quinta-feira, 14 de julho de 2022

Fraldas: vamos pensar com carinho nesse assunto?

O filme de animação a seguir foi desenvolvido na disciplina de Projeto 5 do curso de Design da PUC-Rio há alguns anos atrás, a partir de uma proposta formulada por mim. Ao contar aos alunos sobre o imenso impacto que a prática de uso intensivo desses produtos causa ao meio ambiente, eles se alarmaram (aliás como acontece com qualquer pessoa que seja convidada a visualizar a quantidade de lixo que elas produzem). Eu me lembro que fui para o quadro fazer, junto à turma, a conta de quanto cada um deles produziu de lixo durante sua tenra infância e chegamos juntos a uma soma imensa! Então multipliquei aquele valor pelo número de alunos presentes e o resultado foi muito assustador. Daí fiz uma cena, dizendo: _Agora vou abrir a porta da sala e tudo isso será descarregado aqui pelos caminhões que contratei!

Foi um momento sensacional que resultou no roteiro e realização desse filme:


Pois é, mas "a velha e boa fralda de pano" realmente não era tão boa assim, embora TODAS as crianças nascidas até a invenção da descartável tivessem feito uso delas. É importante a gente reconhecer que a fralda descartável trouxe muita praticidade, foi realmente inovadora em muitos termos, deixando a de pano a anos luz de distância.

Só que o bacana, bacanérrimo aliás, é que essas inovações puderam ser aplicadas na fralda de pano, tornando-a -aí sim- eficiente, linda, durável, econômica, ecológica, em um projeto aberto (Creative Commons) que permite que várias empresas e iniciativas o desenvolvam e comercializem de sua própria forma, sem pagar pela licença de uso.

Faz muito tempo que eu descobri que a Morada da Floresta estava produzindo fraldas, e agora constatei que a Bela Gil é um tipo de garota propaganda do produto que ela ajudou a aprimorar. Então abro espaço pra que Bela o apresente aqui pra quem ainda não conhece e afirmo: elas são incríveis! Tecnologia realmente de ponta! Recebi ontem algumas para munir e inspirar os pais dos meus netinhos.





quarta-feira, 13 de julho de 2022

Sobre fatos hediondos na sala de parto

Eu verdadeiramente aprendi o significado da palavra HUMANO ao visitar Berlim, há alguns anos. Antes disso, sempre a vinculei a algo que inspiraria verdade, dignidade, integridade, capacidade de cuidar e de respeitar. Até que comecei a me incomodar com seu uso para adjetivar pessoas, serviços, procedimentos: "fulano é humano", "atendimento humanizado", "gesto humanitário". Porque isso para mim demonstrava o uso de um superlativo pra tentar salvaguardar algo que deveria ser humano de raiz, humano por definição, mas que já não o era mais. Não o era mais. Em Berlim eu entendi que o humano nunca foi esse humano que a gente acha ser humano. Eu nunca havia deparado com a preservação de marcas da destruição - inúmeros prédios conservam os estragos feitos por bombas; o espaço urbano é pontilhado de monumentos erguidos para que o passado não seja esquecido; documentos estão expostos em espaços públicos para que a história ali permaneça - cicatriz que nunca deixará de sangrar. E nunca havia deparado, também, com o contraste estrondoso que todo esse mal estabelece com manifestações de pura beleza que vi, ouvi e vivi em Berlim. Daí que entendi, de maneira perturbadora, que o humano é tudo isso: ele pode ir do mais torpe e hediondo até o sublime, compreendendo todas as gradações que separam esses extremos. Então, não se trata de que "errar é humano", e sim de que não há limites para a expressão do humano. Escrevo isso por efeito da notícia sobre o ser que estuprou mulheres na mesa de parto. Quantas outras mulheres lhe serviram sem o saber? Quantos outros profissionais não incorrem em ações análogas? Desde quando e até quando? Inclua-se nisso todo o resto, todo o tudo que passamos, sendo e estando sujeitos a humanos.