segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Uma imagem que não vale nada



A mamadeira é um objeto profundamente enraizado em nossa cultura, naturalizado ao ponto de ocupar posto muito mais aceitável do que a amamentação para muitas pessoas.

Visitando Buenos Aires, recentemente, no Malba deparei com esse quadro de Botero, pintor colombiano popularmente conhecido pelas personagens roliças que fortemente caracterizam suas produções. Mas é claro que atentei para a presença das mamadeiras na composição, de nome "Los viudos" (Os viúvos).

Esta é uma situação crítica em que um modo alternativo de alimentar bebês se faz necessário: a morte da mãe. O problema está em que o uso da mamadeira foi se espraiando por justificativas muito menos reais ou nada reais, ao ponto de serem presenteadas já no chá de bebê, antes de se saber se haverá problemas para a amamentação. As comunidades africanas, antes da chegada desastrosa da indústria de leites artificiais por lá, resolviam a questão utilizando xícaras ou colheres para administrar alimento aos bebês. Coisa parecida fazem os índios, empregando cuias (fruto da cuieira madura, depois de esvaziado seu miolo) para alimentá-los com pasta de mandioca.

O fato é que a imagem da mamadeira (e também da chupeta) vem sendo empregada como um "doce símbolo de infância" nas mais variadas produções visuais. E admito que fiz isso também no início desse blog....

Pois é, como "pano de fundo", escolhi um padrão de mamadeiras e chupetas disponível no blogspot. Minha intenção era de que as pessoas se aproximassem daquela imagem e se espantassem ao ler os posts, inteiramente contrários àquela ideia. O contraste funcionaria, ao meu ver, como um recurso comunicativo. Só que, ao iniciar a divulgação do blog, fui logo alertada pela IBFAN Brasil (International Babyfood Action Network) e até hoje agradeço pelo claro "puxão de orelha" de Marina Rea. Temos que desnaturalizar esse objeto, nas menores ações, em cada escolha que fizermos, pois assim estaremos colaborando para que as coisas mudem. O poder da imagem é fortíssimo, não há como negar.

E precisamos estar atentos, muito atentos, porque coisas verdadeiramente esdrúxulas acontecem...

Vejam esse exemplo, encontrado no livro ilustrado "El Embarazo", disponível na lindíssima Livraria Atheneu, também em Buenos Aires: a mamadeira, sim, a imagem da mamadeira é empregada para demonstrar a composição do leite materno!!!!




As indústrias estão se dando muito bem com isso, vendendo mais e mais latas de leite em pó, mais e mais modelos de mamadeiras cheias de "design". E os bebês? O leite materno é o melhor alimento do mundo, vale pesquisar. Não há nada melhor do que o aleitamento materno, pode pesquisar também. Sobre alternativas? Use o copo, a xícara, a colher. E ao produzir imagens, não empregue a mamadeira, please! O consenso científico internacional, firmado há quase 40 anos, agradece.


Nenhum comentário:

Postar um comentário