sábado, 26 de março de 2016

Por que amamentar?



Reconhecimento é uma coisa importante.

O Brasil foi reconhecido por pesquisa publicada em artigo científico na revista The Lancet como o país onde os esforços em prol da amamentação vêm surtindo os melhores resultados do mundo.

Tais resultados são fruto de esforços governamentais no decorrer de muitos anos, somados à intensa atividade da sociedade civil, organizada em grupos tais como redes nacionais de iniciativas internacionais, grupos de mães, sites, blogs, atuação pessoal de profissionais de vários setores da saúde etc.

Vale a gente atentar, nesse momento em que a população brasileira se encontra tão dividida em termos políticos, que o empenho pelo aumento das taxas de aleitamento materno é uma política de Estado, como bem pontuou Marina Réa na rápida conversa que tivemos semana passada (no seminário sobre a NBCAL, na Fiocruz). Esgueirando-se da fortíssima pressão das corporações que fabricam fórmulas lácteas e da violenta força da cultura do consumo, a experiência multiplicável (e como!) dos Bancos de Leite persevera, assim como são alcançados resultados em tantas outras frentes.

Quisera muitos outros problemas que enfrentamos neste país conseguissem merecer essa atenção continuada do Estado...

Mas a pesquisa em questão -que na primeira parte linkada acima demonstra com números eloquentes (e completamente preocupantes) a situação do aleitamento materno no mundo- vem a ser completada pela segunda parte do artigo. Um texto forte, impressionante, do qual destaco a seguinte frase:

"A melhora nas práticas de amamentação poderia prevenir, a cada ano, as mortes de 823.000 crianças menores de 5 anos e de 20.000 mulheres por câncer de mama".

Por que amamentar? Por isso. Além dos 4.567.543.221.344.545.565 MIL motivos que ainda não foram quantificados por artigos científicos, mas estão na ponta da língua de quem protege e tem a chance de praticar a amamentação.

terça-feira, 1 de março de 2016

Sobre copos de transição: mas nem eles?





É mesmo complicado a gente se deparar com um monte de "senões" a produtos lançados pela indústria pra facilitar as nossas vidas...

Quero tratar aqui do caso do copo de transição, produto concebido para propiciar a passagem do bebê do aleitamento materno (ou alimentação artificial por mamadeira) para o copo comum.

Para a criança, deixar de realizar a sucção no seio materno ou a "apertação do bico da mamadeira contra o céu da boca" e passar a beber líquidos em um copo, de golinhos, é realmente uma mudança significativa, um processo delicado. Daí a indústria concebeu esse produto, o copo de transição, para solucionar a questão com conforto e segurança.

Conforto e segurança?

O conforto eu acho que ela nos possibilita sim ou pelo menos nos faz crer que possibilita. O fato é que a gente desenvolveu uma paúra, um terror pela ideia de que, ao beber num copo, a criança vá derramar tudo, sujar tudo, dando um trabalhão pra limpar e, pior ainda, vá se engasgar direto (pouco ou nada se fala sobre os muitos casos de crianças que se engasgam com a mamadeira, mas soube por colegas pediatras e fonoaudiólogos que esses casos são comuns em emergências de hospitais).

O medo da sujeirada conta, e conta muitíssimo, vamos admitir. Nessa "onda" de achar que podemos ficar livres da sujeira, já nos tornamos (muita gente) dependentes das fraldas descartáveis e estamos nos enamorando (muita gente) dos alimentadores ou "redinhas", aquele tipo de chupeta gigante que propõe que as frutas e alimentos sejam colocados em seu interior para, macerados e intermediados por um bico de silicone perfurado ou por uma rede de fios, "facilitarem" o contato das crianças com os novos alimentos.  Mas como já comentado aqui em posts anteriores, com esses produtos podemos até achar que nos "livraremos" da sujeirada, mas só num primeiro momento, porque o volume de lixo gerado pelo uso das fraldas é inimaginável, e cercear o contato das crianças com frutas, sua forma, textura, gosto natural é algo que beira a insensatez. Eu acho que é insensatez mesmo...

