sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

É importante que se diga



Todos sabemos o quanto é prazeroso ver a reação das pessoas a quem trazemos boas notícias, relatos tranquilizadores, surpresas capazes de empolgar.

Quisera pudéssemos sempre ser mensageiros das coisas boas ...

No trabalho de divulgação da minha pesquisa sobre as mamadeiras, ao contrário dessa boa sensação, costumo dizer que "falo aquilo que as pessoas não querem ouvir".

Infelizmente há coisas que precisam ser ditas, mesmo que contrariem totalmente a definição deste primeiro parágrafo do post.

Mas o interessante é que, para alguns, essas "coisas que não se quer ouvir" são "as coisas que, cada vez mais, se quer ouvir". Essas pessoas são aquelas que já sabiam de tudo e que se comprazem ao receber mais pessoas que, como elas, prossigam com o trabalho de dizer essas coisas, pra todo mundo.

Dessa maneira, bem recebida, me senti na semana passada, em Manaus, durante o  XIII Encontro Nacional do Aleitamento Materno.







Em cada conferência que assistia, a cada pergunta lançada da platéia, nas conversas, nos quiosques, nas mesas de refeições, um montão de pessoas, de vários países, que trabalham em prol da imperiosa causa da segurança alimentar infantil. Gente para quem uma pesquisa dedicada a alertar as famílias e profissionais de várias áreas de que a mamadeira é perigosa, representa uma voz a mais, um alívio, um conforto.

Aprendi muitas coisas novas, tive diante de mim figuras importantíssimas que iniciaram toda essa luta, dentre as quais aqueles de quem já me tornei amiga e com quem venho trabalhando em alegre e produtiva colaboração.

Dentre as coisas que aprendi, mais uma coisa importante que eu elencaria dentre as coisas que "preferíamos não saber", é que o Brasil recebeu nota ZERO no quesito "alimentação infantil durante as emergências", o que sinaliza que não "existem políticas e programas adequados para garantir que as mães, bebês e crianças recebam ajuda e proteção adequados para apoiar a alimentação infantil ótima durante as emergências" (Situação da estratégia global para alimentação de lactentes e crianças de primeira infância - Boletim 2014 da World Breastfeeding Trends Initiative).

Em outras palavras, não há qualquer preparo para que, nas situações de emergência que se fazem cada vez mais frequentes no mundo, os brasileiros possam recorrer a práticas seguras de alimentação de bebês e crianças de primeira infância, dentre elas o incentivo à amamentação.

                                                  Palestra de Marcos Arana Cedeño

Quando houve a tragédia de Teresópolis e Friburgo, no Rio de Janeiro, há poucos anos atrás, uma amiga enfermeira me relatou o seguinte caso: ao visitar uma das cidades junto a outros voluntários, ela se deparou com uma mãe desabrigada que alimentava o filho recém nascido com uma mamadeira. Ao ser perguntada sobre o motivo de estar alimentando o bebê daquela forma, a mulher respondeu:

"_ Eu estava amamentando, mas as equipes de ajuda me deram a mamadeira e o leite... entendi então que isso deve ser melhor para o meu filho..."

Daí, recorrendo àquilo que falam as pessoas "que dizem coisas que não queremos ouvir", ressalta-se que, depois de um desastre natural, não há água (para hidratar o leite em pó nem para higienizar com toda a perfeição exigida uma mamadeira) nem mínimas condições sanitárias. Nessas ocasiões, a amamentação é uma benção, e a preocupação que se deve ter é em alimentar e hidratar as mulheres que podem aleitar seus filhos.

Deus proteja o Brasil e prossiga dando energia a esses obstinados ativistas, que com seu trabalho incessante têm salvado muitas vidas.


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