domingo, 30 de outubro de 2011

Multiplicando


Na semana passada participei do Centro de Estudos Giulliano de Oliveira Suassuna, com a palestra "Segurança alimentar de bebês: um direito relegado pela cultura da mamadeira", promovido pelo Grupo de Direitos Humanos e Saúde Helena Besserman, ENSP - Fiocruz, a convite de Luiz Carlos Fadel de Vasconcellos.

Foi muito legal. A pedido de Fadel, expliquei a ligação entre minha tese e os Direitos Humanos. Foi do estudo desse assunto que me encaminhei para a pesquisa sobre as mamadeiras (um caminho meio longo, mas direto).

Na hora dos comentários, uma moça disse mais ou menos assim: "Estou feliz por não ter ido pra casa! Valeu à pena ter ficado, pois aprendi muito com o conteúdo que você apresentou". A amiga dela, mais tarde, disse algo semelhante, deixando um comentário aqui no blog.

Quando ando de ônibus e não estou com a cabeça alugada por preocupações, fico olhando pras pessoas na rua, imaginando quem serão elas, pelo que estarão passando, coisas assim. E faço o mesmo com os prédios, as casas, me tocando que dentro de cada uma daquelas janelas tem algo acontecendo, coisas das mais variadas sortes.

Quem passava na Av. Brasil naquela hora em que a palestra acontecia, não poderia fazer a menor idéia do que se passava naquele auditório, onde pessoas tomavam contato com uma pesquisa que falava da mamadeira coisas das quais tanta gente nem suspeita.

Foi assim comigo também, há algum tempo atrás. Sempre passei pelo Instituto Fernandes Figueira sem poder avaliar o que acontecia ali. Um dia, entrei. A impressão que tive era de ter passado para outra dimensão, lugar em que as pessoas -de aparência tão comum- se dedicavam a lutas incríveis pela vida.

Numa daquelas salas, um dia, eu ouvi de Franz Novak a verdade sobre as mamadeiras. Aquilo me chocou, me envergonhou e me tranformou.

Me sinto hoje honrada por poder passar adiante informações tão importantes, tão vitais, tão preocupantes.

É o milagre da multiplicação.

Macacos me mordam!


 




Simone Carvalho me deu a notícia: este é o New Monkey Bébé Bottle Sling, um acessório lançado pelo site http://www.bebebottlesling.com/bebe_bottle_sling_instructions.htm.

Reparem na boniteza, no capricho da produção.

Como designer, eu sei direitinho que projetar um lance desses é trabalhoso, envolve muitas etapas, pesquisa de materiais, testes, uma infindade de fases que não somos capazes de imaginar quando simplesmente adquirimos um produto.

As pessoas que o conceberam, que trabalharam na sua fabricação, que fizeram as fotos, a mãe do bebê que aparece, todo mundo enfim há de estar vibrando com tudo isso. E as vendas também devem estar a mil.

Só que a primeira das etapas de trabalho de quem criou isso não foi feita: pesquisar o que diabos é a mamadeira. E seria muuuito fácil, pois na primeira página dos sites de pesquisa aparecem links que falam sobre os graves problemas provocados pelo produto.

Por trás da boniteza dessas fotos há, portanto, irresponsabilidade. No mínimo.

Algo que nos faz lembrar daqueles tão conhecidos macaquinhos: Não vejo, não ouço e não falo. 

sábado, 22 de outubro de 2011

Uma espécie de publicidade?



Comentei em post anterior sobre o "efeito colateral" de matérias sobre a proibição de BPA (Bisphenol A) em mamadeiras. A impressão que me dá é que elas resultam  numa publicidade a mais para esse produto.

Nesta matéria, exibida pelo Fantástico em 16 de maio de 2010, mães dizem ter como critério de escolha do produto a cor (menino ou menina). O tom da matéria (vide título) é de alerta sobre um grave perigo, mas uma infinidade de mamadeiras aparece no vídeo. Ao público é enfatizado que apenas as que podem liberar o polímero BPA são perigosas.

Porém, ao final da matéria o pediatra entrevistado nos dá um alento, recomendando fortemente a amamentação. Ele apresenta bons argumentos, ilustrados por imagens de bebês sendo aleitados por suas mães. Mas isso acaba soando como um sussurro.

Ok, já vimos que é complicado "abrir o verbo" contra as mamadeiras num veículo movido a comerciais que incluem justo os fabricantes de leites artificiais.

Mas a recomendação do pediatra assim fica TÃO suave, TÃO discreta perante o sortimento de produtos que apareceram antes que eu penso: PUTZ, há de haver uma maneira mais eficaz de falar do assunto sem contribuir tão abertamente para o prosseguimento do consumo da mamadeira.

Assim é incentivo.

sábado, 15 de outubro de 2011

Falando de "leite fraco" e do mercado que se abriu com essa falácia

Em resposta ao comentário de Mell:

A mudança operada na economia brasileira em inícios do século XX, propiciadora da passagem do sistema de produção agro-exportador para o urbano-industrial, provocou a ascensão da burguesia, marcando o desenvolvimento da sociedade de consumo, para a qual a mamadeira tornou-se um dos símbolos de modernidade e urbanismo. Em 1912 chegavam ao Brasil as primeiras remessas de leite condensado e farinha láctea da Suíça (Nestlé), promovendo a mamadeira de leite industrializado como alternativa para o “leite fraco”, denominado cientificamente hipogalactia, agora uma “patologia” institucionalizada (p. 39).


