quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Alternativa para a mamadeira - resposta a comentários

Recebi recentemente dois comentários aos posts deste blog.

O primeiro

Olá! Eu tenho um filho de 7 meses que ainda mama, apesar de já comer papinha de verduras e frutas. Ele tem dificuldade em beber água e leite na mamadeira. Existe alguma alternativa para mamadeira? (Anônimo).

O segundo

No domingo meu bebê completa 6 meses e vamos iniciar os sucos e frutinhas. Por isso pesquisei pela internet copinhos para evitar a mamadeira. Adorei descobrir que qualquer copo funciona! Tenho mamadeiras novinhas que felizmente eu nunca usarei com o Caio (Dulce Campos).


Então resgato um vídeo do Youtube já publicado aqui, que mostra o bebê Luiza tomando leite em uma pequena xícara. Na verdade, qualquer xícara ou copo permitirá esse movimento de língua da criança, bem do jeito que um gatinho toma leite no prato. É o movimento natural que a criança faz pra mamar no seio da mãe, e ela ou nasce sabendo fazer isso ou aprende em muito pouco tempo.



A xicrinha funciona mas, enquanto não são projetados copinhos totalmente adequados para a função, o Banco de Leite do Instituto Fernandes Figueira vem utilizando copos de geléia de mocotó. Eles são de vidro, têm boa altura (menor do que copos de requeijão) e são transparentes, permitindo que o responsável pela criança visualize os movimentos de língua do bebê e, portanto, respeite suas paradas para respiração.

Uma prova de que o movimento exigido pela mamadeira é totalmente estranho à natureza humana é a seguinte: quando, pelas primeiras vezes, colocamos uma chupeta na boquinha de um bebê, ele a empurra pra fora com a língua, não é? Isso porque ele projeta a língua pra fora pra pressionar os dutos do seio materno que lhe trarão o leite. É isso que ele sabe fazer e que garantirá um desenvolvimento normal de sua arcada etc. Desse jeito, ele é que determina o ritmo dos goles, respirando quando lhe convém.



Agora, para beber o leite da mamadeira, o bebê precisa forçar sua natureza pra elevar a língua contra o céu da boca e pressionar o bico. O fluxo do leite é ininterrupto! O discurso promocional dos fabricantes às vezes defende que assim, mais rápido, é melhor. E muitos pais -ao perceberem seus filhinhos mais "glutões", acreditam nesse discurso. Mas putz!


domingo, 27 de novembro de 2011

Afinal, é Natal.

Na semana passada, dando aquela olhada descomprometida na banca de jornais, deparei com uma edição especial da revista "Carta Capital", sobre "As empresas mais admiradas no Brasil" em 2011. Imaginei: a Nestlé deve ser uma dessas empresas ... Batata!

É mesmo impressionante o poder das corporações hoje em dia. E não é pensar, ah, o poder econômico, algo distante de nós, além de nossa capacidade de visualização.

É um poder muito próximo, eu diria mesmo uma afeição que as pessoas nutrem por produtos e marcas. E não adianta a internet estar lotada de informações sobre a loucura que na verdade essas empresas são. As pessoas optam por ignorar tais informações, por não acessá-las.

No exemplo mais extremo [da percepção da empresa acerca da transformação de ex-excluídos em potenciais consumidores], a Nestlé mantém um barco na Amazônia em visita constante a 27 cidades, numa área que cobre 1 milhão de habitantes da zona ribeirinha. 'Qual o significado de levar um sorvete até lá? Tornar a marca conhecida na região' (Carta Capital, p. 114).

Se leva sorvete, não levará também fórmulas lácteas para bebês?! Parece que estou vendo aqui aquilo que o relatório "The Baby killer" descreveu se passar na África, em 1974...

Daí me lembro que, em recente congresso na Fiocruz, representantes do governo federal disseram que as ações do Ministério da Saúde em prol da amamentação, a partir de 2011, seriam focadas nas regiões Norte e Nordeste. Eu fiz então uma pergunta: por que nessas regiões, se é na região Sudeste que os índices de desmame precoce são os mais altos do país e é justo essa região que produz material cultural disseminado para o restante do Brasil? Recebi a seguinte resposta dos componentes da mesa (que não escondiam sua preocupação): porque há mais chances de interferir positivamente no Norte e Nordeste.

Depois de ler sobre o "sucesso" da Nestlé na Carta Capital, concluo que nem lá, nem lá.

Mais uma vez em primeiro lugar entre as mais admiradas do macrossetor de Bens de Consumo não Duráveis, a Nestlé tem focado esforços em levar seus produtos à população recentemente incuída no mercado de consumo. 'Temos de buscar responder às necessidades das classes menos favorecidas. Nutrição, saúde e bem-estar são valores importantes para todo o público' (p. 260).

Em síntese, concentrem-se na seguinte afirmativa: "Nestlé faz bem". Não leiam "The Baby Killer", não baixem no Youtube os documentários "Fórmula Fix" e "The Corporation", não se informem sobre as maravilhas do leite humano e nem parem pra pensar criticamente naquilo de mal que as mamadeiras podem provocar. Apenas embarquem na onda de felicidade que as empresas podem nos oferecer.

Afinal, é Natal.

domingo, 6 de novembro de 2011

Louise Bourgeois


Um dia ainda hei de realizar o sonho de organizar uma exposição de arte sobre a questão da amamentação x mamadeira, convidando meus inúmeros amigos a gerar trabalhos a partir do conhecimento que obtive sobre essa preocupante realidade.

Por enquanto sigo permanentemente alerta a tudo que diga respeito ao assunto. E ontem deparei com essa escultura.

Chama-se Nature Study (1984-2002). Está exposta no MAM do Rio de Janeiro, na mostra "O retorno do desejo proibido", da artista francesa Louise Bourgeois (1911-2010).

É uma forma impressionante. Um ser dramaticamente acocorado, com garras, pênis, rabo e várias duplas de seios. Uma forma tensa, cheia de energia, prestes a saltar dali.

O trabalho da artista é todo calcado na reflexão psicanalítica. Vale à pena conhecer.

O que me impressionou ainda nessa escultura é que, embora pareça ser em mármore ou algum material duro, é de borracha. Borracha azul.

Genial.

