segunda-feira, 22 de julho de 2013

Quase inacreditável....


http://razoesparaacreditar.com/mae-traz-bebe-de-volta-a-vida-depois-2-horas-de-abracos/

Pais trazem de volta à vida um bebê recém-nascido.

Impressionante.

Tudo a ver com um post anterior aqui do blog: "Conhecendo o Método Mãe-Canguru na fonte"

Família Real e amamentação



Por intermédio do artigo “Royal baby: revolution in the nursery”, publicado no site da BBC News Magazine em 8 de junho (http://www.bbc.co.uk/news/magazine-22971177), recebemos indicações de que o bebê do Príncipe William e de Catherine –prestes a nascer no dia de hoje- muito provavelmente será amamentado, assim como o foi seu pai, pela Princesa Diana. Indicações também de que tal intenção se enquadra num modo de educação moderno, atualizado, contemporâneo.
Este fato pode até parecer insignificante diante da importância que este nascimento já assume na mídia e para a cultura. Mas, ao contrário, ele pode representar uma expressiva contribuição para a necessária mudança de mentalidade quanto à alimentação de bebês, na medida em que a adoção de tal conduta por figuras públicas no cenário mundial serve de inspiração e de modelo para as pessoas. E aqui vale invocar, sinteticamente, dois momentos históricos.
O primeiro deles se deu na Europa, onde a amamentação era considerada “indigna para uma dama”, marca de uma mentalidade que se espalhou pelas Américas com as Grandes Navegações, e que se consolidou com o surgimento das primeiras mamadeiras industriais, na Inglaterra Vitoriana (o artigo em questão relata inclusive que a Rainha Vitória teria reagido muito mal ao saber que suas filhas haviam optado por amamentar seus bebês). O fato é que as classes sociais mais abastadas tendem a servir de modelo para a população em geral, que acredita ser correto e moderno seguir a conduta assumida pelas primeiras, tradicionais formadoras de opinião.
O segundo momento, também ocorrido na Inglaterra, se deu em 2008. Devido ao cenário de disseminação indiscriminada do uso de leites artificiais e mamadeiras, um concurso de cartazes foi proposto à Universidade Britânica de Artes e Design, sob o tema Get Britain Breastfeeding. O objetivo do concurso foi o de “difundir a ideia de que a amamentação deve se tornar uma regra e não uma exceção”, conscientizando os “pais do amanhã”. Mas é importante salientar que a iniciativa se propunha a alterar um panorama dramático: no país-berço da Revolução Industrial, fora detectado que menos de 2% das mães amamentam seus filhos exclusivamente até os seis meses, apesar dos esforços das políticas de saúde governamentais e das orientações da Organização Mundial da Saúde em promover, apoiar e incentivar o aleitamento materno, através de alianças e acordos internacionais (próximos de completar o 400 aniversário!).
Decerto não poderemos contar com imagens de Catherine amamentando seu bebê, mas as notícias que puderem correr mundo sobre este assunto serão de grande valor.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Pediatria + indústria do leite em pó X amamentação



Ser “blogueira” a cada dia se revela uma experiência mais fascinante. Você passa a conhecer pessoas, em qualquer canto do mundo, com interesses semelhantes aos seus e com muito a te acrescentar acerca do tema do blog.
Posso dizer que hoje tenho profícuas amizades com pessoas que conheci aqui. E com algumas delas já marquei encontros muito prazerosos que se estendem em permanentes colaborações.
Pois Marisa Silveira, brasileira moradora de Washington, a quem conheci motivada pela sua expertise em fraldas reaproveitáveis (tema de alguns de meus posts), outro dia me apresentou de lá, dos EUA, o site de um pediatra daqui de pertinho, do Jardim Botânico – RJ. Esse o fascínio de estar em rede :o)
O Dr. Daniel Becker escreve sobre os mais diversos assuntos de interesse da pediatria (http://www.pediatriaintegral.com.br/), e muito me impressionou o texto enviado por Marisa, o segundo de uma série, que trata da relação pra lá de preocupante entre a indústria de fórmulas infantis e os pediatras.
Tratei disso em minha tese também, pois não há como ignorar que a cultura da mamadeira e dos leites artificiais está plantada em nossa sociedade com profundas e nocivas raízes.
Nossa tendência é confiar nos conselhos médicos. Porém, informação e bom senso são elementos indispensáveis para que não façamos “papel de bobo”.
Pedi licença ao Dr. Daniel, e reproduzo a seguir seu texto. Indispensável.

