Menina ainda, eu decretava: não quero ser como minha mãe, que dedica a vida a proporcionar aos filhos o dia seguinte. Acordando as crianças, pondo o café, levando na escola, arrumando o almoço, passando os uniformes, mandando as crianças escovarem os dentes...
Enquanto isso, meu pai se arrumava todo, saía cedo naquele terno impecável e só retornava à tardinha, cansado e cheio de exigências à minha mãe e também a nós, filhos.
Eu não tinha ali um exemplo pra me espelhar... não me via frente ao fogão e àquele sacrifício todo de minha mãe pela família. E nem como ele, todo profissional e muitas vezes arrogante conosco.
Custei muitos anos a trajar um vestido; a roupa mais simples do mundo foi meu figurino por toda a juventude: calça de brim, camiseta branca e tênis. Quem era eu? Sei lá..., e me enfurnei naquele monte de livros que traziam algum descanso pra minha pergunta, alguma perspectiva.
Estive distante do blog porque meu pai morreu. Minha mãe havia morrido há quase um ano e me ocupei em preocupações e alguns cuidados ao meu pai, que decaiu dois dias depois da ida dela. Quando ele se foi, há poucos dias, é que realmente senti que nenhum dos dois está mais aqui. A cabeça pira, viu? Mesmo eles sendo bem idosos, mesmo sendo um alívio vê-los parando de tanto sofrer com as doenças que enfrentaram, a vida escorrendo de seus corpos.
A cabeça pira, e as fichas vão caindo, uma a uma, até sei lá quando.
Mas como hoje é Dia das Mães - uma data que nunca comemorei, por seu sentido comercial- utilizo esse espaço pra dizer que providenciar o dia seguinte da família é uma das mais nobres tarefas a que uma pessoa pode se dedicar, uma demonstração do valor que se dá à vida daqueles que não somos nós, uma marca que fica pra sempre naqueles que disso usufruíram. Mesmo que não percebam de pronto.
Nesse mundo tão maluco que a gente vive, expresso aqui meu profundo respeito a todas as ações de cuidado, de respeito, de atenção aos outros. E isso se realiza a cada instante da vida de mulheres e homens, com ou sem filhos, antes mesmo de tê-los projetado, mesmo depois de já tê-los perdido, e mesmo sem tê-los cogitado ou não os ter podido realizar por qualquer motivo.
Que esse dia sirva pra gente se aproximar daquilo que somos, sem panelas, sem ternos, sem vestidos: nus.
Aos meus pais, meu agradecimento pelo ingresso nessa grande aventura e minha compreensão pelo sentido de nossa história.
A vocês, todo o meu respeito.
Ô querida Cristine, que bonita reflexão!!
ResponderExcluirFique bem, amiga, todo meu respeito a você também!!!!
bjs
Ana Basaglia
Beijos, querida.
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