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Foto de Paula Bronstein - Getty |
sábado, 21 de agosto de 2021
Nunca estaremos a salvo
terça-feira, 20 de julho de 2021
Uma homenagem ao Dr. Hector Martinez, ídolo-amigo que se foi
Há quarenta anos, numa maternidade da periferia de Bogotá, a
natureza conseguiu ser ouvida em meio aos apitos descompassados de uma Unidade
de Terapia Intensiva cheinha de “almas apressadas” - aqueles bebês que nascem
antes de estarem prontos para sair do corpo de suas mães.
Há quarenta anos a natureza conseguiu ser ouvida em meio a
todos aqueles aparatos tecnológicos, criados justamente para tentar substituir
artificialmente os corpos das mães, seu calor, a nutrição que proporcionam. Só
que, com o tempo, aqueles aparatos se “naturalizaram” como destino para todos
os prematuros, muitas vezes um destino muito cruel para as almas apressadas.
Alguns ouvidos atentos escutaram o barulho da solidão
daqueles bebês, e o tom grave e contínuo da melancolia das famílias que se iam,
sem acreditar num futuro. Esses alguns
ouvidos também mediram a distância que separava aqueles dois sons.
O fato é que esses alguns ouvidos escutaram além dos apitos
descompassados, por dentre aqueles apitos, em volta deles: havia muitas, muitas
outras notas. Pararam então para escrever o que ouviram em uma partitura cheia
de desobediências àquelas regras que tinham se naturalizado.
Aos poucos foi-se abrindo espaço para os tons de delicadeza,
de suavidade e cuidado. Eles soavam baixinho, mas com tal harmonia que
conseguiam desconcertar os apitos, superando-os em efeito.
Era a distância a responsável por aquele barulho que alguns
ouvidos escutaram. O corpo da mãe havia, o corpo do bebê havia, o do pai havia,
o dos avós e irmãos havia.
Era a distância ...
Livre dela, a natureza se fez ouvir, em toda a sua
simplicidade e grandeza.
Essa sinfonia hoje soa livre ao salvar as vidas das almas
apressadas.
Muito, muito obrigada, alguns ouvidos.
quarta-feira, 7 de julho de 2021
Um resultado de aulas
Este foi um dos exercícios produzidos por minha aluna Carol Ramalho na disciplina Teoria e enfoques críticos da Comunicação no Design.
A proposta era a de partir de alguma peça gráfica já publicada por organizações da sociedade civil voltadas a dar visibilidade a graves questões, com o intuito de incentivar os estudantes de Design a dedicar esforços a esse tipo de ativismo, para além das tarefas profissionais mais tradicionais da área.
Carol escolheu o projeto de Rebecca Kaur, selecionado na iniciativa #oneperday20, empreendida pela University for the Real World no ano passado. Tratava-se de peça análoga a essa, abordando o verdadeiro custo humano e ambiental da fast fashion.
Esse impresso que recebemos ao fazer uma compra trivial é familiar a todos que consomem produtos, portanto ele tende a ser imediatamente identificado pelo observador, que no entanto há de se perguntar o que o estará conduzindo a merecer qualquer tipo de destaque. Ao ler, entretanto o texto, os motivos são revelados. E isso exerce um efeito-surpresa muito promissor para a eficácia da comunicação.
Reparem que ela acatou elementos dos muitos símbolos criados para ocasiões de boicote à indústria, dando visibilidade aos efeitos nefastos produzidos pelas fórmulas lácteas (Nasty = sórdido).
Carol escolheu retratar os filhotes mortos sob o olhar incrédulo da mãe. Uma "sutileza" muito forte que no entanto, graficamente, guarda total analogia com o símbolo original.
PS: os números são simulados (são inúmeros)
sábado, 5 de junho de 2021
Não dá pra ignorar esses fatos
Há uns poucos anos eu recebi em casa o técnico que avaliaria um defeito na impressora. Figura simpática, me viu em meio à papelada de preparação de um artigo sobre os problemas da mamadeira e papeamos um pouco sobre o assunto (eu nunca perco a chance).
Ele ficou muito surpreso com o que lhe contei ... e deu o diagnóstico da impressora: "_Precisarei levar um teste de impressão para ilustrar o problema e volto com a peça um outro dia". E como eu nunca perco a chance, imprimi então a arte-final do cartão de visitas aqui do blog no tal teste. Daí ele me disse que conversaria com sua prima, que coincidentemente era funcionária da Nestlé.
