domingo, 6 de novembro de 2011

Parto normal x parto cesário


Recebi de um ex-aluno (muito querido) a dica desse vídeo. Trata-se do trailler de um filme que estréia em março de 2012. Acrescento a ele trecho da minha tese "O desdesign da mamadeira":

Desde o começo da humanidade, as crianças, logo após o nascimento eram postas ao lado de sua mãe. No começo deste século foi criado o berçário, para proteger as crianças contra as infecções hospitalares. Após a Segunda Guerra Mundial, pensava-se que a mamadeira era a melhor forma de alimentação e esta era dada ao recém-nascido antes mesmo que ele saísse do hospital, sem que se soubesse por exemplo, quase nada de imunologia nessa época. E através do berçário, conseguiu-se interferir em uma coisa fundamental: o relacionamento precoce entre mãe e filho. […] Logo após o bebê nascer, alguém o enxuga, retirando todo o líquido amniótico e o verniz caseoso, cuja função é a de proteger e hidratar a pele sensível do recém-nascido. Em alguns hospitais, dá-se um banho de chuveiro, aspira-se o bebê com uma sonda, vira-se o bebê para todos os lados e, se ele não chora vigorosamente logo após o nascimento, ainda recebe umas palmadas, pesa-se, mede-se. (Citando Martins) Em alguns casos, num arroubo de preocupação afetiva, tem-se o cuidado de mostrar a criança rapidamente à mãe, que tenta desesperadamente, durante breves momentos, olhar seu bebê... […] É então levado ao berçário, onde são feitos os registros de suas condições físicas e recebe uma pulseira com o número que o identifica. A única coisa que não fazem é levar a criança para ser amamentada. (Araújo, 1997, p. 41-43)

O auge da força da sucção, que se dá na primeira meia hora após o nascimento, é desperdiçado quando o bebê é levado ao berçário, onde, muitas vezes, ele recebe fórmulas lácteas. Embora hoje a orientação se volte para a humanização do parto e para políticas públicas de incentivo ao parto normal[1], infelizmente persiste em muitos hospitais o afastamento do bebê.

A conduta de muitos obstetras e pediatras reforça a persistência dessa mentalidade. As “saídas fáceis e práticas” do parto cesáreo e da administração de leites artificiais entram no lugar do encorajamento e do apoio ao enfrentamento de realidades contraditórias e em permanente transformação (p. 45-46).

A autora, citando Paulete Goldemberg, aponta a necessidade de considerar a influência das transformações históricas sobre a sociedade para se diagnosticar as causas reais do desmame. A adesão ao leite em pó, ao nível das representações, concede à mulher “um sentimento de pertencimento social e de acesso aos benefícios gerados pela sociedade” (p. 54-55). Recorrendo a Edgard Morin e Moscovici, Lylian Dalete Soares de Araújo sublinha que a cultura de massa tem a capacidade de fabricar pseudo-necessidades que se transmitem de geração a geração de forma automática (p. 62-63). O poder simbólico agregado aos produtos que desenham um estilo de vida gera comportamentos que tendem a desmotivar a busca pelo conhecimento dos processos humanos, deflagrando correntezas difíceis de vencer.


[1] Campanha de incentivo ao parto normal do Ministério da Saúde, 2009.

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