terça-feira, 26 de julho de 2011

O ambiente cultural do post anterior

Trecho da tese que tem tudo a ver com a foto do post anterior:

A mudança operada na economia brasileira em inícios do século XX, propiciadora da passagem do sistema de produção agro-exportador para o urbano-industrial, provocou a ascensão da burguesia, marcando o desenvolvimento da sociedade de consumo, para a qual a mamadeira tornou-se um dos símbolos de modernidade e urbanismo. Em 1912 chegavam ao Brasil as primeiras remessas de leite condensado e farinha láctea da Suíça (Nestlé), promovendo a mamadeira de leite industrializado como alternativa para o “leite fraco” (há muito se sabe que "leite fraco" não existe), denominado cientificamente hipogalactia, agora uma “patologia” institucionalizada (p. 39).


Um petiz sadio... um pae feliz... À Cia. Nestlé tenho o prazer de offerecer a photographia de meu filho Georges Ohnet, criado desde o nascimento com o excellente leite em pó ‘Nestogeno’, a quem deve ele saúde e robustez. Ohnet Ponty
O conhecidíssimo leite em pó Nestogeno já não é mais um produto de importação e sujeito, portanto, a flutuações de preços e a faltas no mercado. A mesma fórmula que tem feito o prestígio do Nestogeno entre os médicos pediatras do mundo inteiro e os mesmos apurados processos de fabrico seguidos nas usinas Nestlé da Suíça são adoptados em Araras, Estado de São Paulo, onde a Companhia Nestlé produz o Nestogeno nacional.
O NESTOGENO é um leite meio gordo (contém 12 % de gordura) e por isso sobejamente recommendado como o mais benéfico, na falta do leite materno. Tão puro como o similar importado, o Nestogeno nacional tem as vantagens de ser sempre mais novo e mais barato: cada lata custa apenas 5$000.[1]
O ano de 1921 demarcou o início das atividades da Nestlé em território nacional. A seguir, vieram as campanhas promocionais, a difusão de informações científicas e a monopolização do saber médico. A indústria envolveu-se em todas as esferas relacionadas com o desempenho profissional dos trabalhadores da saúde[2]. Essa estratégia de marketing foi se intensificando a partir dos anos de 1940, tal a reciprocidade de interesses entre a indústria e a classe médica: enquanto a primeira expandia seus lucros, a segunda realizava a aquisição e manutenção de sua autoridade perante seus pacientes, vencendo a influência de leigos e parteiras.


Confiança. Nos encontros que se verificam num consultório médico, entre Mãe e Pediatra há um sentimento mais profundo e mais natural do que a simples necessidade de controlar o desenvolvimento do bebê.
Entre ambos já se concretizou, antes da consulta, aquele elo indissolúvel e indispensável à nobre missão de medicar as criancinhas.
É a confiança. Da mãe que sente no médico, ao consultá-lo, a decisiva segurança na vida de seu filho. Do pediatra que ao prescrever esta ou aquela medicação, este ou aquele alimento, sabe que será fielmente cumprido o que por ele for prescrito, No mundo inteiro, este fenômeno se repete, diàriamente, milhares de vezes, e é bem alta e significativa a percentagem das mães que beneficiaram os seus filhos com a confiança que o pediatra depositou nos produtos.[3]
Complementarmente ao cenário descrito, iniciara-se a implantação da assistência materno-infantil pelo Estado, resultante da fundação, por Getúlio Vargas (1944-45), do Departamento Nacional da Criança, inaugurando um programa nacional de distribuição gratuita de leite às populações de baixa renda[4]. O programa abriu caminho para “o lançamento da proposta publicitária de extensão da utilização dos leites em pó para crianças sadias e também como preventivo de distúrbios gastrointestinais” nos bebês. Segundo Goldberg, aos poucos a indústria começou a sugerir que os leites em pó “poderiam ser ministrados desde o momento da secção do cordão umbilical”, exaltando o elevado teor de proteínas do produto, vitaminas e nutrientes adicionados, “numa alusão de que o leite em pó não só poderia substituir o leite materno como até apresentaria vantagens” (Goldberg, 1989, p. 116-121).


