domingo, 6 de março de 2011

Mamadeiras: seus discursos formal e promocional afirmam que elas representam um avanço em relação ao seio materno

Inicio, com estes 2 modelos de mamadeiras, uma síntese da análise realizada pela tese "O desdesign da mamadeira".

Modelo 1: Tommee Tippee – Dinamarca


Projetada com a colaboração de especialistas em amamentação, a revolucionária nova Tommee Tippee Closer to Nature Easi Vent imita o fluxo natural, o movimento e a suavidade do seio materno (...). Sua forma única encoraja a ação natural de seu bebê a migrar do seio à mamadeira, transformando-a em uma segunda natureza [1].

Crítica – O fluxo do leite que o bebê ingere por intermédio da mamadeira é mais intenso que o da amamentação. O bebê alimentado ao seio consegue sugar conforme sua própria demanda, respirando nos intervalos que lhe convém. Por outro lado, a mamadeira goteja, obrigando a criança a acelerar seu ritmo de sucção e a alterar seu processo mecânico instintivo em razão da necessidade de elevar a língua ao céu da boca para contrair o bico do produto. Esse movimento artificial traz consequências para o processo respiratório e para a anatomia da arcada dentária; além disso, não há “ação natural” alguma na migração do seio à mamadeira, pois este é um produto inventado.

Design – O design inovador do produto fornece todos os atributos explorados em sua promoção. A mamadeira é closer to nature em termos de dimensão (maior do que as tradicionais, alcançando o diâmetro de um seio humano), de aparência (Just like Mum’s breast) e de sensação (a ponta do bico elástico se move para os lados). O “canudo” interno promete eliminar as bolhas de ar que provocam cólicas no bebê. Sua presença potencializa a tridimensionalidade do produto, contribuindo para que o efeito estético final resulte verdadeiramente impactante.

Mas como fazer para garantir a higienização de mais esta peça? Instruções severas de limpeza, assim como escovas muito finas acompanham o produto, formalmente análogo à da mamadeira vitoriana (Inglaterra - 1880), impossível de limpar. Registros históricos afirmam que naquela época apenas 2 entre 10 crianças ultrapassavam os 2 anos de idade (babybottlemuseum.uk).



O mesmo "princípio" está presente no próximo modelo, muito  utilizado no Brasil: 

Modelo 2: Dr. Brown’s – Estados Unidos



A mamadeira Dr. Brown’s vem recebendo numerosos prêmios de design e sendo aclamada pela comunidade médica. Na verdade, muitas de nossas mamadeiras têm sido adotadas por hospitais, UTIs neonatais, e consultórios médicos. Mais importantes são os testemunhos de mães e pais por todo o mundo, expressando sua excitação por inseri-la nos hábitos de alimentação de seus bebês[2].


CríticaPrêmios de design e de medicina têm agraciado projetos de mamadeiras como se elas não oferecessem risco algum às crianças. Mas os hospitais públicos dos países signatários da aliança internacional em prol da amamentação proíbem a entrada do artefato em suas dependências. As indústrias de leites artificiais tradicionalmente mantêm relação muito próxima com profissionais da rede privada de saúde, fornecendo-lhes facilidades, brindes e promoções (Goldemberg, 1989). O nível de enraizamento do produto na cultura é tão alto que a adesão às novidades realmente poderá se dar “com excitação”, à revelia da extensa quantidade de informação disponível sobre os problemas por ele provocados.
Design – O canudo interno é apresentado como uma solução tecnológica que evita bolhas de ar. De diâmetro muito pequeno, exige higienização com uma escovinha muito fina. Sua aparência é mais de um utensílio médico do que de um objeto de consumo.

Se o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno vem controlando as embalagens, a publicidade e várias outras facetas dos produtos, os discursos promocional e formal das mamadeiras continuam exercendo - subliminarmente-  grande apelo sobre os consumidores.


[1]  Disponível em www.tommeetippee.co.uk. Acesso em setembro de 2009.
[2] Disponível em www.handi-craft.com/about-us/dr-brown-story.htm. Acesso em agosto de 2009.

4 comentários:

  1. Olá, moça! Estou achando muito interessante o estudo e sua preocupação com esse assunto. Apesar de ser defensora do aleitamento materno nunca tinha visto a mamadeira dessa forma, só tinha uma certa birra com o leite em pó mesmo. Mas agora, vendo seu alerta, me surgiu uma dúvida: como fazer com os chazinhos, depois dos 6 meses? Existe alguma alternativa melhor que a mamadeira?
    Obrigada desde já.

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  2. Legal, Rô! Desculpe a demora em responder. A alternativa é dar os chazinhos, a água no copinho ou numa xícara, uma solução simples. Percorrendo o blog em posts anteriores você verá outras informações. No Youtube gosto muto de um vídeo de nome "Luiza gatinha", ilustrativo!

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  3. Olá! Eu tenho um filho de 7 meses e ainda mama, apesar de já comer papinha de verduras e frutas. Ele tem dificuldade em beber água e leite na mamadeira. Existe alguma alternativa para mamadeira?

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  4. Cada criança e cada mãe apresentam suas próprias dificuldades que às vezes são muito bem superadas com a ajuda das mamadeiras, possibilitando inclusive manter a amamentação no peito por mais tempo, ao mesmo tempo com uso de mamadeiras. Opiniões radicais são um desserviço a tantas mães que se sentem culpadas quando não conseguem amamentar, e dar o copinho não é tão simples e fácil assim. Aleitamento materno sem dúvida é o melhor, mas trabalhando de perto com isso e sendo mãe sei que mamadeira não é um bicho de sete cabeças.

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