que contém vários microfuros. Quando o bico não está sendo utilizado, os microfuros permanecem fechados, evitando vazamentos e respingos. Eles estão localizados em uma membrana flexível e vão se abrindo conforme a sucção efetuada pelo bebê (quanto maior a sucção, maior a pressão exercida sobre a membrana e maior o fluxo de líquido, permitindo que o próprio bebê o controle)[1].

Crítica/DesignO projeto dedicou atenção à questão do fluxo de leite, chegando a solução possivelmente eficiente em termos mecânicos. O problema está em que o sistema de microfuros constitui, mais uma vez, atmosfera ideal para o surgimento de colônias de bactérias quando de uma limpeza falha. Para evitá-la, o produto vem acompanhado de sofisticada escova de limpeza (com esponjas na ponta) e de instruções detalhadas, auxiliadas por esquemas gráficos. O nome do produto sugere que ele é uma opção natural para as mães e para o bebê. Seu corpo é em policarbonato (BPA), tampa e rosca em polipropileno. A boca é larga para facilitar a higienização.
Observação importanteA mamadeira, lançada na Europa e nos EUA em 2004, exigiu “anos de pesquisas e investimentos nos EUA”. Chegou ao Brasil no ano seguinte e está em conformidade com a NBR 13793 (Norma Brasileira para Comercialização de Mamadeiras, Bicos e Chupetas) e com as normas americana e europeia. Mas cabe salientar o quão problemático é certificar um produto que contraria o paradigma em vigor, pois as informações divulgadas somadas ao selo do Inmetro na embalagem soam como garantia de qualidade e segurança para o consumidor.
Vale observar que no Brasil nós nos acostumamos a confiar em produtos certificados pelo Inmetro, pois o selo significa para nós que o controle de qualidade foi realizado. Mas, de modo geral, foram constatados usos irregulares do selo em vários produtos, seja por falsificação da marca ou por imprecisão na comunicação do que está efetivamente certificado, exigindo esforço adicional de fiscalização:

Em muitos casos, a logomarca do instituto vem sendo usada de forma a induzir o consumidor a supor que o material à venda é certificado, quando apenas a tomada do eletrodoméstico, por exemplo, passou pela análise da entidade.[2]

Especificamente sobre as mamadeiras, embora a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Mamadeiras, Bicos e Chupetas – NBCAL seja o instrumento de controle da produção industrial derivativo do Código Internacional, as mamadeiras existem, são aqui produzidas e/ou distribuídas e certificadas com o selo do Inmetro — e este, como já foi dito, confere confiabilidade aos produtos. Frases obrigatórias como “O Ministério da Saúde adverte: a criança que mama no peito não necessita de mamadeira, bico ou chupeta. O uso de mamadeira, bico ou chupeta prejudica a amamentação e seu uso prolongado, prejudica a dentição e a fala da criança”, exigidas pela lei, figuram nas embalagens sem superar a força dos outros elementos gráficos e textuais.



[1] Disponível em www.secondnature.com.br. Acesso em agosto de 2009.
[2] Selos que não garantem qualidade. O Globo. Rio de Janeiro, Infoglobo S/A, 26 de março de 2008, pg 34.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mamadeiras 6 e 7: MAM e Adiri - EUA

A nova mamadeira MAM [Ultivent] foi projetada especificamente para funcionar como a amamentação. (...) O design é um elemento extremamente relevante para a empresa. MAM loves me (http://www.mambaby.com/).


Para pais iniciantes ou experientes, a escolha entre amamentação e mamadeira pode produzir uma vasta lista de pros e contras. (...) [Adiri Natural Nurser] é projetada para simular a aparência e a sensação de uma mamada real (www.core77.com/bullits/2007/08/Whipsaw-Adiri-Natural-Nurser.asp).

Crítica: A simulação de capacidades humanas por produtos é colocada como função da atividade da indústria e do design. Aqui cabe o esclarecimento de Andrew Radford, coordenador nacional da organização não governamental Baby Milk Action:

A ideia de substituir leite materno por artificial pode ser comparada à de sugerir que substituam os rins por aparelhos de diálise. Ambos, aparelhos de diálise e leites artificiais cumprem um papel que pode salvar vidas, mas usálos no lugar dos órgãos originais do corpo humano é desperdício de recursos. Felizmente ninguém sugeriu que os rins não sejam capazes de eliminar os resíduos do corpo. Por outro lado, a alimentação por mamadeira tem sido promovida como alternativa viável ao leite materno. (...) A amamentação é boa para os bebês e para as mães e o leite materno é um produto ecologicamente saudável. A mamadeira causa a morte de um milhão e meio de bebês por ano e prejudica a saúde de inúmeros outros (Radford, 1992).

Design: Analisando os modelos separadamente, nota-se que a MAM Ultivent tem o arrojo de não utilizar a transparência do plástico, optando pelo polipropileno colorido - material opaco. Como a maioria dos modelos já apresentados, possui abertura interna para facilitar a lavagem. Um sistema de ventilação ali posicionado, permite a saída do ar, evitando as bolhas.

A mamadeira Adiri efetivamente inova. Com relação à forma, minimaliza a aparência das mamadeiras, aproximando o produto da configuração da mama feminina de maneira não caricata. Com relação à estrutura, reduz sensivelmente o número de peças por empregar técnica de injeção que une material de diferentes densidades em uma só peça, ou seja, a área flexível do bico se estende por todo o corpo do produto, sendo envolvida pela peça colorida, do mesmo material, porém em densidade maior. Este recurso concede rigidez à estrutura na área da pega (entre as duas partes não há espaço algum). Como o modelo anterior, recorre a perfurações na tampa inferior para a saída de ar. Agraciada pelos prêmios IDEA e MDEA 2008, utiliza imagem de bebê de poucos meses em seu material promocional online. Tais premiações agregam ainda mais valor aos produtos, como se eles fossem meios seguros de alimentação infantil.