Parto normal x parto cesário


Recebi de um ex-aluno (muito querido) a dica desse vídeo. Trata-se do trailler de um filme que estréia em março de 2012. Acrescento a ele trecho da minha tese "O desdesign da mamadeira":

Desde o começo da humanidade, as crianças, logo após o nascimento eram postas ao lado de sua mãe. No começo deste século foi criado o berçário, para proteger as crianças contra as infecções hospitalares. Após a Segunda Guerra Mundial, pensava-se que a mamadeira era a melhor forma de alimentação e esta era dada ao recém-nascido antes mesmo que ele saísse do hospital, sem que se soubesse por exemplo, quase nada de imunologia nessa época. E através do berçário, conseguiu-se interferir em uma coisa fundamental: o relacionamento precoce entre mãe e filho. […] Logo após o bebê nascer, alguém o enxuga, retirando todo o líquido amniótico e o verniz caseoso, cuja função é a de proteger e hidratar a pele sensível do recém-nascido. Em alguns hospitais, dá-se um banho de chuveiro, aspira-se o bebê com uma sonda, vira-se o bebê para todos os lados e, se ele não chora vigorosamente logo após o nascimento, ainda recebe umas palmadas, pesa-se, mede-se. (Citando Martins) Em alguns casos, num arroubo de preocupação afetiva, tem-se o cuidado de mostrar a criança rapidamente à mãe, que tenta desesperadamente, durante breves momentos, olhar seu bebê... […] É então levado ao berçário, onde são feitos os registros de suas condições físicas e recebe uma pulseira com o número que o identifica. A única coisa que não fazem é levar a criança para ser amamentada. (Araújo, 1997, p. 41-43)

O auge da força da sucção, que se dá na primeira meia hora após o nascimento, é desperdiçado quando o bebê é levado ao berçário, onde, muitas vezes, ele recebe fórmulas lácteas. Embora hoje a orientação se volte para a humanização do parto e para políticas públicas de incentivo ao parto normal[1], infelizmente persiste em muitos hospitais o afastamento do bebê.

A conduta de muitos obstetras e pediatras reforça a persistência dessa mentalidade. As “saídas fáceis e práticas” do parto cesáreo e da administração de leites artificiais entram no lugar do encorajamento e do apoio ao enfrentamento de realidades contraditórias e em permanente transformação (p. 45-46).

A autora, citando Paulete Goldemberg, aponta a necessidade de considerar a influência das transformações históricas sobre a sociedade para se diagnosticar as causas reais do desmame. A adesão ao leite em pó, ao nível das representações, concede à mulher “um sentimento de pertencimento social e de acesso aos benefícios gerados pela sociedade” (p. 54-55). Recorrendo a Edgard Morin e Moscovici, Lylian Dalete Soares de Araújo sublinha que a cultura de massa tem a capacidade de fabricar pseudo-necessidades que se transmitem de geração a geração de forma automática (p. 62-63). O poder simbólico agregado aos produtos que desenham um estilo de vida gera comportamentos que tendem a desmotivar a busca pelo conhecimento dos processos humanos, deflagrando correntezas difíceis de vencer.


[1] Campanha de incentivo ao parto normal do Ministério da Saúde, 2009.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Marcas dos cariocas

Pelo segundo ano consecutivo, a Nestlé foi eleita a marca mais querida dos cariocas na categoria ALIMENTAÇÃO. A pesquisa foi realizada para o jornal O Globo.

"Ao longo dos 90 anos em que está no Brasil, a Nestlé construiu uma relação bastante próxima do consumidor carioca. Além disso, a renovação do portfólio da empresa, sempre preocupada em desenvolver produtos que levem nutrição, saúde e bem-estar para a rotina do brasileiro, também é responsável por associar a marca à qualidade de vida" (trecho da matéria publicada no caderno especial em 29 de outubro de 2011).

Vale relebrar que o "trabalho" realizado pela empresa figurou no relatório "The Baby Killer", publicado em 1979.



"Bebês do terceiro mundo estão morrendo porque suas mães os alimentam no estilo ocidental, com leites infantis em mamadeira. Muitos dos que não morrem, entram num círculo vicioso de má nutrição e doença. (...) A indústria de alimentos infantis é acusada de promover seus produtos em comunidades que não podem usá-los adequadamente, de usar propaganda, vendedoras em uniformes de enfermeiras, de distribuir amostras e donativos para persuadir as mães a abandonarem a amamentação" (The Baby Killer, Mike Muller).

O paradigma científico internacional mudou radicalmente a partir da publicação desse relatório. A Organização Mundial de Saúde lidera desde então uma luta mundial pela amamentação, contra as incursões da indústria.

A Nestlé também mudou. Cresceu, cresceu, e se tornou o maior fabricante de alimentos do mundo. Aturou alguns boicotes de países do hemisfério norte, prosseguiu crescendo. Por dois anos consecutivos foi escolhida como "marca dos cariocas".

Incrível, ela vai continuar crescendo, e crescendo porque arranja uns jeitos realmente eficazes de se firmar entre o público. Na cidade de Vevey, na Suiça, a empresa montou o Alimentarium - Musée de l'alimentacion.

Eles oferecem cursos de culinária às crianças, dentre várias outras atrações.



www.alimentarium.ch/ 

domingo, 30 de outubro de 2011

Multiplicando


Na semana passada participei do Centro de Estudos Giulliano de Oliveira Suassuna, com a palestra "Segurança alimentar de bebês: um direito relegado pela cultura da mamadeira", promovido pelo Grupo de Direitos Humanos e Saúde Helena Besserman, ENSP - Fiocruz, a convite de Luiz Carlos Fadel de Vasconcellos.

Foi muito legal. A pedido de Fadel, expliquei a ligação entre minha tese e os Direitos Humanos. Foi do estudo desse assunto que me encaminhei para a pesquisa sobre as mamadeiras (um caminho meio longo, mas direto).

Na hora dos comentários, uma moça disse mais ou menos assim: "Estou feliz por não ter ido pra casa! Valeu à pena ter ficado, pois aprendi muito com o conteúdo que você apresentou". A amiga dela, mais tarde, disse algo semelhante, deixando um comentário aqui no blog.

Quando ando de ônibus e não estou com a cabeça alugada por preocupações, fico olhando pras pessoas na rua, imaginando quem serão elas, pelo que estarão passando, coisas assim. E faço o mesmo com os prédios, as casas, me tocando que dentro de cada uma daquelas janelas tem algo acontecendo, coisas das mais variadas sortes.

Quem passava na Av. Brasil naquela hora em que a palestra acontecia, não poderia fazer a menor idéia do que se passava naquele auditório, onde pessoas tomavam contato com uma pesquisa que falava da mamadeira coisas das quais tanta gente nem suspeita.

Foi assim comigo também, há algum tempo atrás. Sempre passei pelo Instituto Fernandes Figueira sem poder avaliar o que acontecia ali. Um dia, entrei. A impressão que tive era de ter passado para outra dimensão, lugar em que as pessoas -de aparência tão comum- se dedicavam a lutas incríveis pela vida.

Numa daquelas salas, um dia, eu ouvi de Franz Novak a verdade sobre as mamadeiras. Aquilo me chocou, me envergonhou e me tranformou.

Me sinto hoje honrada por poder passar adiante informações tão importantes, tão vitais, tão preocupantes.

É o milagre da multiplicação.

Macacos me mordam!


