quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Abrindo perênteses para pensar também nas fraldas

Diante das ofertas da indústria, nossa tendência é "embarcar" no consumo de produtos que, inegavelmente, facilitam nossas vidas. Só não costumamos parar pra pensar nas consequências desse consumo: mal do(s) século(s).

Então abro parênteses para um filminho desenvolvido por alunos de design da PUC em uma disciplina de Projeto ministrada por mim e por Marcelo Pereira.

Ao imaginar o volume de fraldas descartadas ocupando um espaço físico, como sugere o filme, imagine também o espaço ocupado por absorventes descartáveis durante a vida fértil das mulheres. Impossível viver sem tais produtos? A geração que hoje tem cerca de 80 anos se virava com as toalhinhas higiênicas e, mais impactante do que isso, a moçada que hoje tem pouco mais de 20 anos foi criada com fralda de pano!!!!


domingo, 26 de dezembro de 2010

Então o que pode substituir a mamadeira?

Antes das indústrias de leites artificiais e mamadeiras chegarem aos países do chamado "Terceiro Mundo", em muitos deles recorria-se à xícara, copos e colheres para alimentar os bebês em caso de necessidade.

São formas simples, pertencentes ao universo de utensílios domésticos, fáceis de lavar, sem roscas, cantos em excesso.

Há algum tempo, pesquisadores e profissionais de saúde vêm recomendando o uso de copinho ao invés de mamadeiras para as ocasiões em que o aleitamento não for possível. O leite materno pode ser ordenhado e administrado ao bebê por seu intermédio. Assim o bebê irá dispor de um meio que permite a realização da sucção de foma muito semelhante ao que aconteceria no seio materno. Mas por quê?

Uma das primeiras coisas que um bebê sabe fazer ao nascer é sugar. A sucção é um movimento sofisticado que se dá entre a boca do bebê e o seio da mãe. A linguinha dele abraça o bico do seio e o comprime, em ritmo compatível com a respiração e desejo da criança.

Quando substituimos o seio pela mamadeira, esse movimento natural tem que se alterar: o bebê precisa elevar a língua ao céu da boca para comprimir o bico do produto, além de ter que se adaptar ao ritmo de vazão de líquido do objeto. Isso traz sérios problemas para a formação de sua arcada dentária, sua evolução respiratória.

Um dia uma enfermeira me chamou a atenção dizendo que toda vez que oferecemos uma chupeta a um bebê pelas primeiras vezes, ele tende a cuspi-la. Isso porque o instinto neurológico da sucção se constitui da projeção da língua para fora da boca e não em direção ao céu da boca.

Fiquei muito impressionada quando assisti à administração de leite por meio de copinho a um bebê prematuro no Instituto Fernandes Figueira. A enfermeira Beth Crivaro o fez com maestria, provando pra mim que não se trata de um bicho de sete cabeças: o bebê parecia um gatinho tomando leite no prato.

Daí separei esse vídeo, que mostra em close como o processo se dá:


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Fatores indiscutíveis

Para começar a dividir com vocês aquilo que elaborei sobre a pesquisa que fiz, como designer me vi especialmente perturbada por três fatos que, somados, demonstram com clareza o problema provocado pelas mamadeiras:

1. AS BACTÉRIAS EXISTEM, e no leite elas começam a se multiplicar a partir de duas horas do líquido exposto à temperatura ambiente;

2. AS MAMADEIRAS SÃO COMPOSTAS DE VÁRIAS PARTES, conectadas por roscas, e o bico é de material com características aderentes. Essas reentrâncias e saliências, caso não sejam higienizadas com perfeição, constituem um ambiente ideal para a multiplicação das bactérias;

3. A DIFICULDADE DE ACESSO À ÁGUA DE QUALIDADE É UM PROBLEMA GLOBAL. A água é indispensável para hidratar o leite em pó e para higienizar a mamadeira após cada utilização do produto.

E não apenas as populações pobres estão expostas a esse fatores indiscutíveis: pode-se estar com pressa, ou atrapalhado, e não lavar o produto com perfeição; pode-se esquecer que uma mamadeira preparada já está em temperatura ambiente há mais de duas horas, pode-se não dispor de água de perfeita qualidade dentro de casa (eu por exemplo contratei o serviço de uma empresa de purificadores de água que faz sua manutenção periodicamente, porque eu talvez pudesse me esquecer disso).

Para ilustrar o problema, primeiramente um video sobre a forma correta de higienização de mamadeiras e, depois, a realidade desta mesma ação em imagens colhidas pela UNICEF após o terremoto de 2007 na Indonésia.






quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O que é, o que é?

Recebi um comentário no blog que, confesso, me perturbou o sono: o de que os implantes de silicone para Barbie (exibidos num post anterior) poderiam ser apenas uma brincadeira desse povo que faz imagens incríveis.

Vasculhei e, diante do que encontrei em http://fx.worth1000.com/contests/13174/coolest-toy-ever-9 e do que não encontrei no site do presumível fabricante, estou quase convencida de que se trata mesmo de um "boato gráfico", e não de um produto disponível no mercado, como alguns supunham.