Na semana seguinte voltou e consertou a impressora. E me contou que a prima veio ao blog, ficou horrorizada com as coisas que encontrou sobre a empresa para a qual trabalha e, em conversa telefônica com uma colega da sede suiça indagou: "_ Isso tudo é verdade?". Ao que a indagada respondeu: "É".
Essa história me veio à memória durante a semana, quando soube da matéria do El País sobre o vazamento de um DOCUMENTO INTERNO DA NESTLÉ que reconhece que mais de 60% de seus produtos não são saudáveis e "nunca serão saudáveis".
Vamos aqui lembrar do slogan "NESTLÉ FAZ BEM", e que a indústria se autodenomina "autoridade máxima em nutrição".
Só que quatro categorias de produtos ficaram de fora dessa avaliação de tão graves resultados: nutrição infantil, ração para animais, café e nutrição médica. Imaginem se tivessem sido incluídas no estudo...
Repito então aqui um documentário que ilustra como e quanto os produtos de nutrição infantil fazem mal. A gente não pode ignorar esses fatos.
terça-feira, 20 de abril de 2021
Minha trajetória rumo à pesquisa sobre os problemas da mamadeira
É com alegria que compartilho a ENTREVISTA que dei à Editora PUC-Rio sobre a trajetória que me conduziu ao desenvolvimento do livro "Amamentação e o desdesign da mamadeira" e à minha atuação desde então (não consegui colocar aqui o vídeo para abertura, mas o link funciona).
segunda-feira, 8 de março de 2021
Que imagem!
sábado, 23 de janeiro de 2021
De como se ensinava mulheres a fazerem partos no séc. XVIII
Ja faz bastante tempo que guardo essa imagem. Eu a vi solta, em algum lugar, e apenas agora me dediquei a investigar sua origem. A busca foi pelo Google Images e demorou um bom tempo, mas a encontrei. E junto com ela uma história de extrema dedicação e luta de Angélique Marguerite du Caudray.
Dentre os materiais que encontrei, recomendo a leitura do Artigo de Rebecca Halff: sintético, rico e muito informativo. Mas conto um pouquinho.
Madame du Caudray -como era conhecida- se formou pela Faculdade de Cirurgia de Paris como parteira credenciada, e em 1769 lançou um pequeno livro, desses que cabem no bolso de qualquer avental, sob o título Abrégé de l'art des accouchements (Compêndio da arte do parto). Quisera termos acesso a uma publicação assim! Vejam só uma das lindas ilustrações:
Naquela época, as mulheres perdiam para os médicos obstetras a função de ajudar a nascer bebês. Enquanto aluna da Faculdade, Madame du Caudray ainda presenciou a prática de acesso livre a mulheres não matriculadas nas palestras de cirurgia. Mas elas acabaram sendo proibidas de frequentá-las. São na verdade muito impressionantes as mudanças sociais que se operam na sociedade, os artifícios empregados, a retirada paulatina do poder dos membros da comunidade em agirem como tal, como comunidade ...
Só que, além do livro, ela desenvolveu também Modelos de ensino do aparelho reprodutivo feminino, o que representa uma iniciativa de vanguarda dessa médica. Seguem as imagens:
Os modelos são em escala real, produzidos por ela.
Todo mundo já foi aluno aqui. A gente sabe muito bem a diferença que faz estar diante de um modelo tridimensional e de uma explicação teórica ou de desenho esquemático bidimensional. Poder pegar na coisa, dispor de partes anatômicas removíveis, ter diante dos olhos e das mãos um simulador realmente compreensível daquilo que queremos aprender é o que de melhor se pode dispor para adquirir conhecimento acerca de algo tão denso de emoções, incertezas, dor e esperança.
O artigo recomendado acima nos conta que, a pedido do Rei, Madame du Caudray foi para o interior, ensinar às mulheres do ambiente rural a fazerem partos, pois muitos bebês estavam morrendo por inabilidade das parteiras de lá.
Para fechar a história, um daqueles dados que nos fazem "cair das núvens" pra ter que encarar a realidade: a preocupação, na época, era a de "fabricar futuros soldados"...
Fica o brilhantismo dessa médica que há de ter contribuído para salvar muitas vidas, ensinar esse ofício primordial às mulheres e nos encantar com a arte de ensinar.