 




Simone Carvalho me deu a notícia: este é o New Monkey Bébé Bottle Sling, um acessório lançado pelo site http://www.bebebottlesling.com/bebe_bottle_sling_instructions.htm.

Reparem na boniteza, no capricho da produção.

Como designer, eu sei direitinho que projetar um lance desses é trabalhoso, envolve muitas etapas, pesquisa de materiais, testes, uma infindade de fases que não somos capazes de imaginar quando simplesmente adquirimos um produto.

As pessoas que o conceberam, que trabalharam na sua fabricação, que fizeram as fotos, a mãe do bebê que aparece, todo mundo enfim há de estar vibrando com tudo isso. E as vendas também devem estar a mil.

Só que a primeira das etapas de trabalho de quem criou isso não foi feita: pesquisar o que diabos é a mamadeira. E seria muuuito fácil, pois na primeira página dos sites de pesquisa aparecem links que falam sobre os graves problemas provocados pelo produto.

Por trás da boniteza dessas fotos há, portanto, irresponsabilidade. No mínimo.

Algo que nos faz lembrar daqueles tão conhecidos macaquinhos: Não vejo, não ouço e não falo. 

sábado, 22 de outubro de 2011

Uma espécie de publicidade?



Comentei em post anterior sobre o "efeito colateral" de matérias sobre a proibição de BPA (Bisphenol A) em mamadeiras. A impressão que me dá é que elas resultam  numa publicidade a mais para esse produto.

Nesta matéria, exibida pelo Fantástico em 16 de maio de 2010, mães dizem ter como critério de escolha do produto a cor (menino ou menina). O tom da matéria (vide título) é de alerta sobre um grave perigo, mas uma infinidade de mamadeiras aparece no vídeo. Ao público é enfatizado que apenas as que podem liberar o polímero BPA são perigosas.

Porém, ao final da matéria o pediatra entrevistado nos dá um alento, recomendando fortemente a amamentação. Ele apresenta bons argumentos, ilustrados por imagens de bebês sendo aleitados por suas mães. Mas isso acaba soando como um sussurro.

Ok, já vimos que é complicado "abrir o verbo" contra as mamadeiras num veículo movido a comerciais que incluem justo os fabricantes de leites artificiais.

Mas a recomendação do pediatra assim fica TÃO suave, TÃO discreta perante o sortimento de produtos que apareceram antes que eu penso: PUTZ, há de haver uma maneira mais eficaz de falar do assunto sem contribuir tão abertamente para o prosseguimento do consumo da mamadeira.

Assim é incentivo.

sábado, 15 de outubro de 2011

Falando de "leite fraco" e do mercado que se abriu com essa falácia

Em resposta ao comentário de Mell:

A mudança operada na economia brasileira em inícios do século XX, propiciadora da passagem do sistema de produção agro-exportador para o urbano-industrial, provocou a ascensão da burguesia, marcando o desenvolvimento da sociedade de consumo, para a qual a mamadeira tornou-se um dos símbolos de modernidade e urbanismo. Em 1912 chegavam ao Brasil as primeiras remessas de leite condensado e farinha láctea da Suíça (Nestlé), promovendo a mamadeira de leite industrializado como alternativa para o “leite fraco”, denominado cientificamente hipogalactia, agora uma “patologia” institucionalizada (p. 39).


Um petiz sadio... um pae feliz... À Cia. Nestlé tenho o prazer de offerecer a photographia de meu filho Georges Ohnet, criado desde o nascimento com o excellente leite em pó ‘Nestogeno’, a quem deve ele saúde e robustez. Ohnet Ponty
O conhecidíssimo leite em pó Nestogeno já não é mais um produto de importação e sujeito, portanto, a flutuações de preços e a faltas no mercado. A mesma fórmula que tem feito o prestígio do Nestogeno entre os médicos pediatras do mundo inteiro e os mesmos apurados processos de fabrico seguidos nas usinas Nestlé da Suíça são adoptados em Araras, Estado de São Paulo, onde a Companhia Nestlé produz o Nestogeno nacional.
O NESTOGENO é um leite meio gordo (contém 12 % de gordura) e por isso sobejamente recommendado como o mais benéfico, na falta do leite materno. Tão puro como o similar importado, o Nestogeno nacional tem as vantagens de ser sempre mais novo e mais barato: cada lata custa apenas 5$000.[1]

O ano de 1921 demarcou o início das atividades da Nestlé em território nacional. A seguir, vieram as campanhas promocionais, a difusão de informações científicas e a monopolização do saber médico. A indústria envolveu-se em todas as esferas relacionadas com o desempenho profissional dos trabalhadores da saúde[2]. Essa estratégia de marketing foi se intensificando a partir dos anos de 1940, tal a reciprocidade de interesses entre a indústria e a classe médica: enquanto a primeira expandia seus lucros, a segunda realizava a aquisição e manutenção de sua autoridade perante seus pacientes, vencendo a influência de leigos e parteiras.


Confiança. Nos encontros que se verificam num consultório médico, entre Mãe e Pediatra há um sentimento mais profundo e mais natural do que a simples necessidade de controlar o desenvolvimento do bebê.
Entre ambos já se concretizou, antes da consulta, aquele elo indissolúvel e indispensável à nobre missão de medicar as criancinhas.
É a confiança. Da mãe que sente no médico, ao consultá-lo, a decisiva segurança na vida de seu filho. Do pediatra que ao prescrever esta ou aquela medicação, este ou aquele alimento, sabe que será fielmente cumprido o que por ele for prescrito, No mundo inteiro, este fenômeno se repete, diàriamente, milhares de vezes, e é bem alta e significativa a percentagem das mães que beneficiaram os seus filhos com a confiança que o pediatra depositou nos produtos.[3]

Em 2009, um convênio entre a Nestlé e a Sociedade Brasileira de Pediatria concebeu a campanha Quem vai ao pediatra volta tranquilo. Nos anúncios, depoimentos de uma mãe, de um pai e de uma avó ilustram a iniciativa lançada durante o Congresso Brasileiro de Pediatria:


A Nestlé, líder mundial em Nutrição Infantil e reconhecida por inovar constantemente neste segmento lançará {...] campanha de valorização do pediatra [...]. O intuito desta ação é reforçar o fato de que os benefícios de uma criança bem assistida desde o nascimento, sobretudo nos primeiros 12 meses, se prolongam por toda a vida. [...] A campanha [...] impactará os pais por meio de anúncios em revistas e internet, levando informação com um toque emocional (trecho de release distribuido pela Nestlé à imprensa).




