sábado, 11 de novembro de 2017

Sobre o copo antivazamento 360 graus



Sou defensora da ideia de que deva ser criado um copo eficiente, atraente e inventivo que solucione a administração de alimento aos bebês quando, provisoria ou definitivamente, não for possível amamentar.

Como já dito em outros posts, os bebês conseguem manter, no copo, o movimento de sucção que parte da projeção da língua para fora da boca, movimento esse que nascem preparados para executar no seio da mãe (para sugar a mamadeira eles precisam se adaptar ao produto, tendo que elevar a língua contra o céu da boca, o que acarreta problemas futuros na arcada, respiração bucal e suas consequências).

Há um copo muito interessante no mercado que vem angariando o interesse das famílias. Ele lança um sistema antivazamento 360 graus que, como diz sua definição, não derrama. Mesmo colocado de cabeça para baixo, o líquido não vaza.

Eu me interessei, fui a uma loja e escolhi uma das marcas para comprar, com a finalidade de abrir a embalagem, entender o sistema e testá-lo.

Quanto ao antivazamento, funciona muito bem. São modelos bonitos, realmente inovadores, ou seja, reúnem esteticamente os atributos que considero serem indispensáveis para que os consumidores considerem sua aquisição e uso.

Identifiquei sem demora, porém, que o sistema não permite que o bebê ou criança um pouco maior nele beba como um gato que toma leite no prato, ou seja, projetando a língua para fora e sorvendo o líquido.

Entendi que esse copo se destina a crianças maiores, trazendo como contribuição dois fatores:
1) a possibilidade de acondicionar líquidos em seu interior sem risco de vazamento;
2) a novidade de permitir que a "criança beba sem fazer esforço ou bagunça" (anúncio da NUK na revista de bordo da GOL).

Então, reprogramei minhas expectativas, mas comecei a acumular motivos para críticas: é impressionante como os produtos destinados às crianças cada vez mais estruturam sua retórica projetual e promocional prometendo o fim da sujeira, o fim dos pequenos acidentes desagradáveis, que vão nos dar trabalho, vão sujar a roupinha e o sofá da sala (!).

Mas ao consultar o folheto de instruções, prática pouco usual que precisa tornar-se mais do que usual em prol da nossa própria segurança, vejo que, entre vários outros alertas, o copo:

- não é adequado para bebidas quentes ou gaseificadas (a informação está em destaque) , pois a pressão poderá se acumular dentro do copo (imagina ...);

- precisa ser utilizado pela criança sempre sob a supervisão de um adulto - essa informação consta de muitas "bulas" de mamadeiras, mas não se costuma ler essas instruções. As mamadeiras tendem a ser consideradas produtos que proporcionam liberdade às famílias e autonomia às crianças, contrariamente aos alertas presentes em seus folhetos de instruções. Os fabricantes, assim, têm como se defender no caso de ocorrerem engasgos e outros problemas que não são incomuns em crianças deixadas sozinhas com o produto. No caso de um copo que não derrama, penso que os pais dos usuários tendam a se sentir realmente dispensados de ter esse cuidado;

- é necessário coar sucos com polpa, pois ela pode entupir o anel da válvula - daí fico pensando que o copo só serve mesmo pra tomar água e refrescos, tipo Tang ...

Pensei: é tão importante a criança aprender a lidar com o copo ou caneca, apurando o ajuste motor fino para incliná-la no ângulo suficiente que faça o líquido chegar à boca! Isso se consegue com a boa caneca de plástico, que não quebra, pode ter um desenho bonitinho e ser considerada "a minha caneca" pela criança, sua dona.





A conclusão de minha análise é que, apesar da bela forma e da profunda pesquisa de sistemas e materiais empreendida nesse projeto de copo antivazamento, ele não trás contribuição significativa para o cenário dos produtos infantis. Ao contrário, adia o desenvolvimento das crianças na lida com copos comuns.

No entanto, considero o produto muito útil para pessoas idosas com problemas motores e/ou neurológicos. Elas por certo irão se constranger por ter que adotar um copo especial, mas esse constrangimento será menor do que aquele que poderão sentir se forem chamadas à atenção, mesmo que carinhosamente, por terem desaprendido gesto simples que até então dominavam

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