segunda-feira, 17 de junho de 2013

Informação parece mais eficaz do que coerção - caso proibição das mamadeiras na Venezuela

Esta nova matéria, do jornal La Nación, publicada em 16 de junho (ontem), trás mais detalhes sobre o projeto que pretende incrementar a Lei de Proteção, Promoção e Apoio ao Aleitamento Materno na Venezuela.

http://www.lanacion.com.ar/1592640-venezuela-busca-prohibir-las-mamadeiras

O artigo diz que aquilo que se pretende é "obrigar as mães a amamentar bebês menores de seis meses", apontando que a coerção - com multa que vai de 654 a 50 mil dólares (imagino que se diferenciem entre famílias e indústrias que insistirem em fazer propaganda de leites artificiais e mamadeiras), não é instrumento aceitável para a mudança de cultura pretendida.

A deputada Odalis Monzón, vice-presidente da Comissão da Família, defende que o objetivo é que se faça cumprir a lei de 2007, por intermédio da proibição da "promoção e publicidade de fórmulas lácteas adaptadas para meninas e meninos, assim como de mamadeiras e chupetas e demais produtos similares, em todos os meios de comunicação e demais meios publicitários com acessibilidade em território nacional".

A Venezuela, assim como o Brasil e inúmeros outros países, é signatária do acordo internacional capitaneado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, contra as investidas da indústria de fórmulas infantis e mamadeiras, cerceando suas publicidades e propagandas estabelecendo diretrizes globais de médio e longo prazo a serem alcançadas. A IBFAN (International Babyfeeding Action Network) e a WABA (World Alliance for Breastfeeding Action) são as organizações credenciadas para monitorar o controle da comercialização desses produtos e promover ações de âmbito global, como a Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM), evento anual em todos os países que assinaram o acordo.

Daí a gente pensa: poxa, uma coisa dessa importância toda e não ficamos sabendo de nada?

Essas informações estão disponíveis, e é muito fácil chegar até elas. O problema é que a força da publicidade das indústrias as suplanta. Quem vai procurar se informar mais ou quem vai duvidar de uma empresa que se diz "autoridade máxima em nutrição", como o faz a Nestlé? A tendência é acreditar nisso e nem se preocupar em questionar o que se leu, o que se viu nos anúncios lindos que ela faz, ou ainda questionar a indústria que faz coisas tão gostosas e práticas.

Então, voltando à questão da coerção, da obrigação das mães em amamentarem seus filhos... isso não faz sentido. Isso já aconteceu inclusive no Brasil, na época da medicina higienista, quando o Estado percebeu que precisávamos zelar pela saúde das crianças brasileiras para construir uma nação. Só que não deu certo porque não se obriga uma coisa dessas. O que ocorreu é que muitas mães tinham problemas e os médicos achavam que naqueles casos o leite delas era pouco ou era fraco, inventaram um nome pra isso, hipogalactia, e as indústrias se aproveitaram impetrando seus produtos, num fenômeno que ficou conhecido como "desmame comerciogênico", apoiado pelo estado.

Eu fico aqui pensando -e minha ideia deriva do efeito que minhas palestras provocam nas assistências- que se a Venezuela (e quem dera todos os países) investisse em dar à sua população a informação sobre o problema, retirando os véus que nos cegam (denunciando mesmo as indústrias e seus estratagemas de persuasão, e porque não dizer de coerção em que se consuma seus produtos), as pessoas teriam infinitamente mais chance de mudar sua conduta o que, em somatório, resultaria na mudança de cultura tão urgente.

Porque leites artificiais e mamadeiras são produtos tão nefastos como o tabaco (e muitos outros que se eternizam incólumes), com a diferença de que quem fuma pode até ter começado a fazê-lo sob influência, mas o faz por suas próprias mãos.

4 comentários:

  1. Oi Cristine,
    Acompanho teu blog e tua luta.
    Ela se tornou minha desde q engravidei e a primeira pergunta foi...qual mamadeira vc quer ganhar?
    Fiquei perplexa
    Mas como sou excecao e nem no Brasil moro mais, me calei.
    De ferias vi o recall de shampoo Johnsons, no Brasil vao levar 4 anos pra tirar o produto quimico que causa cancer, aqui no Canada ja tiraram das prateleiras.
    Aqui pude optar pela parteira ou obstetra e fiquei com a primeira opcao por querer um parto mais natural possivel.
    Entao partindo de toda a visao natureba q o Canada tem achei q seria mais protegida dessa industria nefasta infantil.
    Ledo engano.
    Ontem quase morri e lembrei de vc.
    Fui comprar uma calca de gravida pra trabalhar. Achei a calca com desconto feliz da vida.
    No pagamento a vendedora toda gentil me fala q como sou nova cliente ganharia uma AVENT. Isso mesmo, vc compra uma calca e ganha uma mamadeira.
    Meu queixo caiu
    Eu tava sem fala, ai ela pegou meus dados e discursa: nao preocupa com a mala da maternidade vc vai receber em casa essa MOCHILA, da NESTLE com mais mamadeiras e formulas pra te ajudar nessa fase.
    Quase enfartei
    Quase voei no balcao pra bater nela
    Nao o fiz pq a barriga ta grande e nao permitiu. Mas hj com certeza a lj vai receber um email bem desagradavel.
    Me senti tao pequena e impotente diante da industria e da manipulacao q nem sei.
    Mas nao desanimei. Vou continuar lutando contra e reclamando de tudo e de todos.
    Espero q em breve eles acordem aqui pra isso e se proiba tantos bombardeios publicitarios, q nem eh o caso da Venezuela.
    Abs
    Marcia

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  2. Márcia, estou muito impressionada com o seu relato.... o que sugiro é que você procure a IBFAN canadense e denuncie isso. É a rede internacional que monitora o Código Internacional de Substitutos do Leite Materno. Ibfan (International Babyfood Action Network). E agradeço muito se puder prosseguir me enviando notícias, pois o assunto deve virar post aqui (mais dados seria bom, mas a IBFAN será o passo agora, eles têm meios de agir sobre esse abuso). Obrigada

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  3. Oi Cristine,
    Vou procurar saber como denunciar eles.
    Pq tenho certeza q essa pratica eh ilegal, mas nao desisto.
    Vou te manter atualizada sim.
    Abs

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