Em todas as ocasiões em que a pesquisa foi apresentada (congressos, conferências, aulas) a reação das plateias foi de grande surpresa e estupefação. As informações fornecidas contrariam radicalmente o que as pessoas pensam sobre o produto e sua aura, levando-as a lembraram-se dos momentos em que a mamadeira foi por elas usada. Ato contínuo, as pessoas revisam esses momentos e a partir de então sua atenção se fixa no que é dito a respeito.
Com os professores de design não foi diferente, e abaixo estão destacadas algumas de suas exclamações:
— Eu aceitaria o projeto de uma mamadeira há uns tempos atrás, feliz... Meu Deus! […] A gente muitas vezes está totalmente cego […]. Pouco sobra da mamadeira depois de uma apresentação dessas. […] Depois desses dados, começa mesmo a virar um objeto nefasto, perigoso.
— Todas (as mamadeiras) parecem extremamente assustadoras […], são 36 partes diferentes, ótimas para juntar sujeiras, bactérias […]. Nada melhor do que peito.
— Esse é um objeto que não serve pra nada. Se pode jogar tudo fora.
— A mamadeira inclusive deve ser eliminada.
Relatos pessoais, algumas vezes, documentaram posturas assumidas pelos participantes no papel de consumidores ou potenciais consumidores à época em que tiveram seus filhos:
— Já dei muita mamadeira para meus filhos, brinquei de boneca (lhe dando mamadeira) achando que estava treinando para ser a mãe mais devota do mundo.
— Quando tive minha primeira filha, na Clínica São José, quando eu recebi alta, eu recebi de uma irmã de caridade, de chapelão ainda, uma cesta. Essa cesta, muito bonitinha, com laçarote inclusive, com duas latas de leite em pó e duas mamadeiras de vidro. Eu tinha leite a mais não poder. Até o sutiã que levei para a maternidade não foi suficiente e tiveram que fazer um sutiã de fralda. Eu doei leite também para os prematuros. Quer dizer, foi colocada no meu colo essa cesta, que não deixava de ter seu aspecto sedutor, pois vou poder tomar um banho em paz, vou pedir pra alguém dar aquela mamadeira... E não era uma questão social, de necessidade minha, era um mecanismo — como você apontou, de formação de comportamento na hora do nascimento, com a legitimação da casa de saúde, das irmãs de caridade etc... tá tudo bem!, dar mamadeira é legal! Ainda está abençoada, ou seja, uma coisa vista com bons olhos.
— A gente saía da maternidade com brindes da Nestlé e uma lata de Nanon. Quando vejo as informações da apresentação, são coisas muito diretamente ligadas à minha própria vida, porque eu optei por ser um pouco bicho-grilo porque eu queria ter parto normal e amamentar.
— Eu tive dois filhos. A primeira eu amamentei sem problemas, ela tinha uma facilidade de pegar o bico. Porque é um talento! Não só a mãe, mas o bebê tem que ter um talento pra sugar. O meu segundo filho não tinha esse talento. Era uma guerra. […] tinha alergia ao leite de vaca industrializado, Nanon. O da teta da vaca parou a alergia dele. O médico achou que eu era maluca, é aquela história de não seguir as instruções. Eu não segui porque o menino não dormia de noite, não comia... Não era um problema de mamadeira, era com o alimento.
— Não lembro exatamente o que ocorreu, mas houve um problema com minha esposa que a minha filha não conseguia ser amamentada corretamente. […] Senti que quando ela (a criança) descobriu a mamadeira, correu pra mamadeira: vamos na mamadeirinha que é mais fácil.
Esses trechos ilustram o quanto a mamadeira é um produto comum, corriqueiro, parte da vida de todos mesmo quando se opta por não utilizá-lo. E os motivos que conduzem a tal postura não têm relação com a problemática apresentada, mas com decisões intuitivas das pessoas em momentos de necessidade.
A total surpresa com as informações apresentadas confirma a desinformação de grande parte da sociedade sobre os problemas vinculados ao produto mamadeira, ou seja, sobre os problemas que conduziram a ciência a assumir o paradigma atual, fruto de movimentações em âmbito internacional que não conseguem alcançar as pessoas a contento.
Oi, Cristine, muito bom o blog, Parabéns!
ResponderExcluirOlha, ainda continuando neste ramo do "design" (não conheço a fundo esta área), mas eu e meu marido ficamos incomodados com as novelas, principalmente as da Globo, pois tem grande influência no comportamento das pessoas, sobretudo as menos esclarecidas. O fato é que quando aparece um bebê, sempre ele de chupeta e sempre tem alguém pra dar mamadeira pra ele. Agora mesmo está passando isso em "ti ti ti", pode ver até nos comerciais passa um bebê com uma chupeta com uma cordinha colorida e tal.
Gente, isso é um absurdo!!!
Bjs
Oi, Elma! Realmente o que você diz é um fato. Quando estamos ligados na questão, parecemos antenas e percebemos essas cenas. Mas para a maioria das pessoas a coisa "passa batida", e um apoio a mamadeiras e chupetas acaba sendo absorvido por osmose pelo público. Mas venho percebendo também um esforço em alguns programas, mesmo em novelas, e telejornalísticos. Vou dedicar meu próximo post a esse assunto, reunindo coisas que já venho colecionando. Obrigada!
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