[1] Peça publicitária em A Cigarra. Rio de Janeiro, Editora O Cruzeiro S.A., 1933.
[2] A empresa ligou seu nome a serviços assistenciais dos hospitais-escola, reuniões científicas, patrocínio a cursos de atualização e congressos, contribuição para o sustento econômico das revistas científicas com permanente publicação de anúncios, contato individual de seus representantes com a classe médica para fornecimento de amostras grátis, folhetos de alta qualidade gráfica e variados brindes (Goldenberg, 1989, p. 122).
[3] Peça publicitária da Nestlé da década de 1940 publicada na Revista Brasileira de Medicina. São Paulo, Moreira J. R. Editora, 1948.
[4] A iniciativa teve o apoio da Legião Brasileira de Assistência – LBA.


"Prova de bom trato" (??!!)




Passei o último domingo com minha mãe. Ela é uma senhora de 84 anos, com fragilidades de saúde compreensíveis para a avançada idade. Mora no bairro do Flamengo em um apartamento pequenininho mas muito acolhedor.

Enquanto ela tirava a sesta da tarde, recorri a seus guardados para me distrair. Dentro de um álbum de fotografias encontrei esta preciosa foto: D. Leda alimentando seu primogênito com mamadeira na varanda de seu primeiro apartamento, em Porto Alegre, no ano de 1953.

O retrato era dedicado aos pais dela, meus avós. O texto simula a fala de meu irmão:

"Para os queridos Vovô e Vovó sempre é conveniente uma prova de bom trato. Eis-me aqui com minha possante mamadeira, que nos braços de mamãezinha tem um gostinho todo especial. E por falar nisso, que fome bárbara!...!... Beija-os com muito carinho o neto Jorge Armando".

Quando minha mãe acordou, mostrei-lhe o achado. E também para minha irmã, meu marido e minha filha que passaram por lá naquela tarde. Rimos muito! Rimos porque tínhamos nas mãos uma prova familiar do quanto nunca suspeitamos da mamadeira, conferindo-lhe até adjetivos como "possante" e exibindo seu uso como "prova de bom trato". Hoje o texto assume efeito de uma irônica anedota pra pessoas que convivem de perto comigo, conscientes dos perigos desse produto.

Respondendo ao comentário de Mariana

Estou com um problema de configuração (?) no blog e não consigo responder aos comentários. Ultimamente tenho enviado respostas diretamente por e-mail, mas a partir de agora procurarei transformar em posts os textos que me são enviados, pois costumam ser muito relevantes, como o de Mariana ao texto "Liberdade?".

Olá Cristine! Estou seguindo seu blog há algum tempo e simplesmente me vejo nitidamente em algumas postagens. A de hoje foi uma delas. Amamentei até o décimo mês e digo que EU fui desmamada. Meu filho parou de mamar por decisão própria. Depois desse episódio, passei a usar a tal da mamadeira, acessório o qual, hoje, tenho nojo e sou escrava! Agora lendo seu blog, decidi de uma vez por todas, exterminar elas de nossa casa e casa dos avós, afinal, todo mundo ama uma mamadeira :s estou grávida de 32 semanas e tenho a intenção de usar somente o copo após o sexto mês (naquela fase de sucos...) o qual vc fala aqui no seu blog é comercializável? O que vc nos indicaria? Enfim... Parabéns pela tese e força nessa tão difícil "tarefa" que é informar com qualidade e consequentemente quebrar tabus! Abraços, Mariana.

Para mim a sensação de que este blog chega nas pessoas e pode conseguir influenciar suas condutas é sensacional. A história de Mariana há de ser a mesma de um sem número de mães que até desconfiam ou mesmo conhecem os problemas causados pela mamadeira mas têm muita resistência em quebrar tal dependência do produto, falta coragem. Por um lado é alarmante a gente pensar que nossa relação com os objetos é tão forte a ponto de nos sentirmos "amputados" ao deles ter que abrir mão, mas o bom da história é constatar que basta tomarmos a decisão de prescindirmos desses objetos para que tudo aconteça. Só depende da nossa decisão (ao contrário de tanta coisa que não conseguimos mudar nessa vida pelo fato de depender de outrém).

Então, Mariana, que bom, e que prazer ouvir isso!

