É preciso compreender o processo da lactação e transitar também por dados bioquímicos para entender o que motiva a luta pelo controle da comercialização de fórmulas infantis e de apoio ao resgate da prática da amamentação[1].
98% do leite são produzidos na hora, a partir da sucção. A ocitocina é o hormônio responsável pela contração das células que envolvem os alvéolos no seio e é também “disponibilizada em resposta a estímulos condicionados, tais como visão, cheiro e choro da criança e a fatores de ordem emocional, como motivação, autoconfiança e tranquilidade”. Vale dizer que, ao contrário do que se imagina, a “descida do leite” pode acontecer até o terceiro ou quarto dia após o parto, ou seja, o fato de o leite não verter imediatamente não é sinal de anormalidade.
A continuidade da lactação é viabilizada pela sucção e pelo esvaziamento das mamas. Quando elas não são esvaziadas, pode haver inibição mecânica e química de novas quantidades de leite.
Assim que a criança nasce, a secreção de leite é menor que 100 ml por dia. No quarto dia essa vazão tende a aumentar para 600 ml.
Na amamentação, o volume de leite produzido varia, dependendo do quanto a criança mama e da frequência com que mama. Quanto mais volume de leite e mais vezes a criança mamar, maior será a produção de leite. Uma nutriz que amamenta exclusivamente produz, em média, 800 ml por dia no sexto mês. Em geral, uma nutriz é capaz de produzir mais leite do que a quantidade necessária para o seu bebê.
“O leite humano é muito mais do que uma fonte de nutrientes, é uma substância viva de grande complexidade biológica” (Almeida citado por Novak em curso no IFF, conforme nota 1), constituído por 250 elementos químicos adequados à espécie: energia, proteína, caseína, lipídeos, carboidratos, vitaminas A, D, E, K, C e B 12, tiamina, riboflavina, niacina, piridoxina, folato, cálcio, fósforo, ferro, zinco, água, sódio, cloro e potássio. Para produzir um mililitro de leite, cinco litros de sangue da mãe são escalados.
Tais elementos se organizam em uma emulsão composta por 87% de água e 23% de gordura uniformemente distribuída numa suspensão verdadeira, graças a uma membrana fosfolipoproteica que envolve a gordura, permitindo que ela se misture homogeneamente aos demais elementos. Essa “gordura empacotada” já vem com a enzima necessária à sua dissolução no trato gastrointestinal do bebê. Devido à grande percentagem de água no leite materno, não é necessário administrar quaisquer líquidos complementares à dieta da criança amamentada durante os quatro a seis meses de vida, como reza a orientação da Organização Mundial da Saúde.
Presentes nessa solução estão anticorpos, carboidratos, minerais e vitaminas. No leite humano, os anticorpos são humanos, compondo 30% de caseína (proteína provedora de aminoácidos livres, cálcio e fósforo) e 70% de proteína do soro (lactofeína e imunoglobinas). Essa proporção é diferente no leite de vaca (60% de caseína e 40% de proteína do soro), onde os anticorpos não são humanos. A maior quantidade de proteína no leite de vaca influencia positivamente o aumento de peso da criança que o ingere. Porém, os rins dos bebês não são preparados para receber tal cota extra.
Pode-se dizer que, ao ser amamentado, o bebê recebe como que uma “entrada”, um “prato principal” e uma “sobremesa”. Ou seja, o leite humano do início da mamada é menos gordo, trazendo os fatores de proteção; logo vem a suspensão com proteínas, e, ao final, a emulsão com a gordura — onde está o beta-caroteno (vitamina A) que hidrata o bico do seio, evitando fissuras. Após seis meses de aleitamento, o leite vai ficando mais salgado, preparando o bebê para a alimentação que virá, o chamado desmame bioquímico.
Quando congelado, o leite materno pode durar até 15 dias; se pasteurizado, o prazo se estende para seis meses. A pasteurização visa impedir o desenvolvimento de bactérias, grave problema de qualquer tipo de leite.
Quando nascemos, somos extremamente vulneráveis a infecções. Temos muitos “inimigos” querendo penetrar no nosso organismo e somente um “aliado”: o leite humano. Nos seres humanos, as taxas de anticorpos presentes no sangue são muito altas, e grande parte deles pode ser transmitida pelo leite materno: ao mamar, a criança recebe a experiência imunológica acumulada durante toda a vida de sua mãe. Daí a recomendação da OMS para que o aleitamento comece na primeira hora de vida da criança, visando imunizá-la. Também destoando do saber leigo, não há alimento melhor para prematuros do que o leite materno.
[1] Grande parte das informações deste capítulo foram obtidas na aula do pesquisador Franz Novak, no curso “Amamentação: a relação entre o biológico e o social”. Instituto Fernandes Figueira – IFF, Dezembro de 2008.
[2] Saúde da Criança: nutrição infantil. Cadernos de Atenção Básica. Editora Ministério da Saúde, Brasília-DF, 2009.
Cristine,
ResponderExcluirGostei muito do seu blog e quero te convidar para participar do Grupo Virtual de Amamentação no orkut-
http://www.orkut.com/Main#Community?cmm=52101
Cujos princípios são semelhantes ao material que você posta no blog. Seria excelente se você postasse seus artigos lá!!
Grata desde já,
Andréia Mortensen
Andréia,
ResponderExcluirFico muito feliz com seu comentário e motivada a aceitar seu convite. O fato é que tenho pouca intimidade com essas ferramentas ... mas vou consultar as minhas bases (filha, amigos) e assim que tiver alguma notícia farei contato.
Beijos
Cristine