sexta-feira, 18 de abril de 2014

Notas (um pouco aleatórias) sobre o curso "O consumismo infantil - danos no presente, ameaça para o futuro" - aula 1

Ministrado pelo pediatra Daniel Becker, por Laís Fontenelle - do Instituto Alana, e por André Trigueiro, jornalista, este curso ocorrido na Casa do Saber deixou - na minha opinião- uma marca bastante original: a perspectiva macro sobre o assunto. Num momento em que tudo tende ao foco, em que parece se estar dependente de recortes para ir fundo nas questões, sermos brindados com uma lente grande angular é um luxo, principalmente porque dela depende o real entendimento de muitos problemas.

Eu me lembro da fala do Prof. José Maria Gomes em minha defesa de tese: "Por mais incrível que possa parecer, a mamadeira é efetivamente uma questão das Relações Internacionais". É sim, e de todas as áreas do conhecimento também. Considera-la como objeto de estudo restrito à área da saúde é não vê-la e não entende-la devidamente. A perspectiva macro pode ser arriscada (ah, vai se perder...) mas sem ela se corre o risco de não reunir elementos suficientes para uma análise crítica.

Vou fazer três posts, um sobre cada aula, pois a carga de informação foi muito grande e assim acredito que me organizarei melhor.

O Dr. Daniel iniciou citando que a descoberta dos micróbios e bactérias (que estão fora do nosso corpo e são invisíveis) e a criação da penicilina (vacinas e antibióticos) propiciaram que males externos ao organismo humano pudessem ser tratados. Mas essa lógica da medicalização persiste até hoje, mesmo depois de nosso estilo de vida ter mudado ao ponto de os males dos quais sofremos não serem mais externos, mas sim muitas vezes internos, resultantes do estilo de vida que assumimos. Por exemplo, as doenças cardíacas são provocadas por hábitos alimentares, falta de exercícios físicos, tabagismo. Mas a lógica prossegue sendo a de medicalizar esse mal ao invés de mudar esses hábitos, nos colocando como sujeito da frase "eu não participo da minha própria cura".

As indústrias farmacêutica, estética etc. tomam o lugar do novo Messias, e a salvação se realizará pelo consumo de seus produtos, motivo para os fenômenos contemporâneos da medicalização da vida, da mercantilização e estetização da saúde.

Daí ele falou do sol, da importância do sol para a vida de todos, do quanto a chegada do filtro solar nos afastou do convívio com seu calor, com as benesses que ele nos dá. Todo mundo com medo do sol, se preservando do câncer de pele. Sim, há que se preservar a pele da exposição abusiva, nos horários em que ele não é legal, mas muitas pessoas fogem do sol, eliminaram a exposição ao sol de suas vidas. Nossa, daí ele falou uma coisa que me abalou muito: tomar suplementos de vitamina D não resolve porque o que o sol nos dá é muito mais do que isso. E se a uma mulher faltam as vitaminas proporcionadas pelo sol, quando ela engravidar, não as terá para transmitir ao seu filho (!!!!).

Muitas coisas importantes foram ditas naquela noite. Registro aqui aquilo que foi mais impactante pra mim.

E, de tudo, o que mais me estremeceu foi ouvir em uma frase aquilo que percebo dia após dia, e que resume a urgência de mudança de postura de todos nós perante a vida: as elites financeiras, diante da crise ambiental e de quaisquer crises, farão de tudo para manter seu status quo, utilizando como estratégia o princípio de negação de todo e qualquer problema.

Naquele momento baixaram na minha cabeça a lembrança dessas imagens de uma campanha da marca Diesel, de alguns anos atrás. Eu me arrepio só de pensar, porque o fato é que coisas análogas a essas já cansam de acontecer.







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