terça-feira, 15 de julho de 2014

Não é à toa que as mamadeiras estão cada vez mais bonitas...


Estes foram os modelos de mamadeira que analisei em minha pesquisa de doutorado.

Bonitonas, né? Modernas, tecnológicas... ao mesmo tempo fofas, confiáveis... Eu fiz mesmo questão de escolher as mamadeiras mais legais que estavam disponíveis no mercado internacional àquela época (2009/2010), e pra isso tive que contar com a ajuda de amigos de diferentes partes do mundo para compra-las.

Mas por que não simplifiquei as coisas, selecionando modelos disponíveis no Brasil, baratinhos?, afinal, é tudo mamadeira...

O fato é que me impressionou (pra não dizer arrepiou, horrorizou) muito o fato de haver uma diretriz da OMS + um acordo internacional assinado por quase 200 países em prol da proteção do aleitamento materno contra as incursões da indústria + uma rede igualmente internacional de controle de comercialização de substitutos do leite materno (Ibfan) + uma Norma Brasileira para Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Protetores de Mamilo (NBCAL) e, mesmo assim, continuarmos a consumir o produto tranquilamente, como se ele não oferecesse risco algum. http://www.alimentos.uff.br/sites/default/files/NBCAL.pdf

A Norma determina a obrigatoriedade de avisos de advertência nos rótulos e embalagens de mamadeiras, latas de leite em pó etc, do tipo "O Ministério da Saúde adverte..."; proíbe sua propaganda; limita a forma com que devem ser expostos nos locais de venda, tudo para evitar que o apelo visual e retórico do produto atinja o consumidor de maneira persuasiva.

Um sério trabalho de monitoramento vem sendo realizado e denunciados muitos casos de violação às regras. Mas esse controle é difícil...

Só que mais difícil me parece o fato de não dar pra considerar violação o apelo formal das mamadeiras, o poder de persuasão e de sedução de seus atributos projetuais.

Reparem, eu tirei todas as embalagens delas, os modelos estão aí em cima completamente desnudos de aparatos que, por um lado atraiam o olhar do comprador em uma loja cheia de outros produtos e, por outro, contenham advertências que pretendem alertar acerca do perigo de seu consumo....

... e elas atraem, seduzem, criam em nós o desejo de possuí-las se, claro, não estamos devidamente vacinados contra essa sedução com a consciência de que a mamadeira é um produto extremamente perigoso, que faz vítimas mais e menos fatais, a curto, médio ou longo prazo. Basta pesquisar um pouco pra encontrar informação farta sobre isso.

Quem está projetando essas... "tetéias"?

Afora a necessidade de alertar os designers sobre o nível de compromisso que têm com as consequências dos produtos que desenvolvem, acho que temos que inventar um jeito de ajudar os legisladores a ter controle também sobre as "belas" formas das mamadeiras.



4 comentários:

  1. Olá Cristine! Visitando o teu blog e fazendo pesquisas para uma breve apresentação antes de sua palestra... Muito bacana! Parabéns e obrigado por sua atuação nessa área! As crianças e famílias agradecem. Um beijo e falamos no final de semana.

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    1. Obrigada! E eis que tudo já aconteceu e correu tão bem, não é? Sim, é uma honra trabalhar com voc~es por essa grande causa, Roberto!

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  2. Não pude amamentar, e senti muito com isso. Tenho consciência de que a mamadeira está longe dos benefícios da amamentação, mas torço pra que a ciência desenvolva modelos cada vez mais próximos anatomicamente dos seios, a fim de minimizar ao menos os riscos que ela traz atualmente.

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  3. O fato é que um simples copo ou colher constituem um modo alternativo de alimentar os bebês. Esta é a orientação das agências de saúde, aliás. O problema é a dificuldade de as pessoas credenciarem esses objetos simples. Acredito que a saída é desenvolver copos específicos para a função, e não arremedar o seio humano, o que-em tantos e tantos anos- se provou ineficiente e prejudicial. Obrigada por seu comentário!

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