sexta-feira, 21 de junho de 2019

Uma verdade indigesta



Tenho me dedicado à leitura do livro Uma verdade indigesta, de Marion Nestle (ela não tem nada a ver com a família Nestlé, muito antes pelo contrário: é norte-americana, nutricionista e pesquisadora).

Fui ao lançamento da publicação na UERJ, em maio, quando lhe dei um exemplar de meu livro Amamentação e o desdesign da mamadeira, recebendo na dedicatória que ela fez pra mim uma expressão de contentamento por haver uma pesquisa sobre o tema, também de cunho investigativo sobre as práticas da indústria. Se ela conseguirá ler, eu não sei (o texto está naturalmente em português), mas ela ficou interessada.

E é também de contentamento e interesse meu sentimento pelo livro de Marion Nestle. Contentamento por ter em mãos um conteúdo que desvela os bastidores da aparência amigável e protetora com que costuma se apresentar a nós a indústria de alimentos (quando na verdade ela faz de tudo pra nos fazer ingerir e apreciar coisas que nos fazem mal, mas lhes geram muito lucro). Interesse porque estamos mergulhados numa pseudo-realidade, e quando uma voz surge pra desmascará-la com competência e seriedade, além de amargura, isso me tráz também alívio: consigo emergir.




O fato é que não devemos acreditar naquilo que o marketing e a publicidade desses produtos nos dizem. Tarefa muito difícil, pois é duro ter que duvidar das coisas gostosas e práticas que ingerimos corriqueiramente. Mas a verdade é indigesta.

Para ilustrar a importância deste conteúdo, vou trazer apenas um trecho do posfácio do livro, dedicado a reunir algumas notícias do Brasil sobre o tema, assinado por João Peres e Moriti Neto (jornalistas independentes do site O joio e o trigo, que reúne artigos sobre a indústria de alimentos e seus conflitos de interesse com a saúde pública):


A indústria de alimentos ocupa assentos que caberiam a universidades e institutos de pesquisa em colegiados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Embora disponham de lugares próprios, as empresas contam com pesquisadores alinhados [aos seus interesses], conseguindo influenciar na definição da agenda e das normas da agência reguladora. 

O setor econômico chega a ter maioria em alguns espaços, em especial nos grupos de trabalho que fornecem subsídios às políticas públicas. À frente dessa estratégia está o ILSI [Instituto Internacional de Ciências da Vida]. O instituto criado pela Coca-Cola e adotado pelas demais corporações de ultraprocessados muitas vezes se disfarça sob o nome de universidades públicas. Embora registrados como representantes de instituições de ensino, na prática alguns pesquisadores falam em nome da organização financiada pelas empresas.  

E durma-se com um barulho desses.



sábado, 1 de junho de 2019

Serena Williams: a grande beleza



Em 2017, ao passar pela banca de jornal, essa capa de revista capturou o meu olhar. Serena Williams, a importante tenista norte-americana, esplendidamente grávida e nua, contra um fundo cinza atravessado pelo logotipo luminoso.

Na minha opinião, poucas imagens são capazes de representar tão bem a BELEZA como esta. Ao ponto de, perigosamente, conduzir a um sentimento de idolatria e endeusamento que sabemos não ser real.

Ao chegar em casa, imprimi a foto e a carrego comigo na pasta para mostrá-la e discutir com meus alunos de Design sobre o poder das imagens.


Recentemente, zapeando em busca de uma série para assistir na TV, encontrei Being Serena, na HBO.



Trata-se de uma série documental que cobre parte de sua gravidez, o parto, complicações de saúde que a então tenista número um do mundo teve que enfrentar, seu casamento e esforços para retornar ao tênis sob essa nova realidade.

Uma variada sorte de pressões nos mostra a grande virada que é a transformação de mulheres em mulheres-mães. E por mais que Serena tenha podido contar com a infraestrutura de uma estrela das quadras, a gente consegue direitinho se identificar com ela, relembrando os dilemas, dificuldades e alegrias pelas quais passamos quando foi a nossa vez.

Com isso, aquela foto de Annie Leibovitz ficou muito mais bonita pra mim. Porque acrescida do sentido que guardava.