É com muita alegria que apresento o símbolo que desenvolvi para comemorar os 40 anos do Método Mãe-Cangurú.
Tenho me dedicado a desenhar de uns tempos pra cá, e ao receber a honrosa encomenda do querido Dr. Marcus Renato de Carvalho, pensei que só mesmo um traço livre -sem a precisão e regularidade proporcionadas pelos softwares gráficos- poderia traduzir com simplicidade a riqueza da ação praticada pelos médicos colombianos Edgar Rey Sanabria e Héctor Martinez Gómes em 1979: reautorizar a natureza naquilo que no decorrer dos anos lhe foi descredenciado pela tecnologia.
Reproduzo aqui trecho de um artigo que escrevi (já publicado no blog), contando essa história:
No
Instituto Materno Infantil (Bogotá - final da década de 1970), os bebês prematuros
e de baixo peso eram colocados em incubadoras, onde recebiam sondas,
respiradouros e alimentação com fórmulas lácteas. Poucos sobreviviam. A equipe
de pediatras observou que as mães ficavam apartadas dos cuidados aos bebês,
apenas podendo vê-los através do vidro da unidade neonatal da instituição.
Desejosos por alterar aquele quadro, esses
médicos decidiram coletar o leite das mães para oferecê-lo às crianças. A
ingestão de leite humano, como se esperava, melhorou a capacidade vital dos
pacientes e os índices de alta hospitalar subiram. Mais adiante, esses médicos
se inquietaram com o fato de que, sob essa nova conduta, as mães ainda permaneciam
distantes de seus filhos durante o tratamento. Então, contrariando o protocolo
de segurança em vigor em hospitais, a equipe ousou convidar as mulheres a
entrarem na UTI para amamentar seus filhos, o que melhorou ainda mais a
perspectiva de vida dos pequenos. Por fim, e mais adiante ainda, os pediatras
perceberam que, com um eficiente controle ambulatorial, para muitos daqueles
bebês a incubadora poderia tornar-se dispensável. Bastava que suas mães os mantivessem
permanentemente junto ao seu corpo, levando sua vida normal: o contato pele a pele
era mais eficiente para aquecê-los, a batida do coração da mãe ritmava a dos
pequenos, o acesso livre à amamentação os alimentava, e o amor da mãe ou do
familiar que assim o acolhesse surtiria excelentes efeitos para o seu
desenvolvimento.
O
método consistiu da retirada de tudo aquilo que se interpunha entre a mãe e o
bebê, de tudo aquilo que havia se “naturalizado” como cuidado. Como observa o
Dr. Luís Alberto Mussa Tavares:
O colo materno ameaçava todo um marketing construído
em torno da infalibilidade das incubadoras modernas e sedimentado, entre outras
práticas, pelas famosas exposições públicas de prematuros vivos, eventos que
ganharam popularidade na Europa e nos EUA no início do século XX. O programa
colombiano Mãe Canguru resistiu, enfrentando todo tipo de ataques e suspeitas
(...). Nascia assim, para o mundo, uma nova esperança de cuidado e
envolvimento. Pela primeira vez o amor tornava-se uma palavra de uso clínico. A
dopamina ganhava um ilustre concorrente. A incubadora, um desafiante à altura
(Tavares, 2010: 212-213).
A Metodologia Mãe-Canguru é exemplar na comprovação de que os aparatos que se interpõem às relações humanas podem ser dispensáveis.
Que
o sortimento desses produtos não nos distancie daquilo que somos capacitados a
oferecer aos bebês: a proximidade, o alimento que lhes fará bem, uma vida menos
instrumentalizada e mais saudável.
Proximamente será lançado um site com muitas informações valiosas sobre esta data comemorativa, e a presença de Dr. Hector -a quem tive a felicidade de conhecer em Bogotá, está confirmada no ENAM 2019.
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