Inicio, com estes 2 modelos de mamadeiras, uma síntese da análise realizada pela tese "O desdesign da mamadeira".
Modelo 1: Tommee Tippee – Dinamarca
Projetada com a colaboração de especialistas em amamentação, a revolucionária nova Tommee Tippee Closer to Nature Easi Vent imita o fluxo natural, o movimento e a suavidade do seio materno (...). Sua forma única encoraja a ação natural de seu bebê a migrar do seio à mamadeira, transformando-a em uma segunda natureza .
Crítica – O fluxo do leite que o bebê ingere por intermédio da mamadeira é mais intenso que o da amamentação. O bebê alimentado ao seio consegue sugar conforme sua própria demanda, respirando nos intervalos que lhe convém. Por outro lado, a mamadeira goteja, obrigando a criança a acelerar seu ritmo de sucção e a alterar seu processo mecânico instintivo em razão da necessidade de elevar a língua ao céu da boca para contrair o bico do produto. Esse movimento artificial traz consequências para o processo respiratório e para a anatomia da arcada dentária; além disso, não há “ação natural” alguma na migração do seio à mamadeira, pois este é um produto inventado.
Design – O design inovador do produto fornece todos os atributos explorados em sua promoção. A mamadeira é closer to nature em termos de dimensão (maior do que as tradicionais, alcançando o diâmetro de um seio humano), de aparência (Just like Mum’s breast) e de sensação (a ponta do bico elástico se move para os lados). O “canudo” interno promete eliminar as bolhas de ar que provocam cólicas no bebê. Sua presença potencializa a tridimensionalidade do produto, contribuindo para que o efeito estético final resulte verdadeiramente impactante.
Mas como fazer para garantir a higienização de mais esta peça? Instruções severas de limpeza, assim como escovas muito finas acompanham o produto, formalmente análogo à da mamadeira vitoriana (Inglaterra - 1880), impossível de limpar. Registros históricos afirmam que naquela época apenas 2 entre 10 crianças ultrapassavam os 2 anos de idade (babybottlemuseum.uk).
O mesmo "princípio" está presente no próximo modelo, muito utilizado no Brasil:
Modelo 2: Dr. Brown’s – Estados Unidos
A mamadeira Dr. Brown’s vem recebendo numerosos prêmios de design e sendo aclamada pela comunidade médica. Na verdade, muitas de nossas mamadeiras têm sido adotadas por hospitais, UTIs neonatais, e consultórios médicos. Mais importantes são os testemunhos de mães e pais por todo o mundo, expressando sua excitação por inseri-la nos hábitos de alimentação de seus bebês.
Crítica – Prêmios de design e de medicina têm agraciado projetos de mamadeiras como se elas não oferecessem risco algum às crianças. Mas os hospitais públicos dos países signatários da aliança internacional em prol da amamentação proíbem a entrada do artefato em suas dependências. As indústrias de leites artificiais tradicionalmente mantêm relação muito próxima com profissionais da rede privada de saúde, fornecendo-lhes facilidades, brindes e promoções (Goldemberg, 1989). O nível de enraizamento do produto na cultura é tão alto que a adesão às novidades realmente poderá se dar “com excitação”, à revelia da extensa quantidade de informação disponível sobre os problemas por ele provocados.
Design – O canudo interno é apresentado como uma solução tecnológica que evita bolhas de ar. De diâmetro muito pequeno, exige higienização com uma escovinha muito fina. Sua aparência é mais de um utensílio médico do que de um objeto de consumo.
Se o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno vem controlando as embalagens, a publicidade e várias outras facetas dos produtos, os discursos promocional e formal das mamadeiras continuam exercendo - subliminarmente- grande apelo sobre os consumidores.