Quanto ao copinho, estou projetando-o junto a uma equipe e não é coisa para logo. Por incrível que pareça, milhões de obstáculos se interpõem a essa iniciativa. Estamos enfrentando um a um, pode ter certeza.

Mas o fato é que qualquer copo, ou qualquer xícara pode cumprir bem a função, como na imagem abaixo, que repito aqui:




Como você pode notar, trata-se de uma xícara de cafezinho e a bebê aceita muito bem. Outra possibilidade é o que as enfermeiras utilizam lá no Banco de Leite do IFF: copo de geléia de mocotó. Ele é melhor por vários motivos: transparência (a pessoa que administra o líquido precisa enchergar como o bebê está respirando e bebendo, suas pausas), material (embora o vidro seja quebrável, sempre é mais indicado do que o plástico), dimensões (como o copo é mais baixinho, a inclinação necessária para a administração é leve) e pega (esses copos têm, na base, formas diferenciadas que permitem uma pega segura). 

Desejo a você sucesso nessa empreitada. Parabéns! e tudo de muito bom junto aos seus filhos.

sábado, 23 de julho de 2011

Liberdade?


Volta e meia recebo de pessoas amigas artigos e dicas de matérias, lançamentos de produtos e discussões sobre a questão amamamentação x leites artificiais e mamadeiras. Desta vez a contribuição veio de Fernando Carvalho, ex-aluno, amigo, colega no design da PUC e parceirão desde os tempos de minha pesquisa de doutorado até a atual empresa de projeto de um copinho.

A matéria em questão é "Leite materno vira mercadoria em site especializado nos EUA", de Daniel Buarque, publicada no G1 em 11 de julho de 2010, disponível em
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/07/leite-materno-vira-mercadoria-em-site-especializado-nos-eua.html .

Em síntese, o site "Only the Breast" vem comercializando leite humano pela internet. Originalmente, a ideia do site é "valorizar a importância do leite materno para o desenvolvimento do bebê", promovendo a amamentação. Lá há instruções de como ordenhar, armazenar e enviar o leite pelo correio "sem riscos". Bom, do pouco que conheço desse processo (que não é tão pouco assim), fico de cabelo em pé ao imaginar o manuseio e processamento de uma coisa tão delicada sendo feito autonomamente pelas mães. No Banco de Leite do IFF é muito impactante acompanhar todos os cuidados que eles tomam com o leite doado, sua procedência, a metodologia de processamento, o exame cuidadoso que se realiza para dosar a quantidade de gordura adequada para cada receptor daquele leite, de acordo com suas necessidades. Já pensou? adquirir leite humano de um "fornecedor" pela internet? A antiga prática da ama de leite ao menos permitia que houvesse contato e algum conhecimento sobre quem (e em quais condições) alimentava os bebês de outrem.

Ok, mas o que pretendo com este post não é demonstrar indignação, e sim refletir sobre por que cargas d'água embarcamos com tanta devoção na lógica industrial e consumista. Pra isso, mais alguns detalhes da matéria são necessários.

Tina Faye teve bebê e ele não aceitou tomar seu leite. Como sua produção era farta, ela ficou penalizada de jogá-lo fora. Mãe recente, estava em casa, economicamente improdutiva, vendo o citado site como uma oportunidade interessante e relevante. Cada 30 ml de leite valem US$ 3 (R$ 5). Com isso ela vem levantando mensalmente cerca de US$ 1.200. Como ela, perto de 3 mil mães vêm recorrendo à prática, considerada perigosa no artigo pela pediatra brasileira Ana Maria Escobar.

"Faye é parte de um mercado crescente e controverso nos Estados Unidos", país cuja cultura tende a autorizar a visão comercial para tudo que possa ser considerado mercadoria.

Daí, no final da matéria, a designer Mônica Mello (que mora em Nova Iorque há 12 anos), diz: "amamentar não é prático, dá trabalho, e por isso é aceito que as mãe vendam o leite".

Caramba!, até aí eu estava achando que as mães vendiam o leite excedente, aquele que sobrava da amamentação de seus filhos. Lendo isso, fiquei com a sensação (e deve ser isso mesmo) de que elas partem pros leites artificiais e mamadeiras logo de cara porque amamentar é chato e dá trabalho!!!!

