sábado, 13 de abril de 2013

O que será que será?



Uma amiga muito atuante no trabalho de defesa da prática da amamentação, Ana Basaglia, fotografou este quiosque da empresa Fom em um shopping paulistano, decorado com a imagem de uma mãe dando mamadeira a seu bebê com o auxílio de uma almofada, concebida para servir de apoio à mãe que amamenta.

Ela publicou a imagem no Facebook e também enviou mensagem diretamente à empresa, defendendo a ideia de que a mãe deveria estar amamentando a criança, e não lhe administrando leite (fórmula láctea) por mamadeira pois, diante de todas as evidências científicas (OMS) e normas internacionais, o incentivo ao uso de mamadeiras constitui um desserviço à segurança alimentar infantil.

Concordo em gênero, número e grau com Ana, e com todos os comentários ao seu post.

Concordo e fico pensando, mais uma vez, no quanto a cultura industrial está nos transformando, porque se a mãe estivesse amamentando a criança, tal imagem poderia não ser tão bem aceita por todos. Para muito grande parte das pessoas, a mamadeira é mais "normal" do que um seio exposto, por mais louco que isso seja. Inúmeras ocorrências de censura à amamentação em lugares públicos acontecem, e sei de algumas no Brasil e nos Estados Unidos, já comentadas em posts anteriores.

E é daí que vem o pensamento que tive pra escrever aqui, agora, sobre isso.

Há alguns anos percebo, ao andar nas ruas do Rio de Janeiro, que muitas crianças grandes são conduzidas por seus pais e responsáveis em carrinhos de bebê. Elas já sabem andar e, por vezes suas pernas fazem um ângulo claramente desconfortável no carrinho, de tão crescidas que são.

Ao comentar o fato no Facebook, recebi o comentário de que o carrinho pode ser muito útil para distâncias médias e grandes, facilitando a vida das crianças e dos adultos que os conduzem. Fiquei com isso num canto da cabeça, mas pensei: isso começou agora, é um fenômeno.

Até que, em março de 2012, em visita a Nova Iorque, constatei que isso acontece direto por lá. Não é vez que outra, mas praticamente sempre.

Então vamos pra outro item infantil: as fraldas descartáveis.

Foi nos anos de 1980 que elas surgiram por aqui. Em 1989, quando minha filha nasceu, eram muito caras e apenas recorri a elas em ocasiões muito especiais, como passeios. Me virei muitíssimo bem com as fraldas de pano e a máquina de lavar roupa. Se tive que lidar com cocôs e xixis? Claro. E quando minha filha começou a falar com mais destreza, perto dos 18 meses, tiramos a fralda e pelejamos - como todos os mortais - pra ela adquirir o contrôle e pedir pra ir ao banheiro. Nessa foram muitos xixis no sofá da sala, no colchão etc.

Agora, quero que me acompanhem numa conta que costumo fazer com meus alunos:

- um bebê utiliza cerca 6 fraldas por dia (estou fazendo a conta muito por baixo, ok?)
- em um ano serão 2.190 fraldas

Mas como as fraldas descartáveis são muito práticas e de alguma forma eximem as pessoas de lidar com os excrementos das crianças (permanece sendo necessário limpar os bebês, mas a lida com a coisa em si na fralda acaba eliminada), tornou-se hábito mantê-los com o produto até os 2 ou 3 anos. Mas vamos dizer que por dois anos:

- 2.190 x 2 = 4.380 fraldas

Então a criança cresceu e apenas dormirá com o produto por mais um ano:

- 4.380 + 365 = 4.745 fraldas

Mas se for menina, lá pelos 12 anos iniciará sua vida fértil, consumindo 10 absorventes higiênicos descartáveis por mês, no decorrer de ... 38 anos (imaginando que a menopausa chegará aos 50 anos):

- 10 absorventes x 1 ano = 120 absorventes x 38 anos = 4.560 absorventes.

Agora imaginem esse lixo todo aí em suas casas.

Na turma eu digo assim: vamos multiplicar esse lixo todo pelo número de alunos e colocar aqui, dentro dessa sala. Cabe?

Eles têm carca de 20, 23 anos. Muitos deles ainda foram criados com fraldas de pano. Mas na cabeça das pessoas, hoje, é inconcebível abrir mão da fralda descartável.

Mas não pode ser, pelo amor de Deus, não pode.

A produção industrial está nos escravizando silenciosamente. Estamos reféns do consumo de produtos. Temos o melhor alimento para alimentar nossos filhos em nosso próprio corpo; antes do fenômeno contemporâneo do carrinho, as crianças da face da terra, quando cansavam de andar médias distâncias, paravam um pouquinho ou podiam contar com um trecho de colo de seus responsáveis; todas as crianças da face da terra usaram fraldas de pano até que a descartável surgisse e se tornasse financeiramente acessível.

Quanto aos absorventes higiênicos? Até surgir o descartável, todo mundo usou toalhinha higiênica. Desconfortável? Muito: passei uns bons 5 anos de minha vida fértil tendo que recorrer a eles por falta de opção. Se eu adotei os absorventes reaproveitáveis quando eles surgiram, mais bem desenhados, quando estava na fase adulta e tomei consciência do quanto seriam muito mais adequados que os descartáveis? Não, não os adotei. Porque não estou me eximindo do fato de ser parte integrante dessa cultura. Mas adquiri informação pra saber, por exemplo, que se eles não fossem tão branquinhos (branqueador químico que polui os rios e as águas em geral), teriam menos impacto sobre o meio ambiente.

Putz, é difícil, mas refletir sobre isso tem que fazer parte de nossas agendas. Porque, se não, o que será do futuro desses bebezinhos lindos que colocamos no mundo?




4 comentários:

  1. OMG "Time is money" ... e nada como uns bons números para reforçar uma argumentação.

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  2. Cristine, quanto aos absorventes vc não conhece os copinhos de silicone? É uma maravilha, não consigo mais me imaginar voltando para descartáveis.

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  3. Pois é, Carla! Tem um monte de gente comentando sobre eles ... vou me informar e colocar algo aqui. Obrigada!

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