Bem já disse Umberto Eco sobre "ser mais sensato duvidar de tudo quanto depressa demais se nos apresente como definitivo".

Mova a barra de rolamento e veja os comentários completos.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O que esses bichinhos todos estão fazendo aí atrás/Bebé Glotón

Bom, como havia avisado antes, aos poucos irei dominando as ferramentas do blog e pretendo futuramente usar como fundo um padrão realizado por mim. Mas troquei a imagem porque fui alertada de que o fundo anterior -que exibia mamadeiras e chupetas- poderia ser interpretado como um apoio a tais produtos ou simplesmente como uma não percepção minha do significado de tais formas em um padrão infantil.

A intenção original era contrapor a pretensa "delicadeza" daquela imagem que incluia tais produtos como símbolos da infância, ao conteúdo dos posts, sinalizadores dos perigos da alimentação artificial de bebês. Mas este contraste poderia realmente exercer influência subliminar, o que não é a intenção.

Então localizei esses bichinhos super-coloridos. Eles pretendem manter certa desconexão entre o tom da imagem e o da mensagem.

Embora sejam coisas similares, mas em diferentes graus, esse assunto me fez lembrar da repercussão provocada pelo lançamento do Bebé Gloton -primeira boneca que mama no peito- em 2009, na Espanha, iniciativa financiada pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. Com o objetivo de fomentar o aleitamento materno, foi elaborado com a ajuda do Instituto Tecnológico del Juguete e avalizado pela Federação Espanhola de Associações Pró Lactância Materna. Mas o produto gerou controvérsias antes mesmo de chegar ao mercado.

Produzido pela empresa Berjuan, o Bebê pode ser do sexo feminino ou masculino, mede 50 centímetros e vem acompanhado de uma espécie de camiseta frente-única a ser vestida pela menina. Na área onde estariam os bicos dos seios, foram colocadas flores, simbolicamente. Em contato com elas, a boca do bebê realiza movimentos de sucção acompanhados por sons. Caso a brincadeira seja interrompida antes de um determinado tempo, o bebê chora. Quando estiver satisfeito, ao ser colocado em posição vertical, arrotará.





Percebe-se que a estratégia empreendida para a mudança de cultura enfoca a criança, até então cercada exclusivamente por bonecas que já vinham de fábrica munidas com mamadeiras de brinquedo, como se oferecê-las ao bebê fosse uma prática amorosa e segura. A repercussão da boneca, entretanto, demonstra o impacto do produto sobre os consumidores e o quanto estão consolidados valores culturais resistentes ao nível de conhecimento científico alcançado. Enquanto alguns comemoram o brinquedo, outros o atacam frontalmente:

Que bom que a indústria de brinquedos levou em conta a amamentação. Oxalá outras empresas copiem este produto e logo esses bonecos deixem de ser notícia. Obrigada pelo esforço realizado para promover o leite materno (Mônica, Espanha)/Que pena que uma ideia tão brilhante para promover o tão desprezado aleitamento materno venha acompanhada por uma chupeta maior do que a própria cara do boneco, pois como todos sabemos as chupetas podem interferir na instauração correta da amamentação. Mas por algum ponto se começa... (Margarita, Espanha – site Pequelia)/Nossa, que absurdo!  Essa ‘brincadeira’ aí só faz a criança perder, digamos, a inocência. Não gostei e não aprovo! (Isa, Brasil)/Eu tenho uma filha de 4 anos. Imagino que seja ridículo eu ou alguém presentear ela com essa boneca... Não gostei desse negócio aí não. Comprem bonequinhas da Polly para ela, mas não essa $%¨(*& de boneca que ficou muito vulgar para uma criança!!!!! (Le, Brasil – www.poracaso.com)/Como eu poderia achar ‘bonitinho’ minha filha de 3 anos dar de mamar no peito ao invés de estar com uma mamadeira dando comidinha na boca do bebê de brinquedo? [...] Essa boneca deve ser banida do mercado (Brasil, R. Boneca que mama no peito. Revista Época. São Paulo, Ed. Globo, 13/08/2009).

Comprei a boneca. É muito graciosa e funciona a pilha. As pessoas têm ficado encantadas quando a mostro nas apresentações que faço sobre minha tese.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Nos anos de 1980, a comunidade artística se sensibilizou com a fome e as mortes de crianças na África

Quando fiquei sabendo que a música "Debaixo dos caracóis de seus cabelos", de Roberto Carlos, havia sido composta em homenagem a Caetano Veloso, no momento em que ele estava exilado em Londres, aquela letra assumiu uma outra dimensão pra mim. E isso só aconteceu depois da anistia no Brasil.

Da mesma forma, foi muito recentemente que "realizei" que as músicas "Do they know it's Christmas" e "We are the World", lançadas nos anos de 1980 por expressivos grupos de cantores na Inglaterra e nos Estados Unidos, estavam relacionadas à alta mortalidade de crianças na África (isso é óbvio, mas ...), mortalidade esta desvelada em grande parte pelo relatório "The Baby Killer", citado no post anterior (juntei na cabeça as informações).