Um petiz sadio... um pae feliz... À Cia. Nestlé tenho o prazer de offerecer a photographia de meu filho Georges Ohnet, criado desde o nascimento com o excellente leite em pó ‘Nestogeno’, a quem deve ele saúde e robustez. Ohnet Ponty
O conhecidíssimo leite em pó Nestogeno já não é mais um produto de importação e sujeito, portanto, a flutuações de preços e a faltas no mercado. A mesma fórmula que tem feito o prestígio do Nestogeno entre os médicos pediatras do mundo inteiro e os mesmos apurados processos de fabrico seguidos nas usinas Nestlé da Suíça são adoptados em Araras, Estado de São Paulo, onde a Companhia Nestlé produz o Nestogeno nacional.
O NESTOGENO é um leite meio gordo (contém 12 % de gordura) e por isso sobejamente recommendado como o mais benéfico, na falta do leite materno. Tão puro como o similar importado, o Nestogeno nacional tem as vantagens de ser sempre mais novo e mais barato: cada lata custa apenas 5$000.[1]

O ano de 1921 demarcou o início das atividades da Nestlé em território nacional. A seguir, vieram as campanhas promocionais, a difusão de informações científicas e a monopolização do saber médico. A indústria envolveu-se em todas as esferas relacionadas com o desempenho profissional dos trabalhadores da saúde[2]. Essa estratégia de marketing foi se intensificando a partir dos anos de 1940, tal a reciprocidade de interesses entre a indústria e a classe médica: enquanto a primeira expandia seus lucros, a segunda realizava a aquisição e manutenção de sua autoridade perante seus pacientes, vencendo a influência de leigos e parteiras.


Confiança. Nos encontros que se verificam num consultório médico, entre Mãe e Pediatra há um sentimento mais profundo e mais natural do que a simples necessidade de controlar o desenvolvimento do bebê.
Entre ambos já se concretizou, antes da consulta, aquele elo indissolúvel e indispensável à nobre missão de medicar as criancinhas.
É a confiança. Da mãe que sente no médico, ao consultá-lo, a decisiva segurança na vida de seu filho. Do pediatra que ao prescrever esta ou aquela medicação, este ou aquele alimento, sabe que será fielmente cumprido o que por ele for prescrito, No mundo inteiro, este fenômeno se repete, diàriamente, milhares de vezes, e é bem alta e significativa a percentagem das mães que beneficiaram os seus filhos com a confiança que o pediatra depositou nos produtos.[3]

Em 2009, um convênio entre a Nestlé e a Sociedade Brasileira de Pediatria concebeu a campanha Quem vai ao pediatra volta tranquilo. Nos anúncios, depoimentos de uma mãe, de um pai e de uma avó ilustram a iniciativa lançada durante o Congresso Brasileiro de Pediatria:


A Nestlé, líder mundial em Nutrição Infantil e reconhecida por inovar constantemente neste segmento lançará {...] campanha de valorização do pediatra [...]. O intuito desta ação é reforçar o fato de que os benefícios de uma criança bem assistida desde o nascimento, sobretudo nos primeiros 12 meses, se prolongam por toda a vida. [...] A campanha [...] impactará os pais por meio de anúncios em revistas e internet, levando informação com um toque emocional (trecho de release distribuido pela Nestlé à imprensa).




[1] Peça publicitária em A Cigarra. Rio de Janeiro, Editora O Cruzeiro S.A., 1933.
[2] A empresa ligou seu nome a serviços assistenciais dos hospitais-escola, reuniões científicas, patrocínio a cursos de atualização e congressos, contribuição para o sustento econômico das revistas científicas com permanente publicação de anúncios, contato individual de seus representantes com a classe médica para fornecimento de amostras grátis, folhetos de alta qualidade gráfica e variados brindes (Goldenberg, 1989, p. 122).
[3] Peça publicitária da Nestlé da década de 1940 publicada na Revista Brasileira de Medicina. São Paulo, Moreira J. R. Editora, 1948.

sábado, 8 de outubro de 2011

História da Rede de Bancos de Leite Humano



Na última segunda-feira, estive no Instituto Fernandes Figueira para assistir a uma solenidade de comemoração da Semana de Doação de Leite Materno.

É sempre uma alegria rever as pessoas de lá, ver que persistem trabalhando dia após dia pela causa (João Aprígio diria "militando pela causa").

Naquele dia tomei conhecimento de que este vídeo está disponível no Youtube. Ele conta a história da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, que já alçou âmbito muito maior.

Reparem nos bebezinhos mínimos tomando leite no copinho!

Reparem também quando o locutor diz que a Rede brasileira é considerada a melhor do mundo.

Orgulho de conhecer quase toda essa gente que aí está.

Uma luta que vale a pena.