[1] Peça publicitária em A Cigarra. Rio de Janeiro, Editora O Cruzeiro S.A., 1933.
[2] A empresa ligou seu nome a serviços assistenciais dos hospitais-escola, reuniões científicas, patrocínio a cursos de atualização e congressos, contribuição para o sustento econômico das revistas científicas com permanente publicação de anúncios, contato individual de seus representantes com a classe médica para fornecimento de amostras grátis, folhetos de alta qualidade gráfica e variados brindes (Goldenberg, 1989, p. 122).
[3] Peça publicitária da Nestlé da década de 1940 publicada na Revista Brasileira de Medicina. São Paulo, Moreira J. R. Editora, 1948.

sábado, 8 de outubro de 2011

História da Rede de Bancos de Leite Humano



Na última segunda-feira, estive no Instituto Fernandes Figueira para assistir a uma solenidade de comemoração da Semana de Doação de Leite Materno.

É sempre uma alegria rever as pessoas de lá, ver que persistem trabalhando dia após dia pela causa (João Aprígio diria "militando pela causa").

Naquele dia tomei conhecimento de que este vídeo está disponível no Youtube. Ele conta a história da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, que já alçou âmbito muito maior.

Reparem nos bebezinhos mínimos tomando leite no copinho!

Reparem também quando o locutor diz que a Rede brasileira é considerada a melhor do mundo.

Orgulho de conhecer quase toda essa gente que aí está.

Uma luta que vale a pena.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Mamadeiras: alguns esclarecimentos fornecidos em entrevista

Logo que defendi minha tese, em 2010, dei algumas entrevistas já divulgadas aqui no blog.

A que disponibilizo a seguir foi dada ao Portal da PUC-Rio, mas não entrou na programação.

Pedi os arquivos e só agora eles foram devidamente formatados para entrar no ar.


sábado, 24 de setembro de 2011

Um cordel arretado de bom

Em 1983, a secretaria de Estado de Saúde e Higiene do RJ publicou o cordel "Na luta contra as doenças das crianças, a vitória da saúde é a melhor atitude", de P.T. Souza.

Quando entrevistei Maria Inês Couto de Oliveira, logo no início de minhas pesquisas para a tese, ema me presenteou com um exemplar. Vale a pena a leitura!


Vinde musa inspiradora
Com vossas grandezas mil
Refresacar minha mente
Que se encontra tão febril
Para que fique sadia
E eu verseje em poesia
Sobre saúde infantil

As fábricas de ataúde
Faturam constantemente
Com a mortandade infantil
Que existe diariamente
Vamos lutar contra isso
Assumindo o compromisso
Em favor do inocente

Mesmo sendo um pai carente
Sem afeto e sem razão
Não deixe seu filho inocente
Entregue à solidão
E você mãe oprimida
Que deu à luz deu a vida
Cumpra sua destinação

Cuide da alimentação
Com o seu leite sagrado
Jamais dê a um pagão
Produto industrializado
Leite Materno é vigor,
Sadio e protetor
Não é um leite forjado

Anote em vosso caderno
O conselho que estou dando
Verá que tem argumento
O que estou propagando
Leite Materno é pureza
Orgulho da natureza
Não é um leite nefando

Aleitamento materno
Traz prazer, traz alegria
Combate as infecções
Evita a desinteria
Criança amamentada
Fica robusta, corada
Cheia de vida e sadia

...

Maternidades e creches
Também são de precisão
Para a saude completa
Do inocente pagão
Um bebê recém-chegado
Tem que ser amamentado
Seis meses com precisão

...

Louvo aos profissionais
Que lutam pela saúde
Jesus derrame em seus lares
Amor, carinho, virtude
Estes verdadeiros mastros
Representam mais que os astros
Do cinema em Roliúde

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Mamadeira e obesidade

Muitas são as vantagens da amamentação, tanto para o bebê quanto para a mãe. Paulo Roberto Alves Lopes, no artigo “As Vantagens da Amamentação. Por que Amamentar?” enumera as vantagens nutricionais, as propriedades do colostro, vantagens imunológicas contra infecções e alergias, neuromotoras e cognitivas, psicoemocionais, ortodônticas e dentais para o bebê, além das seguintes benesses para a mãe: espaçamento entre as gestações, prevenção das hemorragias pós-parto, involução do útero às dimensões normais, prevenção de anemias, proteção contra o câncer ginecológico, depressão pós-parto. O autor cita o médico uruguaio Luis Morquio com a frase “bebês que mamam no peito quase nunca adoecem. Quando adoecem, quase nunca morrem”, e destaca que “o leite materno é o modelo de alimento perfeito que todos os produtos industrializados procuram imitar, sem possibilidade de êxito” (Lopes in Rego, 2002, p. 5-21).




A obesidade figura entre os problemas provocados pelo desmame e pela consequente administração de fórmulas infantis a bebês. Enfermidade ignorada até pouco tempo pelas ações nacionais e internacionais de saúde, em 1997 a obesidade foi considerada uma doença em desenvolvimento alarmante, o que foi reconhecido pela OMS — que instituiu, nesse ano, o Dia Mundial de Combate à Obesidade .
Pesquisadores norte-americanos e brasileiros publicaram em 2008 estudos demonstrativos de que o contato do bebê com a alimentação artificial em seus primeiros dias de vida cria condições favoráveis para que, ao crescer, ele se torne obeso . Segundo o pediatra Fábio Ancona, da Unifesp, “quando a criança é amamentada, recebe a quantidade de calorias que o organismo dela precisa – não a que a mãe ‘acha que ela precisa’” e isso é “essencial para a regulação do metabolismo do bebê. O corpo aprende o quanto de energia precisa absorver para dar conta dos seus gastos”, enquanto que, ao consumir calorias além do necessário, estas se armazenam no organismo em forma de gordura . Nicolas Stettler, autor líder da pesquisa norte-americana, identificou a existência de “um período crítico na primeira semana de vida, em que a fisiologia do organismo pode ser programada para o desenvolvimento de doenças ao longo da vida”.

Vale notar que é um grande equívoco acreditar que o leite de vaca é mais forte do que o humano pelo fato de a criança amamentada sentir fome em intervalos menores.
...o leite materno, por ser um alimento perfeitamente adequado às necessidades do bebê, é digerido com mais facilidade e rapidez do que o leite artificial. Por esta razão, é mais comum o bebê alimentado por mamadeira fazer intervalos maiores entre as mamadeiras, pois a digestão se faz mais lentamente devido à maior quantidade de resíduos. (Maldonado apud Araújo, 1997, p. 123)

domingo, 14 de agosto de 2011

Iniciando um álbum de figurinhas





Começo hoje a confeccionar algumas mensagens curtas, como essa, com a intenção de dar visualidade a algumas questões importantes. Já escutei a frase "Leite de vaca é bom para bezerros" algumas vezes. A primeira delas foi quando cursava uma disciplina do doutorado lá no Instituto Fernandes Figueira. E costumo repeti-la em minhas apresentações. As imagens são "clipartes", disponíveis na internet gratuitamente para reprodução. Daí eu dei um "tratinho" no Photoshop.