O que a gente via na TV eram crianças esqueléticas na Etiópia e em outros tantos países africanos. Foi uma comoção geral.

Ao prestar atenção às letras dessas músicas, vemos uma chamada à doação, a uma tomada de consciência, ao levantamento de fundos para transformar a situação.

Mas daí me pergunto: até que ponto se sabia dos males provocados pelo leite em pó? Até que ponto essas chamadas não provocaram justo a doação de mais leite em pó?

Tudo bem que muitos países do hemisfério norte realizaram boicotes à Nestlé depois que vieram à tona as notícias publicadas no relatório...

Isso me faz lembrar de publicação da WABA (World Alliance for Breastfeeding Action) em 2009, por ocasião da campanha mundial de amamentação, sob o título "Amamentação, uma resposta vital às emergências". No folder de campanha, o Ministro da Saúde do Sri Lanka dava o seguinte depoimento sobre as movimentações de ajuda humanitária no país após o tsunami de 2004:

"Um grande problema foi a distribuição de fórmulas infantis às mães que amamentavam sem o controle adequado por parte de doadores e ONGs, que atuaram emocionalmente, sem base científica, não contemplando os perigos da alimentação artificial em situações de desastre. Ademais, os meios de comunicação pediram ao público ajuda com doações de leites artificiais e mamadeiras. O Ministério da Saúde teve que superar muitos obstáculos para assegurar que as mães continuassem amamentando e não aplicou a insustentável e potencialmente perigosa prática de usar fórmulas infantis".

O fato é que inocentemente acreditamos que ao doar esses produtos estaremos ajudando. Meus Deus, que tarefa difícil a de mexer com esse grande equívoco! ...



sábado, 18 de dezembro de 2010

Cenas fortes

Prosseguindo, é fundamental dizer que a necessidade de um recurso alternativo ao aleitamento materno é fato para muitas sociedades desde que o mundo é mundo.

Quando os alimentos industriais para alimentar bebês começaram a ser produzidos, isso constituiu uma saída pra muitas crianças órfas etc. Mas a coisa foi crescendo, todo mundo aderindo aos tais leites artificiais. Até que pesquisadores, a partir dos anos de 1930, começaram a relacionar os tais leites à mortalidade e morbidade infantil.

Eram tantos sinais contrários à segurança dos leites que uma organização caritativa britânica de nome "War on Want", dedicada a recolher donativos para as populações necessitadas do chamado "Terceiro Mundo", resolveu investigar as consequências de seu próprio trabalho, contratando o jornalista Mike Muller.

O resultado foi o relatório que recebeu o título "The Baby Killer" (O Matador de bebês).

E foi esse relatório que desvelou a realidade da administração de leites artificiais por meio de mamadeiras ao mundo, acarretando uma verdadeira revolução no paradigma científico acerca da alimentação de bebês.

A reportagem "Fórmula Fix" foi realizada pela TV australiana. Eu a considero a "versão em vídeo" do relatório de Muller.





sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Alguns links sobre a pesquisa

Aqui uma matéria muito legal que saiu na Ciência Hoje
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2010/271/mamae-nao-quero

na Revista Crescer 
http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI126012-15150,00.html

Artigo originalmente escrito para congresso de Relações Internacionais e publicado na Biblioteca Virtual em Saúde - Rede BLH- FIOCRUZ e no site Aleitamento.com
http://redeblh.icict.fiocruz.br/iberblh/images/cultaliancglobais.pdf
 http://www.aleitamento.com/a_artigos.aspid=1&id_artigo=2380&id_subcategoria=1
 

E a tese na íntegra, disponibilizada pelo site da IBFAN Brasil (Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar)
http://www.ibfan.org.br/documentos/result_outras.php?cat=34

E só pra ilustrar, uma imagem bem recente de acessório para Barbie, lançado pela Mattel, recomendado para crianças a partir dos quatro anos de idade. "Just like Mom's". É sério.



Pode parecer muito, muito estranho, mas é real

Inauguro hoje este espaço pra dividir com vocês coisas que aprendi com gente séria e com pesquisa aprofundada: mamadeira não é legal.

Aos poucos irei aprendendo a lidar com os recursos e ferramentas do blog, mas desde já esclareço que escolhi este fundo cheio de mamadeiras e chupetas porque tais produtos estão de tal maneira implantados em nossa cultura que os consideramos "acima de qualquer suspeita". Espero aqui poder contribuir um pouco para a mudança desta situação, rumo a uma postura mais sensata de consumo. 

Por enquanto anexo um spot de promoção à amamentação, realizado para a TV espanhola em 2009.

Para aqueles que tiverem dificuldade com o idioma, o texto é o seguinte:

_ Se te dissessem que encontraram uma nova fórmula que aumenta as defesas de teu bebê, a darias a ele?

_ Se te dissessem que podemos ter alimento grátis para os seis primeiros meses de teu bebê, acreditarias?

_ Se te dissessem que uma empresa patenteou uma embalagem que mantém o alimento fresco por 24 horas, conservando todas as suas propriedades, o comprarias?

_ Essa fórmula existe.

_ Esse alimento existe.

_ Essa empresa existe.