domingo, 19 de dezembro de 2010

Nos anos de 1980, a comunidade artística se sensibilizou com a fome e as mortes de crianças na África

Quando fiquei sabendo que a música "Debaixo dos caracóis de seus cabelos", de Roberto Carlos, havia sido composta em homenagem a Caetano Veloso, no momento em que ele estava exilado em Londres, aquela letra assumiu uma outra dimensão pra mim. E isso só aconteceu depois da anistia no Brasil.

Da mesma forma, foi muito recentemente que "realizei" que as músicas "Do they know it's Christmas" e "We are the World", lançadas nos anos de 1980 por expressivos grupos de cantores na Inglaterra e nos Estados Unidos, estavam relacionadas à alta mortalidade de crianças na África (isso é óbvio, mas ...), mortalidade esta desvelada em grande parte pelo relatório "The Baby Killer", citado no post anterior (juntei na cabeça as informações).

O que a gente via na TV eram crianças esqueléticas na Etiópia e em outros tantos países africanos. Foi uma comoção geral.

Ao prestar atenção às letras dessas músicas, vemos uma chamada à doação, a uma tomada de consciência, ao levantamento de fundos para transformar a situação.

Mas daí me pergunto: até que ponto se sabia dos males provocados pelo leite em pó? Até que ponto essas chamadas não provocaram justo a doação de mais leite em pó?

Tudo bem que muitos países do hemisfério norte realizaram boicotes à Nestlé depois que vieram à tona as notícias publicadas no relatório...

Isso me faz lembrar de publicação da WABA (World Alliance for Breastfeeding Action) em 2009, por ocasião da campanha mundial de amamentação, sob o título "Amamentação, uma resposta vital às emergências". No folder de campanha, o Ministro da Saúde do Sri Lanka dava o seguinte depoimento sobre as movimentações de ajuda humanitária no país após o tsunami de 2004:

"Um grande problema foi a distribuição de fórmulas infantis às mães que amamentavam sem o controle adequado por parte de doadores e ONGs, que atuaram emocionalmente, sem base científica, não contemplando os perigos da alimentação artificial em situações de desastre. Ademais, os meios de comunicação pediram ao público ajuda com doações de leites artificiais e mamadeiras. O Ministério da Saúde teve que superar muitos obstáculos para assegurar que as mães continuassem amamentando e não aplicou a insustentável e potencialmente perigosa prática de usar fórmulas infantis".

O fato é que inocentemente acreditamos que ao doar esses produtos estaremos ajudando. Meus Deus, que tarefa difícil a de mexer com esse grande equívoco! ...



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