Estou encarando isso como uma geração de "figurinhas", como aquelas de álbuns. Quem quizer, pode disseminar, ok?

sábado, 6 de agosto de 2011

Colhendo frutos

Dedico este post a registrar duas recentes conquistas, sinais de boa colheita das sementes que venho espalhando por aí.

Mas não falarei delas sem antes reconhecer algumas limitações, como a de que não sou suficientemente ágil para acompanhar de perto inúmeras outras iniciativas com objetivos semelhantes ao deste blog. O fato é que o MamadeiraNuncaMais entrou na minha vida arrastando móveis de um cômodo pequeno e dele já tomou conta. Mas aos poucos hei de galgar degraus e interagir mais com esses valiosos companheiros (os outros blogs).

Dito isso, vamos às conquistas:

A primeira delas é o fato de a conferência que fiz no Canal Saúde - Fiocruz ter ultrapassado as 1.000 exibições, em três semanas. Como ali eu explico porque as mamadeiras são um gravíssimo problema, imagino que muita gente possa estar se servindo deste material para se informar e mesmo para informar a outras pessoas (uma amiga pediatra pediu licença para exibir a videoconferência para seus alunos). É isso aí: a coisa foi feita justamente para que possamos "mandar ver" na sua disseminação.
http://www.canal.fiocruz.br/video/index.php?v=telesessao-sig-telerede-blh-novembro-2010

A segunda conquista é também muito especial. Jorge Frascara, meu autor dileto no design, a quem tive o privilágio de conhecer pessoalmente e com quem venho trocando ideias desde então, me disse que incluiu em seu próximo seminário o problema das mamadeiras. Por um lado, é uma grande honra ter meu trabalho reconhecido por tão importante autor. Por outro, que luxo é ter a questão das mamadeiras sendo incluída no discurso de um designer desse quilate! Isso há de conceder credibilidade ao tema e disseminá-lo por importantes searas do design.

http://www.seminariofrascara.net/

terça-feira, 26 de julho de 2011

O ambiente cultural do post anterior

Trecho da tese que tem tudo a ver com a foto do post anterior:

A mudança operada na economia brasileira em inícios do século XX, propiciadora da passagem do sistema de produção agro-exportador para o urbano-industrial, provocou a ascensão da burguesia, marcando o desenvolvimento da sociedade de consumo, para a qual a mamadeira tornou-se um dos símbolos de modernidade e urbanismo. Em 1912 chegavam ao Brasil as primeiras remessas de leite condensado e farinha láctea da Suíça (Nestlé), promovendo a mamadeira de leite industrializado como alternativa para o “leite fraco” (há muito se sabe que "leite fraco" não existe), denominado cientificamente hipogalactia, agora uma “patologia” institucionalizada (p. 39).


Um petiz sadio... um pae feliz... À Cia. Nestlé tenho o prazer de offerecer a photographia de meu filho Georges Ohnet, criado desde o nascimento com o excellente leite em pó ‘Nestogeno’, a quem deve ele saúde e robustez. Ohnet Ponty
O conhecidíssimo leite em pó Nestogeno já não é mais um produto de importação e sujeito, portanto, a flutuações de preços e a faltas no mercado. A mesma fórmula que tem feito o prestígio do Nestogeno entre os médicos pediatras do mundo inteiro e os mesmos apurados processos de fabrico seguidos nas usinas Nestlé da Suíça são adoptados em Araras, Estado de São Paulo, onde a Companhia Nestlé produz o Nestogeno nacional.
O NESTOGENO é um leite meio gordo (contém 12 % de gordura) e por isso sobejamente recommendado como o mais benéfico, na falta do leite materno. Tão puro como o similar importado, o Nestogeno nacional tem as vantagens de ser sempre mais novo e mais barato: cada lata custa apenas 5$000.[1]
O ano de 1921 demarcou o início das atividades da Nestlé em território nacional. A seguir, vieram as campanhas promocionais, a difusão de informações científicas e a monopolização do saber médico. A indústria envolveu-se em todas as esferas relacionadas com o desempenho profissional dos trabalhadores da saúde[2]. Essa estratégia de marketing foi se intensificando a partir dos anos de 1940, tal a reciprocidade de interesses entre a indústria e a classe médica: enquanto a primeira expandia seus lucros, a segunda realizava a aquisição e manutenção de sua autoridade perante seus pacientes, vencendo a influência de leigos e parteiras.


Confiança. Nos encontros que se verificam num consultório médico, entre Mãe e Pediatra há um sentimento mais profundo e mais natural do que a simples necessidade de controlar o desenvolvimento do bebê.
Entre ambos já se concretizou, antes da consulta, aquele elo indissolúvel e indispensável à nobre missão de medicar as criancinhas.
É a confiança. Da mãe que sente no médico, ao consultá-lo, a decisiva segurança na vida de seu filho. Do pediatra que ao prescrever esta ou aquela medicação, este ou aquele alimento, sabe que será fielmente cumprido o que por ele for prescrito, No mundo inteiro, este fenômeno se repete, diàriamente, milhares de vezes, e é bem alta e significativa a percentagem das mães que beneficiaram os seus filhos com a confiança que o pediatra depositou nos produtos.[3]
Complementarmente ao cenário descrito, iniciara-se a implantação da assistência materno-infantil pelo Estado, resultante da fundação, por Getúlio Vargas (1944-45), do Departamento Nacional da Criança, inaugurando um programa nacional de distribuição gratuita de leite às populações de baixa renda[4]. O programa abriu caminho para “o lançamento da proposta publicitária de extensão da utilização dos leites em pó para crianças sadias e também como preventivo de distúrbios gastrointestinais” nos bebês. Segundo Goldberg, aos poucos a indústria começou a sugerir que os leites em pó “poderiam ser ministrados desde o momento da secção do cordão umbilical”, exaltando o elevado teor de proteínas do produto, vitaminas e nutrientes adicionados, “numa alusão de que o leite em pó não só poderia substituir o leite materno como até apresentaria vantagens” (Goldberg, 1989, p. 116-121).


[1] Peça publicitária em A Cigarra. Rio de Janeiro, Editora O Cruzeiro S.A., 1933.
[2] A empresa ligou seu nome a serviços assistenciais dos hospitais-escola, reuniões científicas, patrocínio a cursos de atualização e congressos, contribuição para o sustento econômico das revistas científicas com permanente publicação de anúncios, contato individual de seus representantes com a classe médica para fornecimento de amostras grátis, folhetos de alta qualidade gráfica e variados brindes (Goldenberg, 1989, p. 122).
[3] Peça publicitária da Nestlé da década de 1940 publicada na Revista Brasileira de Medicina. São Paulo, Moreira J. R. Editora, 1948.
[4] A iniciativa teve o apoio da Legião Brasileira de Assistência – LBA.


"Prova de bom trato" (??!!)




