sábado, 9 de fevereiro de 2013

Sobre o relatório "The Baby Killer", de Mike Muller


Nos países do chamado Terceiro Mundo, o relatório publicado em 1974 relatou que, juntamente com as latas de leite, eram doadas mamadeiras (pelas tais vendedoras de indústrias fantasiadas de enfermeiras). Segundo Muller, a mamadeira é a base do problema, pois ela, ao mesmo tempo, é instrumento transmissor de infecção e símbolo de uma prática “moderna”.

Em Papua, Nova Guiné, uma circular do Diretor de Saúde Pública denunciava ter sido descoberto em uma loja um cartaz publicitário do Lactogeno, onde se via a imagem de uma mãe e um bebê com mamadeira. Tal circular dizia que “o departamento de saúde não tolerará qualquer propaganda de mamadeiras”:

Embora não tenhamos autoridade para remover anúncios censuráveis, os profissionais de saúde podem fazer todos os esforços para persuadir os donos de lojas a desistirem de tais cartazes. Devem-se aproveitar as ocasiões oportunas para falar com os donos das lojas e informá-los sobre os perigos das mamadeiras. (p. 37)

O Prof. M. H. Hamza, da Universidade de Dar es Salaam, Tanzânia, sinaliza, em guia voltado a paramédicos citado no relatório de Muller, que eventualmente, por motivo de doença, morte ou pouco leite da mãe, a criança deveria ser alimentada com “xícara ou colher e não com mamadeira”, pois “será impossível para uma mãe camponesa manter a mamadeira limpa e o bebê correrá riscos de contrair uma gastroenterite grave” (p. 38). Iniciativa semelhante foi tomada por um fabricante nacionalizado de leites em Zâmbia, que contrasta com a desinformação presente nos rótulos de leite em pó de outras companhias quanto à posologia, custo etc. O rótulo do leite africano exibia — à época da realização do relatório, ou seja, nos anos de 1970 — o seguinte texto:

O melhor alimento para a sua criança é o leite materno. Ele é melhor do que este ou qualquer tipo de alimento artificial. Não alimente sua criança artificialmente, a menos que você esteja segura de ter o dinheiro necessário para comprar leite suficiente. Quando sua criança tiver 4 meses, ela necessitará 2,5 Kg de leite em pó por mês. Você tem certeza de ter o dinheiro necessário para comprá-lo? Alimente sua criança usando uma xícara e uma colher e não uma mamadeira. Peça na loja em que você comprar esta lata que lhe dêem um papel explicando como alimentar sua criança. (p. 39)
 
 
É que o texto das latas de leite vinha em outros idiomas, incompreensíveis para as comunidades que os recebiam.
 
E o impressionante é que, nos idos de 1970, na África, a xícara e a colher - veículos análogos à recomendação contemporânea para alimentar artificialmente bebês- era coisa sabida. 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Doulas in Badinter



Sobre a atual conquista das doulas (mulheres que apoiam  gestantes e parturientes aos níveis físico e emocional), cuja profissão foi reconhecida pelo Ministério do Trabalho, e cuja entrada em maternidades vinha sendo (e ainda vem sendo) alvo de reservas no Brasil, destaco um trecho que julgo importante no livro "Le Conflit, la femme et la mère", de Élisabeth Badinter (2010).

A autora relata que um recente estudo norte-americano (The Doula Book: How a trained labor companion can help you have a shortes, easier and healthier birth, de Marshall H. Klaus, John H. Kennell e Phyllis H. Klaus - 2002), não nega as vantagens desta nova profissão:

- partos mais fáceis;
- redução de partos cesarianos em 50%;
- diminuição de 25% do tempo de duração dos partos;
- redução de 60% no uso de anestesias peridurais;
- redução de 30% do uso de fórceps

Muito expressivo!