(Não me contenho: ter filho dá trabalho, pombas! Uma vez, numa aula de Projeto, recebi a proposta de uma aluna que pretendia projetar um aparato para amarrar a criança na cadeirinha de restaurantes, de modo a que seus pais "tivessem paz" durante o jantar. Juro. Recomendei a ela que não tivesse filhos, ao menos não os tivesse antes de entender o non sense do que havia me dito. Ela cancelou a disciplina.)

Bom, mas também oreintei há alguns anos o projeto final de duas alunas, dedicado a criar argumentação gráfica para o Abiosorvente, um absorvente higiênico reaproveitável, fenômeno mundial entre as mulheres ecologicamente antenadas. Concordei com tudo, considerei o produto excepcional ... mas não aderi. Até o final de minha vida fértil continuei usando o absorvente descartável (e olha que quando mocinha eu usei a toalhinha higiênica, assim como usaram todas as gerações que precederam a minha). Eu visualizei a montanha de lixo acumulada pelo descarte desses produtos, constatei os efeitos do branqueador empregado para promover a alvura de cada absorvente, reconheci os prováveis efeitos químicos do produto sobre a saúde. Não consegui, não abri mão do conforto.

Os leites artificiais e as mamadeiras trazem um conforto do qual as mães tendem a não abrir mão também. Os produtos industriais possibilitam confortos dos quais as pessoas tendem a não abrir mão. Eles nos permitem executar tarefas antes "prosaicas" com praticidade e até requinte, tal como pode exemplificar o uso de talheres. Isso é civilização, os produtos nos trazem LIBERDADE.

E foi isso que me fez, durante a pesquisa de doutorado, cursar a disciplina "Teoria Política e Econômica", com o grande e querido professor José Maria Gomes. O que é a liberdade? O que é Progresso? O que é Desenvolvimento? (pra quem se interessar, esse virou um capítulo de minha tese, disponível no site da IBFAN e agora também na Biblioteca Virtual da FIOCRUZ).

Mas é o designer espanhol André Ricard que me permitirá concluir esse post com alguma coerência:

"Os artefatos que o homem criou para libertar-se, acabam também por escravizá-lo. Se por uma parte o ajudam, por outra o constrangem. (...) Estas máquinas e aparatos que nos auxiliam, que se fazem cada vez mais imprescindíveis, precisamente porque nos possibilitam uma maior eficácia. (...) Existe tal simpatia entre essas coisas e nós que, quando algo em nosso entorno objetual familiar sofre uma avaria, nos sentimos como se tivéssemos adoecido. É como se nosso sistema vegetativo estivesse efetivamente conectado a este equipamento externo: somatizamos seus problemas. As coisas são uma espécie de ortopedia para nós e nos relacionamos com elas como se se tratassem de autênticas próteses" (livre tradução para o português de matéria publicada na revista Foroalfa).

E, resgatando o nó do tema, o argumento impecável de Andrew Radford:

"Os aparelhos de diálise são capazes de realizar a função dos rins em caso de necessidade. A mamadeira pode realizar a função do seio materno em caso de necessidade. O problema está em que ninguém propõe que os aparelhos de diálise substituam os rins, enquanto que é proposto que a mamadeira substitua o seio materno".

Perdemos o senso?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Inmetro lança selo de garantia para berços

É isso. A produção industrial tem que ser permanentemente reavaliada.
Numa das matérias a que assisti sobre o assunto, dizia que mais de 100 crianças morreram recentemente por quedas de berço (dado do Ministério da Saúde).

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1567651-7823-INMETRO+VAI+COLOCAR+SELO+DE+SEGURANCA+NOS+BERCOS+DOS+BEBES,00.html

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Balanço em 8 meses de vida do blog

Em 8 meses de blog
3.898 acessos de várias partes do mundo
46 postagens
24 seguidores

E todo o futuro pela frente

Trabalho de formiguinha
E eu já tenho o meu montinho :o)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Apresentação da tese "O desdesign da mamadeira" - teleconferência Fiocruz

Compartilho aqui o link para a teleconferência realizada pela Rede RUTE- FIOCRUZ em novembro de 2010.

http://www.canal.fiocruz.br/video/index.php?v=telesessao-sig-telerede-blh-novembro-2010

O registro está com excelente qualidade de som e imagem.