Passei o último domingo com minha mãe. Ela é uma senhora de 84 anos, com fragilidades de saúde compreensíveis para a avançada idade. Mora no bairro do Flamengo em um apartamento pequenininho mas muito acolhedor.

Enquanto ela tirava a sesta da tarde, recorri a seus guardados para me distrair. Dentro de um álbum de fotografias encontrei esta preciosa foto: D. Leda alimentando seu primogênito com mamadeira na varanda de seu primeiro apartamento, em Porto Alegre, no ano de 1953.

O retrato era dedicado aos pais dela, meus avós. O texto simula a fala de meu irmão:

"Para os queridos Vovô e Vovó sempre é conveniente uma prova de bom trato. Eis-me aqui com minha possante mamadeira, que nos braços de mamãezinha tem um gostinho todo especial. E por falar nisso, que fome bárbara!...!... Beija-os com muito carinho o neto Jorge Armando".

Quando minha mãe acordou, mostrei-lhe o achado. E também para minha irmã, meu marido e minha filha que passaram por lá naquela tarde. Rimos muito! Rimos porque tínhamos nas mãos uma prova familiar do quanto nunca suspeitamos da mamadeira, conferindo-lhe até adjetivos como "possante" e exibindo seu uso como "prova de bom trato". Hoje o texto assume efeito de uma irônica anedota pra pessoas que convivem de perto comigo, conscientes dos perigos desse produto.

Respondendo ao comentário de Mariana

Estou com um problema de configuração (?) no blog e não consigo responder aos comentários. Ultimamente tenho enviado respostas diretamente por e-mail, mas a partir de agora procurarei transformar em posts os textos que me são enviados, pois costumam ser muito relevantes, como o de Mariana ao texto "Liberdade?".

Olá Cristine! Estou seguindo seu blog há algum tempo e simplesmente me vejo nitidamente em algumas postagens. A de hoje foi uma delas. Amamentei até o décimo mês e digo que EU fui desmamada. Meu filho parou de mamar por decisão própria. Depois desse episódio, passei a usar a tal da mamadeira, acessório o qual, hoje, tenho nojo e sou escrava! Agora lendo seu blog, decidi de uma vez por todas, exterminar elas de nossa casa e casa dos avós, afinal, todo mundo ama uma mamadeira :s estou grávida de 32 semanas e tenho a intenção de usar somente o copo após o sexto mês (naquela fase de sucos...) o qual vc fala aqui no seu blog é comercializável? O que vc nos indicaria? Enfim... Parabéns pela tese e força nessa tão difícil "tarefa" que é informar com qualidade e consequentemente quebrar tabus! Abraços, Mariana.

Para mim a sensação de que este blog chega nas pessoas e pode conseguir influenciar suas condutas é sensacional. A história de Mariana há de ser a mesma de um sem número de mães que até desconfiam ou mesmo conhecem os problemas causados pela mamadeira mas têm muita resistência em quebrar tal dependência do produto, falta coragem. Por um lado é alarmante a gente pensar que nossa relação com os objetos é tão forte a ponto de nos sentirmos "amputados" ao deles ter que abrir mão, mas o bom da história é constatar que basta tomarmos a decisão de prescindirmos desses objetos para que tudo aconteça. Só depende da nossa decisão (ao contrário de tanta coisa que não conseguimos mudar nessa vida pelo fato de depender de outrém).

Então, Mariana, que bom, e que prazer ouvir isso!

Quanto ao copinho, estou projetando-o junto a uma equipe e não é coisa para logo. Por incrível que pareça, milhões de obstáculos se interpõem a essa iniciativa. Estamos enfrentando um a um, pode ter certeza.

Mas o fato é que qualquer copo, ou qualquer xícara pode cumprir bem a função, como na imagem abaixo, que repito aqui:




Como você pode notar, trata-se de uma xícara de cafezinho e a bebê aceita muito bem. Outra possibilidade é o que as enfermeiras utilizam lá no Banco de Leite do IFF: copo de geléia de mocotó. Ele é melhor por vários motivos: transparência (a pessoa que administra o líquido precisa enchergar como o bebê está respirando e bebendo, suas pausas), material (embora o vidro seja quebrável, sempre é mais indicado do que o plástico), dimensões (como o copo é mais baixinho, a inclinação necessária para a administração é leve) e pega (esses copos têm, na base, formas diferenciadas que permitem uma pega segura). 

Desejo a você sucesso nessa empreitada. Parabéns! e tudo de muito bom junto aos seus filhos.

sábado, 23 de julho de 2011

Liberdade?


Volta e meia recebo de pessoas amigas artigos e dicas de matérias, lançamentos de produtos e discussões sobre a questão amamamentação x leites artificiais e mamadeiras. Desta vez a contribuição veio de Fernando Carvalho, ex-aluno, amigo, colega no design da PUC e parceirão desde os tempos de minha pesquisa de doutorado até a atual empresa de projeto de um copinho.

A matéria em questão é "Leite materno vira mercadoria em site especializado nos EUA", de Daniel Buarque, publicada no G1 em 11 de julho de 2010, disponível em
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/07/leite-materno-vira-mercadoria-em-site-especializado-nos-eua.html .

Em síntese, o site "Only the Breast" vem comercializando leite humano pela internet. Originalmente, a ideia do site é "valorizar a importância do leite materno para o desenvolvimento do bebê", promovendo a amamentação. Lá há instruções de como ordenhar, armazenar e enviar o leite pelo correio "sem riscos". Bom, do pouco que conheço desse processo (que não é tão pouco assim), fico de cabelo em pé ao imaginar o manuseio e processamento de uma coisa tão delicada sendo feito autonomamente pelas mães. No Banco de Leite do IFF é muito impactante acompanhar todos os cuidados que eles tomam com o leite doado, sua procedência, a metodologia de processamento, o exame cuidadoso que se realiza para dosar a quantidade de gordura adequada para cada receptor daquele leite, de acordo com suas necessidades. Já pensou? adquirir leite humano de um "fornecedor" pela internet? A antiga prática da ama de leite ao menos permitia que houvesse contato e algum conhecimento sobre quem (e em quais condições) alimentava os bebês de outrem.

Ok, mas o que pretendo com este post não é demonstrar indignação, e sim refletir sobre por que cargas d'água embarcamos com tanta devoção na lógica industrial e consumista. Pra isso, mais alguns detalhes da matéria são necessários.

Tina Faye teve bebê e ele não aceitou tomar seu leite. Como sua produção era farta, ela ficou penalizada de jogá-lo fora. Mãe recente, estava em casa, economicamente improdutiva, vendo o citado site como uma oportunidade interessante e relevante. Cada 30 ml de leite valem US$ 3 (R$ 5). Com isso ela vem levantando mensalmente cerca de US$ 1.200. Como ela, perto de 3 mil mães vêm recorrendo à prática, considerada perigosa no artigo pela pediatra brasileira Ana Maria Escobar.

