Quando passei pela qualificação, no doutorado, procurei por meu orientador e lhe confessei que os conselhos que recebi da banca que me avaliou, apesar de valiosos, não correspondiam àquilo que eu desejava realmente fazer com a sequência de minha pesquisa sobre a questão das mamadeiras. Ele me ouviu, e como de costume respeitou minha inquietação. Mas julgou que não seria ele a pessoa mais indicada para dizer algo de realmente útil naquele momento, que havia outra pessoa - a quem eu nunca antes houvera recorrido - capaz de me orientar rumo a uma real diretriz.
Marquei com ela. Não a conhecia. Desfiei o meu rosário, finalizando com a afirmação de que o que eu havia descoberto era que o seio materno e o leite humano eram a melhor maneira de alimentar bebês.
Eu achava que isso poderia ser a minha tese, devolver ao seio aquilo que a mamadeira lhe havia roubado: o crédito e o respeito.
O que se deu a partir de então é irrelevante para o que desejo dizer agora. Basta relatar que ela me sinalizou que esta não seria uma tese, uma tese de Design, e iluminou outros momentos da minha fala que traziam, de forma eloquente, a minha tese: a necessidade de avaliar a produção industrial, da qual a mamadeira é um exemplo.
Mas o que desejo falar é que o título deste blog, Mamadeira nunca mais, e o discurso dos defensores da amamentação contra as incursões da indústria, não é uma radicalidade. Porta, sim, uma indignação com o estado atual das coisas - a cultura da mamadeira, mas deriva do estudo aprofundado do assunto, da vivência ou observação intensiva de casos.
Eu costumo dizer que não consigo fazer apresentações rápidas do meu trabalho. Antes de dar o meu recado sobre os males provocados pela mamadeira, tenho que percorrer o histórico da alimentação infantil, as medidas tomadas pelos órgãos oficiais a partir das evidências médicas e sociais que surgiram. E quando, só então, faço a análise dos impactos da mamadeira e desvelo a falácia do discurso promocional desse produto, aí sim consigo chegar nas pessoas que me assistem. Consistentemente.
Um dia desses vi no Facebook um artigo em que algumas mães argumentavam sofrer pressão de defensores da amamentação, defendendo o seu direito de decidir livremente pelo modo com que alimentariam seus filhos, levando em conta suas questões particulares e dizendo que o discurso em prol da amamentação é radical. Como sou "gato escaldado", suspeitei fortemente que a matéria seja um estratagema da indústria, como tantas outras suas produções que se utilizam de apoios às avessas como: "a empresa tal sabe que não há ninguém mais expert em leites do que as mães e, veja você, elas recomendam o nosso".
Bom, o que posso dizer é que aqueles que defendem as benesses da amamentação não se utilizam de estratagemas, que não há interesse econômico por trás de suas palavras, ou qualquer recurso subliminar para a condução psicológica daqueles que os ouvem.
Há estudo. Há observação, vivência e evidências.
E há respeito, coisa que não há nem de longe nas propagandas nas quais nos acostumamos culturalmente a acreditar.
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