segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Coisas da vida ... (!?)




Essa pequena crônica está no livro Mulheres, do já falecido escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor de As veias abertas da América Latina. e de tantos outros mais. Ela me foi enviada em setembro de 2019 por uma grande amiga, mas apenas agora encontro chance de fazer o post que o texto me inspirou.

Parece haver um protocolo, amplamente aceito, que legitima ações, escolhas e palavras para que possamos seguir vivendo com algum equilíbrio e segurança, mesmo que isso signifique ser falso. É uma espécie de "melhor não comentar", "deixar quieto", "seguir na onda".

Lembro-me de um casal amigo que perdeu gêmeos nos primeiros meses de gestação, num processo muito difícil, acompanhado de perto por suas famílias. Alguns poucos meses depois os encontrei, perguntando-lhes sobre como estavam se sentindo com a grave perda. E me surpreendi ao responderem que ninguém havia lhes perguntado isso antes: o silêncio das pessoas vigorou.

Um outro caso de que me recordo foi quando tomei uma iniciativa ousada em defesa de pessoas com quem convivo de perto. A ação teve efeito, mas ricocheteou com muita força sobre mim, embora tenha provocado resultado. Só me apercebi claramente do profundo silêncio daqueles mais próximos quando alguém que conheço muito pouco me perguntou: _Como você está depois de tudo o que houve?

As mães recém-paridas de Chengdu fazem o que fazem para alcançar uma melhor condição financeira, pois "Todas dizem que fazem o que fazem por eles [seus bebês], para poder pagar a eles uma boa educação". Anos atrás eu soube de uma norte-americana que vendeu o espaço da sua testa para que uma empresa ali tatuasse seu endereço eletrônico, e o argumento dessa mãe ao defender a venda desse espaço foi, igualmente, ter condições de dar ao filho uma boa educação.

Parecemos "cegos em meio ao tiroteio" ... tantas vezes nos calando e nos retirando "à francesa" das situações que nos convocam ou sendo levados por correntezas de comportamentos, sem iniciativa ou chance de questionar.

Me faz lembrar também do filme Histórias cruzadas, que documenta o papel das empregadas negras norte-americanas na criação dos filhos das famílias brancas. Ali contava uma terrível herança cultural que penso não ter sido até hoje dissipada e prosseguir sendo reproduzida em muitos países, inclusive aqui no Brasil.

É essencial que a gente recupere o tino, a sensatez.

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Pra falar que a vida prega surpresas na gente, boas e ruins, conto que só agora me vejo em condições práticas para retomar o ritmo normal aqui no blog. O fato é que precisei mudar de casa depois que o apartamento abaixo do meu pegou fogo em setembro.

Felizmente ninguém se feriu, mas os vizinhos do andar de baixo tiveram tudo queimado. E nossa casa foi tomada por fuligem. Lavamos tudo, TUDO que havia dentro dela e ficamos aguardando que a suite - cômodo gravemente afetado - fosse reformada pelo seguro (do condomínio, pois a alugávamos). Um misto de burocracia com uma talvez falta de grana dos proprietários em nos tirar do acampamento que tivemos que montar, com móveis amontoados e muitas coisas acumuladas sobre as mesas e cantos nos convenceu lá pelas tantas que a iniciativa para melhorar o cenário teria que ser nossa mesmo. Então nos mudamos e agora só falta instalar as cortinas.

Diante desse turbilhão de desastres no mundo, fica até ridículo eu me queixar do que houve, mas ainda assim afirmo que foi um grande transtorno.

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