domingo, 29 de setembro de 2013

Grande indagação, praticamente um aforismo

As mamadeiras e os leites artificiais existem porque as mães não conseguem amamentar?
Ou as mães não conseguem amamentar porque as mamadeiras e os leites artificiais existem?
Cariny Cielo


Outro dia recebi esta frase-reflexão nos comentários de um post.
Ela é muito bem formulada:
- documenta o sistema em que nos inserimos, trazendo o sentido de dependência entre os fatores de cada formulação;
- expondo o fato de que as formulações se complementam numa equação que ilustra, ao mesmo tempo, o dilema das famílias e o tamanho do gigante contra o qual a prática da amamentação se depara.

Um convite ao pensamento crítico.

Aproveito para comunicar que estão em andamento as conversações para um lançamento do livro "Amamentação e o desdesign da mamadeira" em São Paulo, no início de dezembro, e em Porto Alegre, para começo de 2014.

domingo, 15 de setembro de 2013

Amamentação e o desdesign da mamadeira - o lançamento do livro



O lançamento do livro foi uma delícia :o)

Amigos queridos, "comparsas" de projeto, família, alunos, novas pessoas também, que se interessaram pelo tema e apareceram lá.

Não quero aqui citar nomes, porque ficaria complicado (eu iria querer falar longamente de cada uma dessas pessoas e isso me tomaria o dia inteiro). Fica meu agradecimento aos que foram e aos tantos que não puderam comparecer (mas que me deram uma força enorme em todo o processo), e ainda aos que divulgaram o livro pelas redes sociais. Junto a ele, as imagens e a resenha pra lá de especial que chegou antes mesmo do dia do evento.










Uma característica quase comum a todos os mamíferos que se dedicam ao estudo da amamentação é permanecer antenado cada vez que surge um novo texto ou evento, ou fato ou comentário sobre o tema.
 “Amamentação e o desdesign da mamadeira” é um livro.
Deparei com meu exemplar durante passeio pelas centenas de stands da ultima Bienal do Livro no Rio de Janeiro.
A autora é Cristine Nogueira Nunes.
Médica?
Não.
Enfermeira?
Também não.
Fonoaudióloga?
Igualmente não.
Psicóloga, Fisioterapeuta, Doula, Terapeuta Ocupacional, Educadora Perinatal, Gestora?
Nada disso.
Cristine é Designer “formada pela ESDI/UERJ, com mestrado e doutorado em design pela PUC-Rio, onde é professora desde 1993”, conforme afirma em seu blog mamadeiranuncamais.blogspot.com.br.
Designer?
Estou ficando velho demais.
Ou pronto demais para entender Sócrates em “só sei que nada sei”.
Sempre associei à palavra designer a outra: supérfluo.
Designer, na minha ignorância estupida que insiste em me acompanhar, sempre associei com frescura, coisa sem importância, argumento da indústria pra me fazer trocar de carro ou comprar coisas de que não necessito.
E ali estava eu em plena Bienal do Livro diante de um livro de titulo provocador e significado absolutamente desconhecido meu.
Mas afinal de contas que coisa é essa? Desdesign?
Como pode um profissional que lida com o tema Aleitamento Materno ficar diante de um livro cujo significado lhe é completamente incompreensível?
Aconselho àqueles que se sentirem provocados diante dessa situação angustiante a seguirem meu conselho: comprem o livro, leiam o livro.
Cristine tem uma linguagem ao mesmo tempo grande e fácil.
Uma Designer quando é lida por médico que desconhece sua linguagem técnica é extremamente atenciosa ao procurar ser clara e amigável. E nisso a Cristine me conquistou.
Rosana De Divitiis fazendo a Apresentação do trabalho?
Nossa.
A coisa então é séria. 
E tem pedigree.
Rosana não assinaria uma apresentação que não fosse absolutamente idônea e coerente. Muito menos quando a palavra mamadeira aparece no titulo.
Agora mais que nunca é necessário desvendar esse desdesign.
Nada mais grave que se sentir analfabeto diante de um livro.
Desdesign.
Se o design da mamadeira é causador de tantos problemas tão amplamente conhecidos e discutidos por amamentólogos e simpatizantes durante tantas décadas, com que direitos e prerrogativas designers do mundo inteiro se arvoram a construir esse produto tão lesivo e, usado em larga escala e sem nenhum controle, extremamente perigoso, quase um crime?
A prática do desdesign, da forma como eu a entendi, provoca uma rediscussão do design das mamadeiras e da necessidade de “desfazer grande parte do que fora feito com a colaboração dos designers, tal a gravidade dos efeitos colaterais provocados”, conforme texto da autora no livro.
O Design da mamadeira tem servido à indústria do desmame desde o inicio, tem se associado ao grande capital multinacional das fórmulas infantis, ignorando o bebê humano que a utiliza e os males, cientificamente provocados, que causa.
O desdesign da mamadeira começa com conceitos da história da mamadeira desde os primórdios da vida, quando não passava de um chifre que era como um funil para oferecer leite àqueles bebês impossibilitados de mamar na sua mãezinha, e na história sempre haverá bebes assim, e passa pelas mais diversas abordagens clínicas, politicas, do cenário mundial, dos processos de alimentação de bebes e da produção industrial.
Uma verdadeira desconstrução do conceito “mamadeira” e proposições éticas inovadoras e assustadoramente alvissareiras.
“Desconstruir, desfazer, desmontar, desconfiar, desestabilizar, descobrir, desacolher, desafeiçoar, desafiar, desapropriar, desautorizar, descompor, desdobrar, desenvolver. Espera-se que o desdesign da mamadeira aqui empreendido tenha a força do dicionário em que se encontram essas palavras que tanto inspiram a inventividade e a responsabilidade por aquilo que se cria”, diz a autora.
Ler fatias saborosas deste livro me tornou menos analfabeto.
Desde o curso de Tecnologia em Design de Moda, da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), quando alunas desenvolveram camisolas para gestantes do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP), para facilitar o contato imediato da mãe com o bebê (
http://www.facool.com.br/noticia/view/1086), a amamentação e o design não se unem de modo tão maravilhoso e sintonizado com o que há de mais puro e recomendado pelas principais direções das ações em, prol do aleitamento em todo o mundo.
Cristine, voce me conquistou definitivamente desde seu livro.
Obrigado por facilitar conceitos tão complexos e inacessíveis a nós outros, profissionais de outras áreas.
Obrigado por unir técnica e paixão, ciência e poesia.
Volto agora à leitura de meu exemplar enquanto vou buscar desconstruir um pouco desses meus conceitos desastrados mas que com ajuda certa e palavra firme e bem fundada, tem tido a possibilidade de sobreviver sem se asfixiar na escuridão obsoleta dos próprios desastres.
Desdesign já.
Com carinho,

Luis Tavares