domingo, 9 de novembro de 2014

Com os leitores, a palavra

A gente pesquisa um assunto, escreve sobre ele e o publica em livro. No decorrer dessas etapas, vamos colhendo inúmeras contribuições e impressões dos colegas, expressões entusiasmadas de leitores e do público que assiste às apresentações, além de merecer resenhas como as que escreveram sobre meu livro "Amamentação e o desdesign da mamadeira" o pediatra Luis Tavares, a jornalista especializada em design Ethel León e o designer Jorge Frascara. Além, é claro, do texto de apresentação da publicação, redigido por Rosana de Divitiis, da IBFAN Brasil.

Todas essas impressões, ditas, escritas ou "olhadas" é que concedem sentido ao que foi realizado.

É o leitor a parte mais importante da história toda. Como reage àquilo que o livro relata? Como considera o conteúdo escrito? Em que medida esse conteúdo pode contribuir para o esclarecimento do leitor e uma sua mudança de postura diante do objeto criticado?

Projetamos objetos para serem usados, por isso a opinião do usuário é que dará sentido ao produto; escrevemos para que o texto seja lido, e por isso é a opinião do leitor que credenciará ou não nosso trabalho.

Muito bem. Sou professora da PUC, do curso de Design, e lá, dentre as disciplinas, há uma de nome "Análise e produção do texto acadêmico", ministrada por duas professoras de Letras.

Fala-se tanto do alto nível de integração e cumplicidade dos irmãos gêmeos, não é? Pois essas duas professoras são irmãs gêmeas e decidiram, as duas, adotar meu livro em suas turmas de calouros. O livro é dividido em partes que são apresentadas, em seminários, pelos alunos. Ao final, uma resenha sobre todo o conteúdo é escrita.

Compartilho aqui alguns dos trechos dessas resenhas:

Podemos levar em conta que a mamadeira é apenas um dos inúmeros elementos (produtos) consagrados em nossa sociedade que devem sofrer o 'desdesign', como o cinto de segurança e até mesmo sachês de ketchup. O que nos é apresentado como símbolo de progresso e modernidade pode significar, na realidade, um retrocesso. Deste modo, o livro não provoca apenas a reflexão acerca da mamadeira e da inquestionável superioridade da amamentação, mas também faz com que o leitor se sinta encorajado a repensar, criticamente, toda a influência da cultura do consumo e a sedução por meio do design que acaba por alienar nossa sociedade. O texto de Cristine não é apenas informativo ou argumentativo, há todo um caráter educativo que enriquece a mente dos designers em formação, mostrando servir como um instrumento de avaliação do papel do designer, fundamental para quebrar os estereótipos da atuação deste profissional (Maria Isabel Mariz May Carmo).

Trata-se de uma obra capaz de mudar a maneira com que um indivíduo age perante a questão problematizada, além de dar mais visibilidade à luta pela amamentação (Taiane Amaral Viceconte).

A metodologia de 'desmontar' o produto até seu conceito matricial de funcionalidade é vital para qualquer designer (Ernani Valente).

Em meio a uma sociedade movida por valores estéticos e capitalistas é um verdadeiro alívio ver que ainda existem pessoas que se mobilizam e se debruçam por causas como essa. É seguro afirmar que quem ler o livro de Cristine Nogueira Nunes nunca mais irá olhar para uma mamadeira da mesma forma (Maria Guimarães Flexa Ribeiro).

As informações presentes na obra de Cristine são chocantes e, ao mesmo tempo, importantes, principalmente para que os designers dessa geração possam projetar um substituto eficaz e saudável para a mamadeira. O copinho, defendido pela professora, seria uma boa solução para extinguir a mamadeira de vez (Bruna Ramalho Atanes).


A iniciativa das professoras Maria de Lourdes Sette e Fátima Santos, faz com que a informação sobre os problemas da mamadeira chegue aos jovens, mais especificamente aos jovens designers.

Que a indignação e a disposição à inovação conduzam a carreira desses alunos. Muito obrigada por esse retorno tão especial ao meu trabalho, que na verdade espelha para a área do Design uma luta internacional que já dura muitos anos, travada por um sem fim de ativistas, profissionais e pesquisadores, a quem rendo minhas mais sinceras homenagens.

domingo, 2 de novembro de 2014

Criei coragem... e fui!


Viajar, pra mim, é tudo.
De uns tempos pra cá, tem sido possível conhecer aqueles lugares que existem, simultaneamente àquilo que podemos enxergar em nossas rotinas.

Estive em Berlim.
Céus, que coisa impressionante é aquela cidade..., onde deparamos com os extremos que caracterizam a humanidade: o que há de mais torpe e louco, e bárbaro, e também o que há de sublime, de arte, de capacidade de reconstrução, de convivência com a dura realidade.

Eu sabia de antemão que quando chegasse lá, eu iria me render. Não deu outra.

Sou designer. Minhas referências estão na Alemanha, na Bauhaus, na Escola de Ulm. E como aluna da ESDI sempre valorizei muito tudo isso, compreendendo que nenhum colonialismo cultural abafa o que somos, mas que essas fontes nos são caríssimas.

Bom, por via das dúvidas, como sempre faço, carregava um exemplar do meu livro "Amamentação e o desdesign da mamadeira" na mala. Vai que...

Numa noite, despertei de madrugada e pensei: atenção! vou no Bauhaus Archive amanhã! Meu livro! Será?

Não por vaidade, mas por senso de oportunidade, pensei: o que fiz foi referendar, como designer, a grande causa da denúncia do quanto as mamadeiras fazem mal aos bebês. Estou em Berlim. Respiro fundo, tampo o nariz, crio coragem e doo um exemplar da minha pesquisa pra biblioteca da Bauhaus.

O dia amanheceu e eu prossegui determinada. Ao chegar lá, o rapaz da Bauhaus Shop achou a ideia ótima, e ainda me disse que a secretária da biblioteca era brasileira \o/

Eu procurei por Sulaine Herbig, uma mineira de Araraquara que tem a maior pinta de alemã, e contei do meu intento.


Deixei o livro em suas mãos. Fui muito bem recebida.

Quem sabe, algum dia, alguém por lá o folheie...

Esse trabalho é mesmo assim, devagarinho, deformiguinha, porque a causa é forte.