"Faye é parte de um mercado crescente e controverso nos Estados Unidos", país cuja cultura tende a autorizar a visão comercial para tudo que possa ser considerado mercadoria.

Daí, no final da matéria, a designer Mônica Mello (que mora em Nova Iorque há 12 anos), diz: "amamentar não é prático, dá trabalho, e por isso é aceito que as mãe vendam o leite".

Caramba!, até aí eu estava achando que as mães vendiam o leite excedente, aquele que sobrava da amamentação de seus filhos. Lendo isso, fiquei com a sensação (e deve ser isso mesmo) de que elas partem pros leites artificiais e mamadeiras logo de cara porque amamentar é chato e dá trabalho!!!!

(Não me contenho: ter filho dá trabalho, pombas! Uma vez, numa aula de Projeto, recebi a proposta de uma aluna que pretendia projetar um aparato para amarrar a criança na cadeirinha de restaurantes, de modo a que seus pais "tivessem paz" durante o jantar. Juro. Recomendei a ela que não tivesse filhos, ao menos não os tivesse antes de entender o non sense do que havia me dito. Ela cancelou a disciplina.)

Bom, mas também oreintei há alguns anos o projeto final de duas alunas, dedicado a criar argumentação gráfica para o Abiosorvente, um absorvente higiênico reaproveitável, fenômeno mundial entre as mulheres ecologicamente antenadas. Concordei com tudo, considerei o produto excepcional ... mas não aderi. Até o final de minha vida fértil continuei usando o absorvente descartável (e olha que quando mocinha eu usei a toalhinha higiênica, assim como usaram todas as gerações que precederam a minha). Eu visualizei a montanha de lixo acumulada pelo descarte desses produtos, constatei os efeitos do branqueador empregado para promover a alvura de cada absorvente, reconheci os prováveis efeitos químicos do produto sobre a saúde. Não consegui, não abri mão do conforto.

Os leites artificiais e as mamadeiras trazem um conforto do qual as mães tendem a não abrir mão também. Os produtos industriais possibilitam confortos dos quais as pessoas tendem a não abrir mão. Eles nos permitem executar tarefas antes "prosaicas" com praticidade e até requinte, tal como pode exemplificar o uso de talheres. Isso é civilização, os produtos nos trazem LIBERDADE.

E foi isso que me fez, durante a pesquisa de doutorado, cursar a disciplina "Teoria Política e Econômica", com o grande e querido professor José Maria Gomes. O que é a liberdade? O que é Progresso? O que é Desenvolvimento? (pra quem se interessar, esse virou um capítulo de minha tese, disponível no site da IBFAN e agora também na Biblioteca Virtual da FIOCRUZ).

Mas é o designer espanhol André Ricard que me permitirá concluir esse post com alguma coerência:

"Os artefatos que o homem criou para libertar-se, acabam também por escravizá-lo. Se por uma parte o ajudam, por outra o constrangem. (...) Estas máquinas e aparatos que nos auxiliam, que se fazem cada vez mais imprescindíveis, precisamente porque nos possibilitam uma maior eficácia. (...) Existe tal simpatia entre essas coisas e nós que, quando algo em nosso entorno objetual familiar sofre uma avaria, nos sentimos como se tivéssemos adoecido. É como se nosso sistema vegetativo estivesse efetivamente conectado a este equipamento externo: somatizamos seus problemas. As coisas são uma espécie de ortopedia para nós e nos relacionamos com elas como se se tratassem de autênticas próteses" (livre tradução para o português de matéria publicada na revista Foroalfa).

E, resgatando o nó do tema, o argumento impecável de Andrew Radford:

"Os aparelhos de diálise são capazes de realizar a função dos rins em caso de necessidade. A mamadeira pode realizar a função do seio materno em caso de necessidade. O problema está em que ninguém propõe que os aparelhos de diálise substituam os rins, enquanto que é proposto que a mamadeira substitua o seio materno".

Perdemos o senso?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Inmetro lança selo de garantia para berços

É isso. A produção industrial tem que ser permanentemente reavaliada.
Numa das matérias a que assisti sobre o assunto, dizia que mais de 100 crianças morreram recentemente por quedas de berço (dado do Ministério da Saúde).

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1567651-7823-INMETRO+VAI+COLOCAR+SELO+DE+SEGURANCA+NOS+BERCOS+DOS+BEBES,00.html

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Balanço em 8 meses de vida do blog

Em 8 meses de blog
3.898 acessos de várias partes do mundo
46 postagens
24 seguidores

E todo o futuro pela frente

Trabalho de formiguinha
E eu já tenho o meu montinho :o)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Apresentação da tese "O desdesign da mamadeira" - teleconferência Fiocruz

Compartilho aqui o link para a teleconferência realizada pela Rede RUTE- FIOCRUZ em novembro de 2010.

http://www.canal.fiocruz.br/video/index.php?v=telesessao-sig-telerede-blh-novembro-2010

O registro está com excelente qualidade de som e imagem.

Ressalvo que os supostos implantes de silicone para a boneca Barbie não passam de uma "brincadeira gráfica" postada na internet, que confundiu muitas pessoas. Portanto não deve ser entendida como real.

Incentivo a disponibilização deste link, visando a maior divulgação possível do problema.

terça-feira, 5 de julho de 2011

É fato




Depois de passar muitos meses gerando seus filhos, ao dar à luz, as mães e famílias deparam com a tarefa de zelar por eles. O tipo de alimentação que irão oferecer às crianças é fator crucial para a sobrevivência e o desenvolvimento saudável do bebê. A espécie humana é biologicamente “equipada” para alimentá-lo através do seio, mas culturalmente “equipada” também para criar, produzir e acessar formas alternativas para realizar a mesma tarefa.

O nascimento de uma criança é um momento extremamente delicado para todos os envolvidos, independentemente de qualquer variável econômica ou cultural. Muitos bebês nascem saudáveis e suas mães têm facilidade em amamentá-los. Algumas delas não desejam fazê-lo. Outras não podem alimentá-los porque estão doentes, porque morreram, porque deles foram separadas. Há também aquelas que enfrentam problemas no meio do processo, como o surgimento de ferimentos na auréola do seio e inflamações da mama. E aquelas que enfrentam um nível tal de stress para conseguir condições médicas adequadas ao parto que simplesmente não dispõem da paz que possibilita ao leite verter. Há crianças que nascem bem antes do tempo, são muito pequenas e suas feições e estado geral contrariam a expectativa de suas mães, que aguardavam por um bebê lindo. Elas não conseguem, ao menos de imediato, estabelecer com aquela criança um vínculo que possa desencadear sua produção de leite. Há também os bebês com lábio leporino, que não dispõem de condições para sugar o leite materno. Existem as mães subnutridas, que mal se sustentam em pé. Existem as que foram abusadas por parentes ou por estranhos e não tiveram como evitar as crianças com as quais a mentalidade geral supõe que devam estabelecer vínculo de afeto. Algumas mulheres retiram seios e glândulas mamárias para prevenir o câncer hereditário. Volta e meia, todos os bebês choram ou podem chorar a toda hora. Podem não deixar seus pais dormirem direito durante meses. Parentes próximos e amigos se preocupam com aquele choro insistente ou com a magreza da criança ou com o cansaço exagerado de seus pais, imaginando que algum problema esteja ocorrendo, como talvez a “fraqueza” ou “insuficiência” de leite na amamentação. Muitas mães também precisam se ausentar por um período, curto ou longo, como acontece com o retorno ao trabalho depois de alguns meses de licença-maternidade. O que fazer, então? O que fazer durante uma viagem, um compromisso social, um congestionamento de trânsito que adia a chegada da mãe por muitas horas?