A Rendição dos Médicos

No final do último capítulo, contamos como as empresas fabricantes de leite em pó mudaram suas estratégias: em vez de vender fórmulas para as mães, venderiam para os pediatras. A ideia era conquistar a simpatia desses profissionais com tanta autoridade no que se refere à saúde da criança, e capazes de recomendar as suas fórmulas mesmo diante das evidências crescentes de que o leite materno era o alimento ideal para o bebê.

A Nestlé foi a mais agressiva nesta estratégia. Em nosso pais, ela conseguiu dominar inteiramente a Sociedade Brasileira de Pediatria. É uma situação muito curiosa: o discurso da sociedade é fortemente favorável ao leite materno, com recomendações de amamentação exclusiva até os 6 meses, comitês e documentos, bandeiras pró amamentação com a da licença de seis meses para as mulheres, etc. Por outro lado, quase todos os documentos, manuais, avisos de congresso, circulares, cursos de atualização, enfim, qualquer publicação da SBP tem o selo Nestlé enorme, gravado na capa. A maioria das atividades da SBP tem o patrocínio da Nestlé. Mais publicações e aulas são realizadas sobre os melhores “substitutos do leite materno”, do que as que ensinam como apoiar efetivamente uma mulher que amamenta.

A Nestlé oferece um curso anual de atualização em pediatria, em parceria com a Sociedade, que é tão ou mais popular que os principais congressos. Aqui no Pediatria Integral, fiz uma reportagem sobre a impressionante infantilização dos pediatras nesta ocasião: adultos participando de joguinhos infantis e competições de perguntas sobre os produtos Nestlé para ganhar bichinhos de pelúcia e sorvetes, consumindo biscoitos e leitinhos, e pior, comendo papinhas de bebê servidas por chefs em travessas de prata. As cenas eram patéticas - vocês podem conferir as fotos aqui no PI. A grande mãe tratando bem seus bebês, e esperando em troca uma enorme gratidão e reconhecimento.

Além da Nestlé, várias outras empresas fazem visitas constantes aos consultórios pediátricos oferecendo informações sobre seus muitos tipos de leite e suas inúmeras vantagens uns sobre os outros, todos tão “parecidos com o leite materno”. A amamentação é obviamente ignorada nessas visitas que muitas vezes terminam em farta distribuição de brindes, almoços em churrascarias e mesmo convites para visitas às sedes no exterior ou viagens a congressos.

Essa estratégia comercial segue o principio sócio-comportamental da “reciprocidade”. Quando alguém lhe oferece presentes, graças e gentilezas, você se sente em dívida com quem fez o gesto; cria-se uma simpatia difícil de resistir. Devolver as gentilezas é quase inevitável. É claro que este não é o único motivo, mas este é certamente um dos fatores que explicam tantas prescrições de leite em pó, mesmo ainda na maternidade. Uma estratégia cruel da indústria, mas extremamente e inteligente eficaz para vender os seus produtos e sabotar a amamentação. Da mesma forma que a imagem do leite em pó como sendo “mais forte” minava a confiança das mulheres em seu leite, também a prescrição apressada ou descuidada de complementos (“se você achar que tem pouco leite”, “se ela estiver com muita fome”... “uma mamadeira pra você descansar um pouco”...) é um fator claro e freqüente para que a mulher deixe de amamentar. Se em vez da mamadeira de leite artificial que mina a confiança da mulher, oferecermos informação, apoio e o carinho e técnica de profissionais especializados, o quadro certamente será outro.

Portanto vemos aqui, de saída, duas razões importantes para a dificuldade de amamentar percebida por tantas mulheres: a cultura do leite em pó, que persiste até hoje, nos fazendo duvidar da qualidade e da força do leite materno como suficiente para alimentar um bebê; e a facilidade com que alguns pediatras prescrevem o leite em pó, antes mesmo de surgir qualquer problema na mãe ou no bebê.