Agora, segurança as indústrias nem sempre nos possibilitam não, embora nos digam justamente o contrário em peças publicitárias lindas e até comoventes. E tenho arrepios quando ouço frases do tipo "a comunidade médica recomenda", "qualidade assegurada por renomados pesquisadores" e coisas do gênero, porque a gente sabe que muitas vezes isso é balela, fruto de combinações de interesses financeiros entre as partes ou mentira mesmo.

Daí conto uma história:

Logo que defendi minha tese, "O desdesign da mamadeira", o feito foi publicado em algumas revistas e links renomados. Numa bela tarde, recebi o telefonema de um fabricante de produtos para mães e bebês, e como eu já iniciava junto ao Banco de Leite do Instituto Fernandes Figueira o projeto de um copinho (esse projeto não foi adiante, infelizmente), fiquei toda animada. Mas eles me perguntaram se eu daria meu endosso, como pesquisadora de Design com tese de doutorado recém defendida, a um copo de transição com bico. Eu disse que não. De tudo o que estudara e ouvira durante minha pesquisa, o bico não é aconselhável para bebês, em quaisquer fases. Então sugeri que eles procurassem o Banco de Leite (só que eu sabia que eles não apoiariam). Argumentei que o endosso de especialistas da saúde seria o mais adequado para a iniciativa de produção de tal produto (o ok de uma pesquisadora de Design é valioso sim, mas essa minha profissão vem, erroneamente, sendo valorizada por conceder estilo aos produtos, e intuí que poderia haver um uso distorcido do meu trabalho).

Mas esse telefonema contribuiu pra que eu ficasse mais ligada ainda nos lançamentos da indústria voltada aos cuidados com os bebês. já que a minha questão de fundo é a necessidade de avaliação da produção industrial.

Então vamos ao cerne da questão. Por esses dias encontrei no Facebook, finalmente, um artigo que super merece leitura sobre os problemas do copo de transição. Crianças ficando doentes com muita frequência, sem motivo aparente, os pais vão lá, abrem a válvula (que é lacrada!) do copo de transição da Tommee Tippee (dinamarquesa) e encontram a seguinte situação:









Céus, não existe nome pra isso... eu fico pensando nos designers que projetaram um troço desses...

Vale a leitura, no final, da carta da Tommee Tippee, direcionada aos "pais preocupados" com a questão, dizendo que eles vendem esse copo a rodo pelo mundo e não tiveram queixas, que é um sucesso, que são muito preocupados com a segurança de seus produtos bla-bla-bla, que nas instruções é dito que só podem ser colocados líquidos frios, coados etc, bla-bla-bla, que no manual tem instruções para a limpeza do copo, mas que darão toda a atenção ao caso... Ok, o fato é que são raras as pessoas que lêem os manuais de produtos como mamadeiras e copos... lá tem uns avisos sinistros, mas ninguém lê e assim as indústrias se protegem, citando que avisaram no manual. Mas nada salva, o treco é lacrado, e mesmo que a gente coe, lustre ou seja o que for, qualquer saliva, qualquer resquício de açúcar, restinho de fruta tem que ser integralmente retirado dos locais onde colocamos a boca, senão estaremos expostos a mofos, ao crescimento de microoganismos nocivos à saúde.

O que venho defendendo é que nós, consumidores, temos todos a capacidade de olhar para os produtos e refletir: será que isso presta mesmo? Não precisamos ser especialistas pra percebermos falhas de projeto nas coisas, ao menos em algumas delas. Ok, o problema é que as marcas são confiáveis, suas propagandas são incríveis, seus produtos são lindos. A questão é essa, não confie nas marcas, analise você, com seu bom senso. Todos nós sabemos que as bactérias existem, por exemplo.

Daí, compartilho agora o link do blog Prolactare, da Dra.Cristiane Gomes, em artigo detalhado sobre os males causados por esse copo de transição do ponto de vista da fonoaudiologia. E também sua matéria de hoje sobre aquelas tais "redinhas" (blog de fonoaudióloga ) pro bebê comer fruta. Vejam o quanto esses textos são esclarecedores.

Céus....