Na quinta-feira, dia do lançamento do livro em São Paulo, eu
até achei que fosse desmaiar no Aeroporto Santos Dumont, de tão quente que
estava no Rio. No avião, veio o refresco do ar-refrigerado, mas durou pouco:
São Paulo estava tão quente quanto o Rio e ... choveu, choveu muito forte. Isso
fez com que muita gente não tenha conseguido comparecer à Livraria da Vila.
Uma pena, mas isso não apagou o bacana do evento. Teve gente
que chegou lá antes mesmo de a chuva cair, gente que a enfrentou e aqueles que
apareceram depois de a chuva dar uma trégua. O resultado foi uma noite
memorável, colorida por pessoas importantíssimas pra mim, gente nova muito
legal, bebês dentro e fora das barrigas de suas mães e crianças de várias
idades pra alegrar a festa :o)
No dia seguinte, participei da roda de mães da Matrice, na
Casa do Brincar, e à noite saí pra jantar com uma amiga até então virtual (!).
Desses encontros e das intensas e incríveis conversas que
rolaram, muitas novas informações, conscientizações e reflexões surgem pra mim.
Uma delas é que quando uma mulher engravida, vem na cabeça a
ideia de que ela terá que parar sua vida produtiva: mais cuidados
durante a gestação que podem influenciar em seu trabalho, a licença maternidade
e o tempo que a partir daí dedicará aos cuidados com o bebê, em todas as suas
fases. Quando ela não é empregada em algum lugar, o terá que parar
permanece, diga-se de passagem.
Eu pensei desse modo nos meus tempos de gestação. Me
embaralhei toda pra enfrentar esse momento, pois me pesava de todas as formas
esse parar. E no momento de ter que voltar pro trabalho, com o final da
licença, todas as mães me compreenderão quando eu revelar que eu queria ficar
parada pra cuidar da minha filha, céus.
Parada. O que acontece com a gente, que a gente embarca tão
de cabeça nesses valores inventados pela cultura, transmitidos pela mídia e
reproduzidos pela sociedade? Serão esses realmente valores? O que
representa esse ficar parada? Caramba, ao termos filhos e zelarmos por
eles estamos exercendo uma das coisas mais valiosas que cabe a nós fazer!
Eu amo o senso crítico. Se pudesse, eu me casaria com ele
(!) Mas como é difícil a gente pensar criticamente recebendo tantas informações
que nos doutrinam pro lado dos interesses daqueles que querem nos ter bem
domados, obedientes às suas ordens....
E é por essas e outras que percebi a dimensão política da
maternidade. E o quanto ela vem sendo exercida pelas mulheres. Porque o
significado de ter um filho acorda na gente coisas que estão para muito mais
além do que a força da informação que nos cerca. Eu poderia aqui citar palavras
como o amor, mas recorro a outras, como a responsabilidade, o compromisso, o
bom senso, a integridade, esses sim valores. E nisso incluo também,
claro, os pais, homens que se transformam completamente sob a égide dos mesmos
sentimentos, embora eu saiba que muitas mulheres e homens têm filhos e
permanecem absortos em seus mundos anteriores, sem abrir espaço pra essa
revolução.
Quem me conhece, sabe que sempre procurei uma bandeira, algo
pra poder balançar, algo pelo que lutar. Mas nunca me interessei
suficientemente pelo que se me apresentava, pois política, pra mim, é direito e
dignidade. É inventividade também. É poder de inovar, mesmo que a inovação
consista em simplesmente reconhecer que aquilo de que dispúnhamos, lá atrás, é
o mais genial, o indubitavelmente melhor.
A vida é dura. E qualquer vivente sabe disso.
A felicidade até existe, mas precisamos ser muito espertos
para percebê-la e valorizá-la nos momentos fugidios em que ela nos visita.
E daí já tive outra ideia e vou colocar aqui um poema que
escrevi para Marise Maio. Meu livro é dedicado postumamente a ela, que morreu
precocemente, não sem antes me proporcionar uma amizade intensa, interrompida,
recuperada e plena de admiração. Acho que o poema fala um pouquinho da maneira
com que a chegada de um filho pode nos dotar para uma revolução, do jeito que
uma revolução pode e deve ser:
Lutar não há de ser esperar
Não há de ser armado
De ser preparado, lutar
Lutar não há de ser ataque
Nem de ser defesa
Tampouco há clareza em lutar
Não é briga de foice
Nem com flores lutar não dá
Há de ser tonteira
Dúvida, vontade
Há que ter coragem, lutar.
E é isso. Nessa viagem eu me deparei com gente ativa, que
luta há muito ou pouco tempo contra o engodo das indústrias de leites
artificiais e mamadeiras, contra a violência obstétrica, contra a cultura que
quer nos pasteurizar, contra a terceirização da infância e a infância
invizibilizada, contra as tendências comerciais, em defesa de reais valores.
Não vou citar o nome de ninguém. Só mesmo dizer: muito
obrigada.
(problemas com inserção de imagens me impedem de colocar
lindas fotos aqui...)
Então, tb vou comentar anonimamente: queridona, foi uma honra e um prazer ter você entre a gente, nos dois dias! Estou relendo seu livro, refrescando na minha memória assuntos tão caros pra mim, pelo design, pela família, pelo grupo de apoio.
ResponderExcluirTenho certeza que sua bandeira, pela qual lutar, já está escolhida: você é das 'nossas'!!
Que seu livro possa chegar aos 4 cantos desse país, e que venham muitos outros livros (eu posso editá-los! rsrs).
Que todo mundo consiga enxergar os REAIS VALORES logo, nega, pq a vida tá dura...
Há que ter coragem, lutar.
Bjs,
A.
Estou muito feliz com tudo, Ana. Minhas anfitriãs são pessoas valiosas e foi essencial chegar mais pertinho do trabalho de vocês. Pq computador é bacana, mas nada como estarmos juntas :o) Muitos beijos e super-agradecimentos.
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