segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Improdutivas?!?!





Estive presente ao Seminário Estadual da Semana Mundial de Aleitamento Materno desse ano, no Auditório do Ministério da Saúde, e desejo comentar a fala de uma integrante da mesa de abertura (infelizmente não anotei seu nome, mas ela é gaúcha e representante do Governo Federal ... desculpem pela fragilidade da referência, tá?). Ao citar a questão das mulheres trabalhadoras que amamentam, uma de suas colocações ficou martelando na minha cabeça, pois alerta para uma mentalidade em vigor que precisa ser transformada:

As mães em licença maternidade são consideradas improdutivas.

Caramba ... E não é que são mesmo? De diferentes formas, a tendência geral é a de entender esse período como uma paralisação, um afastamento das atividades produtivas ...

Será que a palavra utilizada para nomear essa fase contribui pra esse entendimento? Será que a palavra LICENÇA contribui pra ideia equivocada de que nesta fase a mulher fica parada, improdutiva? Porque licenças costumam ser por motivo de doença, de impossibilidades e sempre significam uma paralisação da produtividade.

Mas a mulher que tem filho está no auge de sua possibilidade, tendo dado à luz a uma nova pessoa! Essa é a tarefa mais estrutural da humanidade. Só que a cultura capitalista faz com que ela seja considerada improdutiva ao produzir e cuidar, com proximidade, de um novo ser pra habitar esse mundo. Maluco demais, né?

Se você produz um relatório da empresa, ou projeta um edifício, ou organiza um evento, dirige um trem, opera um guindaste, cuida de pessoas doentes, limpa residências, varre as ruas, representa a população etc, você é produtiva. Mas se você gera e cuida de uma nova VIDA, é considerada improdutiva, afastada dos movimentos que movem o mundo, alheia a tudo o que acontece. Você está de licença do mundo.

Felizmente estamos em uma fase de intensa revisão de valores (questões de gênero, raça, preconceitos diversos a serem encarados). Então eu acho que devemos, também, rever o conceito de que a mulher se licencia do mundo para gerar e cuidar dos primeiros meses de uma nova vida.

Eu até tentei pensar em algum outro termo que pudesse substituir este, mas não encontrei nenhum, ainda mais porque qualquer afastamento da tarefa produtiva recebe esse nome, mesmo a licença prêmio. Mas fica a sugestão pra todo mundo pensar.

O fato é que as palavras são muito importantes, elas são definidoras, moldam as ideias que representam. Tanto que, realmente, as mulheres são consideradas e mesmo se consideram improdutivas ao cuidarem de seus filhos recém-nascidos.

Caramba ...




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