Ressalvo que os supostos implantes de silicone para a boneca Barbie não passam de uma "brincadeira gráfica" postada na internet, que confundiu muitas pessoas. Portanto não deve ser entendida como real.

Incentivo a disponibilização deste link, visando a maior divulgação possível do problema.

terça-feira, 5 de julho de 2011

É fato




Depois de passar muitos meses gerando seus filhos, ao dar à luz, as mães e famílias deparam com a tarefa de zelar por eles. O tipo de alimentação que irão oferecer às crianças é fator crucial para a sobrevivência e o desenvolvimento saudável do bebê. A espécie humana é biologicamente “equipada” para alimentá-lo através do seio, mas culturalmente “equipada” também para criar, produzir e acessar formas alternativas para realizar a mesma tarefa.

O nascimento de uma criança é um momento extremamente delicado para todos os envolvidos, independentemente de qualquer variável econômica ou cultural. Muitos bebês nascem saudáveis e suas mães têm facilidade em amamentá-los. Algumas delas não desejam fazê-lo. Outras não podem alimentá-los porque estão doentes, porque morreram, porque deles foram separadas. Há também aquelas que enfrentam problemas no meio do processo, como o surgimento de ferimentos na auréola do seio e inflamações da mama. E aquelas que enfrentam um nível tal de stress para conseguir condições médicas adequadas ao parto que simplesmente não dispõem da paz que possibilita ao leite verter. Há crianças que nascem bem antes do tempo, são muito pequenas e suas feições e estado geral contrariam a expectativa de suas mães, que aguardavam por um bebê lindo. Elas não conseguem, ao menos de imediato, estabelecer com aquela criança um vínculo que possa desencadear sua produção de leite. Há também os bebês com lábio leporino, que não dispõem de condições para sugar o leite materno. Existem as mães subnutridas, que mal se sustentam em pé. Existem as que foram abusadas por parentes ou por estranhos e não tiveram como evitar as crianças com as quais a mentalidade geral supõe que devam estabelecer vínculo de afeto. Algumas mulheres retiram seios e glândulas mamárias para prevenir o câncer hereditário. Volta e meia, todos os bebês choram ou podem chorar a toda hora. Podem não deixar seus pais dormirem direito durante meses. Parentes próximos e amigos se preocupam com aquele choro insistente ou com a magreza da criança ou com o cansaço exagerado de seus pais, imaginando que algum problema esteja ocorrendo, como talvez a “fraqueza” ou “insuficiência” de leite na amamentação. Muitas mães também precisam se ausentar por um período, curto ou longo, como acontece com o retorno ao trabalho depois de alguns meses de licença-maternidade. O que fazer, então? O que fazer durante uma viagem, um compromisso social, um congestionamento de trânsito que adia a chegada da mãe por muitas horas?

Para estas e outras incontáveis situações existem os leites artificiais e o meio de administrá-los às crianças, a mamadeira. A prática de alimentar bebês artificialmente é largamente empregada em muitos lugares do mundo, há muito tempo.

Seria mesmo estranho que a diversidade e o nível de complexidade das situações descritas não desencadeassem o desenvolvimento de alternativas para a amamentação por uma sociedade inteligente, inventiva e produtiva.

O problema reside no quão "adequada e eficaz" vem demonstrando ser a alternativa criada e no grau de adesão que ela vem sendo capaz de suscitar na sociedade, apesar dos graves problemas e impactos que pode provocar.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

"Aprendendo" com a indústria de brinquedos




Pois é, há de ter sido assim que começamos a absorver a idéia de que bebês se alimentam por intermédio de mamadeiras. Nada mais "natural", já que as bonecas assim o fazem, e uma mamãe "zelosa" deve ser instruída desde a mais tenra infância.

Não tenho uma estatística, mas acredito que cerca de 90% das bonecas-bebê produzidas no mundo têm com a mamadeira como acessório.

Ou seja, a conduta de consequências nefastas (não se esqueçam que por ano morrem mais de 1 milhão de bebês por não terem sido amamentados, segundo a Organização Mundial de Saúde) está institucionalizada como procedimento seguro, carinhoso e responsável.