Há ainda um terceiro problema, ainda no terreno da medicina – ou, melhor dizendo, da má medicina. Veremos isso no próximo capítulo – em breve.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Há que soar o alarme


Eu me preocupo bastante com quem somos.
Outro dia, conversando com uma amiga mexicana sobre os protestos no Brasil, fui colocada de frente com o fato de que o estilo de vida contemporâneo pode ser incongruente com o espírito de luta por direitos civis. Ela apontava que lhe parece estar em pauta as questões macro, pelas quais se demonstra justificável indignação. Só que os mesmos que a demonstram, muitas vezes agem incoerentemente no âmbito micro, ou seja, em suas práticas diárias, fazendo coisas e consumindo coisas (seu exemplo mais eloquente) cuja produção é extremamente desrespeitosa aos valores que, de uma maneira estrutural, vêm sendo defendidos no âmbito macro.
Nossa conversa foi tão somente uma conversa, matutamos sobre isso.
Eu não sou vegetariana, embora já tenha pensado muito em ser e esbarrado em obstáculos significativos para tornar-me (hábitos alimentares da família, preguiça, adoração pelo sabor de peixes e carnes). Só que a produção desses alimentos envolve, grande parte das vezes, processos absurdos com os animais ou geram grandes enganações aos consumidores, como a notícia que tive recentemente sobre o salmão que consumimos: aquela cor é resultado de corantes e antibióticos, porque salmão da cor “salmão” só existe mesmo perto dos polos (o restante é cinza), e que aqueles que consumimos são criados em cativeiro (sem saltos para a reprodução), o que resulta em uma carne gorda demais, que nada tem a ver com as incríveis taxas de Omega 3, tão propagadas como saudáveis.
Pensei: não vou mais comer salmão!
Qual nada. Desde então não tive a capacidade de recusar esse peixe em quaisquer das vezes em que ele me foi oferecido. É como se eu pensasse: o estrago está feito, não vou deixar de comer a proteína que mais adoro.
Difícil.
Eu na verdade ajo assim com muitas coisas. Minha consciência ambiental conseguiu permitir que eu procurasse o caminho da “redução de danos” pra não ser tão bitolada quanto o estilo contemporâneo de vida me seduz a ser (eu poderia dizer que ele me obriga a ser, mas seria mentira, porque muita gente – no caso, aderiu ao vegetarianismo e nem morreu por causa disso).
A questão não é “ir pro céu”, agindo exemplarmente em tudo. Mas é possível se parar pra pensar e pra se informar. Principalmente porque nosso ritmo de vida nos afasta disso cada vez mais, do pensamento crítico. A gente tende a se deixar levar. E as empresas adoram isso.

Há alguns filmes que considero essenciais pra gente se dar conta desta questão:
- “O jardineiro fiel”, que relata a “chegada” de produtos farmacêuticos em comunidades africanas;
- “Obrigado por fumar”, reflexão sobre a cruzada contra o fumo em paralelo com o prosseguimento das indústrias do álcool e dos armamentos;
“Adeus Lenin”, uma história do avanço do capitalismo, na qual os produtos recebem grande enfoque narrativo;
e três outros documentários que estão disponíveis no Youtube:
- “The Corporation”, sobre o Lado B das empresas, não divulgado nas propagandas;
- “Comprar, tirar, comprar”, acerca da obsolescência programada, forte motor do capitalismo;
- “Fórmula Fix”, uma espécie de versão do primeiro filme aqui recomendado, que demonstra o estrago que as indústrias de fórmulas infantis fizeram e ainda fazem sobre as crianças e a sociedade como um todo.
Assistir a esses filmes, assim como a muitos outros com que o cinema tem tido a decência de nos brindar, pode ajudar bastante, pois nos tiram da inocência a que tendemos a estar condenados.
Eu não usei fraldas descartáveis em minha filha porque, na época, elas eram caríssimas. Mas lhe dei mamadeira -completa, boba e irresponsavelmente alheia aos males que tal produto provocava. Não consegui aderir aos absorventes higiênicos reutilizáveis enquanto ainda precisava deles, mesmo sabedora de todo o lixo por eles gerado. Por outro lado, há mais de cinco anos, deixei de fazer parte do que considero “a farra do Natal”, abolindo presentes e direcionando meu décimo terceiro salário para gastos necessários com a casa e com a renovação de produtos essenciais para a família. Mas tem coisas que não consigo fazer, e sigo, preocupada o bastante com quem somos.
Daí tenho notícias de festas de São João patrocinadas por empresas de bebida, aquela coisa de “Arraiá da Boa” e similares. Num dos vídeos, a cena de jovens bebendo cerveja por uma mangueira e atrações afins. Hoje em dia, parece não existir, não ser considerada por muitos, a possibilidade de festas sem patrocínio. E então essas empresas colocam ali seus “valores” corporativos, seduzindo os participantes a tomá-los para si, como valores humanos.
Adoro uma cerveja, mas minha amiga mexicana tem razão: a luz de segurança vem sendo paulatinamente apagada nos salões do nosso dia-a-dia.
Há que soar o alarme.


quarta-feira, 3 de julho de 2013