Há quarenta anos, numa maternidade da periferia de Bogotá, a
natureza conseguiu ser ouvida em meio aos apitos descompassados de uma Unidade
de Terapia Intensiva cheinha de “almas apressadas” - aqueles bebês que nascem
antes de estarem prontos para sair do corpo de suas mães.
Há quarenta anos a natureza conseguiu ser ouvida em meio a
todos aqueles aparatos tecnológicos, criados justamente para tentar substituir
artificialmente os corpos das mães, seu calor, a nutrição que proporcionam. Só
que, com o tempo, aqueles aparatos se “naturalizaram” como destino para todos
os prematuros, muitas vezes um destino muito cruel para as almas apressadas.
Alguns ouvidos atentos escutaram o barulho da solidão
daqueles bebês, e o tom grave e contínuo da melancolia das famílias que se iam,
sem acreditar num futuro. Esses alguns
ouvidos também mediram a distância que separava aqueles dois sons.
O fato é que esses alguns ouvidos escutaram além dos apitos
descompassados, por dentre aqueles apitos, em volta deles: havia muitas, muitas
outras notas. Pararam então para escrever o que ouviram em uma partitura cheia
de desobediências àquelas regras que tinham se naturalizado.
Aos poucos foi-se abrindo espaço para os tons de delicadeza,
de suavidade e cuidado. Eles soavam baixinho, mas com tal harmonia que
conseguiam desconcertar os apitos, superando-os em efeito.
Era a distância a responsável por aquele barulho que alguns
ouvidos escutaram. O corpo da mãe havia, o corpo do bebê havia, o do pai havia,
o dos avós e irmãos havia.
Era a distância ...
Livre dela, a natureza se fez ouvir, em toda a sua
simplicidade e grandeza.
Essa sinfonia hoje soa livre ao salvar as vidas das almas
apressadas.
Muito, muito obrigada, alguns ouvidos.
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