segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Amamentação x mamadeira ilustrando colóquio internacional de História da Arte



Recentemente uma amiga compartilhou no Facebook esta imagem, cartaz de um colóquio internacional de História da Arte, ocorrido em uma universidade mexicana.

Muito me impressionou a perspicácia do autor ao conceber uma imagem representativa do assunto do encontro, "Os estatutos da imagem",  abordando a questão amamentação x mamadeira. Por isso, penso que este cartaz inspiraria - só ele, ainda um outro encontro, para discutir o conflito entre ser mãe e ser mulher (aliás tema do mais recente livro de Elisabeth Badinter, que começo a ler).

Decupando a estampa:
1. a base é um detalhe de pintura renascentista;
2. a fotomontagem consta da inserção de uma mamadeira sob a mão do bebê;
3. o corpo desta mamadeira recebe tratamento gráfico De Stijl (Mondrian), um movimento artístico iniciado na Holanda que buscava na geometria uma conexão estética, científica e espiritual com o cosmo;
4. as cores do quadro foram revertidas para o preto e branco;
5. apenas o corpo da mamadeira exibe cores, atraindo o atenção do observador pra o produto e elegendo-o como foco principal na hierarquia da mensagem visual.

Na leitura que fiz de imediato, senti desconforto com a simultaneidade da presença do seio e da mamadeira. Mas depois percebi ser justo este desconforto o que capacita a imagem à discussão do tema do colóquio. Vivemos este dilema contemporaneamente. O seio materno prossegue produzindo alimento para os bebês, mas temos a mamadeira, e seu apelo estético suplanta o apelo do seio. A "natureza" da mamadeira é coerente com a "natureza" do mundo transformado pela indústria, pelas "coisas" que fazem coisas por nós. O estatuto do seio foi deslocado da função de alimentar para a função de seduzir.

É muito legal quando as imagens nos trazem questões, e não respostas. E isso tem se tornado cada vez mais raro hoje em dia, restrito a círculos cultos, intelectualizados. O comércio e a publicidade, com suas imagens prontas, bidimensionais, nos incapacitam à reflexão e tendem a reinar como única via estética.

As imagens podem e devem perturbar.


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