Para estas e outras incontáveis situações existem os leites artificiais e o meio de administrá-los às crianças, a mamadeira. A prática de alimentar bebês artificialmente é largamente empregada em muitos lugares do mundo, há muito tempo.

Seria mesmo estranho que a diversidade e o nível de complexidade das situações descritas não desencadeassem o desenvolvimento de alternativas para a amamentação por uma sociedade inteligente, inventiva e produtiva.

O problema reside no quão "adequada e eficaz" vem demonstrando ser a alternativa criada e no grau de adesão que ela vem sendo capaz de suscitar na sociedade, apesar dos graves problemas e impactos que pode provocar.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

"Aprendendo" com a indústria de brinquedos




Pois é, há de ter sido assim que começamos a absorver a idéia de que bebês se alimentam por intermédio de mamadeiras. Nada mais "natural", já que as bonecas assim o fazem, e uma mamãe "zelosa" deve ser instruída desde a mais tenra infância.

Não tenho uma estatística, mas acredito que cerca de 90% das bonecas-bebê produzidas no mundo têm com a mamadeira como acessório.

Ou seja, a conduta de consequências nefastas (não se esqueçam que por ano morrem mais de 1 milhão de bebês por não terem sido amamentados, segundo a Organização Mundial de Saúde) está institucionalizada como procedimento seguro, carinhoso e responsável.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Inocente útil


Hoje vou fazer um post bem pessoal. Pra tanto, inicio com o cartazinho que fiz quando acabou minha licença maternidade. Colei na parede do quarto. A intenção era orientar as avós que se intercalariam nos cuidados à minha filha enquanto eu estivesse no trabalho.

Diga-se de passagem que, mesmo eu tendo me esmerado pra fazer bem bonitinho, as avós ficaram furiosas com minha produção, pois é CLARO que elas saberiam EXATAMENTE O QUE FAZER!

Mas vale uma leitura detalhada do tal cartaz:
1. A bebezinha tinha 4 meses e já começava o dia com suco de laranja lima;
2. a mamadeira depois do banho tem gotinhas de leite saindo pelo bico e (eu me lembro disso) havia um conforto na afirmação de que "talvez ela dormisse depois";
3. daí, "6 gotas de Protovit": cara, vitamina! TODOS os bebês tomavam vitamina ...;
4. então, um alento: eu saía de metrô do centro da cidade na hora do almoço e vinha amamentar minha filha. Depois voltava pra lá (eu morava na Fonte da Saudade, bem longe do Centro);
5. além do suco, maçã raspada;
6. e OUTRA mamadeira;
7. e mais gotinhas de Protovit antes do meu retorno.

Eram orientações pediátricas.

E, contrariando a "metodologia" proposta pelo cartaz, acontecia o seguinte:
1. Logo depois de eu amamentar minha filha e saía, ela dormia;
2. tempos depois, começava a chorar;
3. continuava chorando e não dava sequer um gole na mamadeira;
4. chorando ainda e continuava;
5. então, o alento: eu chegava e ela mamava ainda aos soluços. E dormia ...
6. até que todo o processo se repetia até as 6h da tarde.

Em resumo: minha filha não aceitava o bico da mamadeira e, quando por fim cedeu a essa resistência, mamava e vomitava instantes depois. Foi diagnosticado refluxo. Passamos para o leite de soja (como fedia o seu preparo!) e melhorou. Mas eu passei MUITO TEMPO me revezando com meu marido no preparo para as longas noites: balde, roupa de cama suplementar, material de limpeza etc. e uma paciência de Jó.

Só fui entender direitinho tudo o que se passou com minha pesquisa para a tese.

Como teria sido bom se eu soubesse que não seriam necessários sucos, vitaminas, e que eu poderia ter ordenhado meu leite para que fosse oferecido a ela num simples copinho ...

Bom, ela sobreviveu! É uma moça de 22 anos. Alérgica. Usou aparelho ortodôntico durante 4 anos.

E eu, dei o meu quinhão para as indústrias de leites artificiais, de mamadeiras, de vitaminas e remédios para alergia, e para o mercado de aparelhos ortodônticos.

Fui uma consumidora muito bem comportada.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

BPA Free: uma "certificação" paliativa para as mamadeiras



Esta semana recebi de uma amiga que mora na França, artigo que noticiava a decisão da União Européia pela proibição da produção e importação, a partir deste junho, de mamadeiras confeccionadas em plásticos capazes de liberar o Bisfhenol A (polímero liberado por alguns plásticos, como o policarbonato, quando em contato com detergentes ou líquidos aquecidos, cujos males à saúde foram comprovados em testes com animais) sob o título Le Bisphènol A dans les biberons, c'est fini. O Canadá já havia tomado a mesma medida em 2009.

Há uns dois ou três anos, os fabricantes de mamadeiras produzidas em outros plásticos utilizam o slogan promocional BPA Free como se este fato garantisse a segurança de seus produtos.

Por todos os motivos já colocados aqui - além de muitos outros - a mamadeira e os leites artificiais em si não são seguros. Então, essa certificação resulta paliativa. E vazia.

Em maio de 2009, a IBFAN  (International Baby Food Action Network) noticiou que todos os países europeus, com exceção de Noruega e Luxemburgo, desceram de categoria na escala que mede o nível de esforços governamentais para proteger a amamentação, falhando em cumprir as exigências mínimas estabelecidas pelo Código Internacional para Comercialização de Substitutos do Leite Materno (http://www.waba.org.my/).

Vale dizer que em 2008 o governo inglês propôs à Universidade Britânica de Artes e Design o concurso Get Britain Breastfeeding, cujo objetivo era "difundir a ideia de que a amamentação deve se tornar uma regra e não uma exceção" num país onde menos de 2% das mães amamentavam seus filhos exclusivamente até os seis meses, apesar das políticas de saúde governamentais e da orientação da OMS. (http://www.bbc.co.uk/).

Ou seja, está difícil vencer o poder do mercado.

O discurso da indústria por tradição convence o consumidor.